Bola ao centro, times prontos e uma série de pessoas vidradas para acompanhar o resultado. Poderia ser um enredo de qualquer partida de futebol, mas a ávida que assiste ao jogo atende por outro nome: apostadores.
Febre no Brasil, as apostas esportivas movimentam cerca de R$ 4 bilhões por ano no País, de acordo com especialistas. Dinheiro, cartão de crédito ou débito, boleto bancário e até moeda eletrônica. Você escolhe. Nesse mundo, o grande produto é justamente quem aposta, imerso nos quase 500 sites estrangeiros, dos quais cerca de 10% são traduzidos para o português. Eles operam livremente no Brasil por terem servidores hospedados em outros países, não sendo submetidos a Constituição nacional. Isso faz com que essa atividade drible a lei brasileira, sem sofrer nenhuma marcação.
No Recife, as apostas despertam não só a curiosidade, mas também a paixão dos torcedores. Unir o fanatismo com a chance de ganhar um dinheiro extra enche os olhos de muitos, mas também pode esvaziar os bolsos. Este é o caso de Luiz Carlos, jogador de futebol profissional, no momento sem clube, que já chegou a perder R$ 600 por semana com seus palpites. Ele alerta: quem diz que ganha mais que perde está mentindo.
"No começo era cerca de R$70, R$80 por semana. Depois que comecei a pegar a manhã, empurrei o pé; mas também já ganhei premios de R$ 4 mil", afirma. Para vencer é preciso bater o chamado 'pule', nome popular do cartão de apostas, onde quem joga precisa ter 100% de aproveitamento para receber o prêmio.
Disponíveis pela internet e com bancas espalhadas tanto em periferias quanto em bairros nobres, não é difícil encontrar um local para fazer os palpites. Luiz mora no Alto do Pascoal, Zona Norte do Recife e afirma que cerca de 90% dos amigos mais próximos jogam e fazem disso um meio rápido para pagar as dívidas, já que os prêmios são pagos em 24 ou 48 horas. "O pessoal faz o seguinte: 'tenho uma conta para pagar amanhã e não tenho esse valor' aí vai na banca e joga. Mas eu tenho meu limite".
Funcionário de uma banca no Alto do Pascoal, Alef Paulo afirma que em dias de jogos de futebol o movimento é mais intenso, gerando cerca de R$ 800 em apostas por dia. "Já saiu premiação de R$ 8 mil, R$ 16 mil aqui e todo mundo foi pago, talvez com um prazo maior, mas recebem", conta.
Legislação
Preferido entre os brasileiros, o futebol
estampa os cartazes das bancas vistas pelas ruas da cidade. Com tantos
apostadores dando palpites sobre o esporte, o temor sobre a manipulação dos
resultados recai sobre as principais competições
De acordo com o professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), Pedro Trengrouse, essa é uma preocupação mundial. "A maioria
dos países já monitora os padrões das apostas e atua para coibir a manipulação de
resultados. A Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol
(FIFPro) alerta que 35% dos jogadores do Cazaquistão, 30% da Grécia, 15% da
Bulgária, 10% da Rússia, 10% da República Tcheca, 8% da Ucrânia, 7% da Polônia
e 5% da Croácia foram abordados para manipular o resultado de um jogo".
Segundo ele, a proteção ao esporte é o
principal motivo para a regulamentação da prática no Brasil, que poderia trazer
uma arrecadação de 1,3 bilhões aos cofres públicos por ano. "Proteção a
integridade do esporte já seria motivo suficiente para regulamentar e monitorar
as apostas esportivas. Além disso, a proteção a economia popular garantindo que
apostadores recebam seus prêmios e o potencial significativo de arrecadação
tributária completam um tripé consistente de razoes", argumenta.
Em tramitação no Senado, um projeto de lei
visa proibir operações em sites internacionais de apostas para conter a evasão.
O texto ainda defende a "legalização da exploração da atividade econômica
dos jogos de azar de maneira responsável".
Fonte: GMB / Vínícius Barros para o Jornal do Commercio