VIE 29 DE MARZO DE 2024 - 09:18hs.
Decisão do novo presidente

O que esperar de Bolsonaro: Legalização do Jogo estadual e não federal

Apesar de suas convicções e de uma bancada evangélica que tanto o apoiou não estarem próximas da legalização do jogo, o novo presidente do Brasil planeja deixar os governadores decidirem em cada estado de acordo com as suas necessidades, se eles dão luz verde para a atividade, em um processo semelhante ao que está acontecendo nos Estados Unidos com apostas esportivas. Essa ideia de Bolsonaro pode atrasar a votação dos projetos federais que estão sendo discutidos hoje nas duas Casas.

Jair Bolsonaro não é um homem que apóia a abertura indiscriminada da atividade de Gaming no Brasil. Pelo contrário, suas convicções indicam que se fosse por ele manteria a atual situação de proibição de cassinos, apostas online, bingos, jogo do bicho, etc. Entretanto, sendo um político não tradicional é um homem que sabe escutar e não se fecha em seus pensamentos, mas avalia o que é melhor para o país.

O contexto econômico do Brasil não é o ideal e existem muitas frentes de tempestade que o novo presidente terá que enfrentar para superar essa crise. Para todos os projetos, é necessário dinheiro, os investimentos devem aumentar e as arrecadações de impostos de atividades já regulamentadas ou novas que podem ser adicionadas devem ser melhoradas. É por isso que tanto Bolsonaro quanto sua equipe econômica tomaram uma decisão: liberar os estados para que seus governadores e representantes decidam se legalizam ou não o Jogo de forma independente e não federal.

Além de eleito presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) também saiu vitorioso em votações nos estados em que houve segundo turno. Das 14 disputas locais, incluindo o Distrito Federal (DF), o ex-capitão do Exército terá o apoio de 11 governadores que ganharam as eleições ontem. Bolsonaro governará o país com estados de peso ao seu lado, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que confirmaram as vitórias de Wilson Witzel (PSC), João Dória (PSDB), Romeu Zuma (Novo), e Eduardo Leite (PSDB), respectivamente. Zuma é o primeiro governador do pequeno Novo.

Embora esses governadores ainda não tenham se pronunciado sobre a questão da legalização dos jogos de azar, se sabe extra-oficialmente que vários deles são a favor da adição de uma atividade que geraria milhões em impostos e milhares de empregos. A proximidade desses governadores a Bolsonaro facilitará um diálogo fluido com o Planalto que não se oporá ao que os estados decidirem fazer sobre o assunto. Não é imaginável uma abertura total do mercado, talvez seja feito mais devagar e começando com cassinos e apostas esportivas.

Os projetos que hoje são tratados no Congresso procuram aprovar a atividade de maneira federal, sob a égide de uma única lei. Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados devem submetê-los à votação, algo que não parece próximo, já que existem outras prioridades. Inclusive, seria estranho que os líderes dessas casas incluisseem uma questão tão sensível agora que eles devem lutar pela reeleição para ficar à frente, como no caso do próprio Deputado Rodrigo Maia. Para conseguir o apoio de Bolsonaro e permanecer no cargo não seria "apropriado" que apresentem agora uma votação sobre uma questão em que a posição do novo presidente é conhecida: Estadual sim, federal não.

Durante a campanha, a legalização do jogo não foi tocada diretamente. Logo no início, o novo presidente se mostrou contrário, mas abriu mão das sua ideias para deixar a questão nas mãos dos estados. Mas, na semana que antecedeu o segundo turno, no entanto, vazou uma informação em uma mídia local: equipe de Jair Bolsonaro discute legalização de cassinos no Brasil. A informação é verdadeira já que os setores que apóiam o Jogo no país levaram números e dados de negócios para o novo presidente.

A partir desses rumores, na poderosa bancada evangélica surgiram dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Bolsonaro e as pesquisas começaram a mostrar um declínio no apoio para o candidato que tinha larga vantagem entre ele e Fernando Haddad, por outras razões. Não há grupo demográfico que tenha crescido tanto nas últimas décadas no Brasil como os evangélicos. Segundo os censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os evangélicos representavam 6,6% da população em 1980. 30 anos depois, no censo de 2010, a percentagem já era de 22,2%. Em 2018, estima-se que a percentagem seja ainda maior.

Por isso, não é por menos o fato de as pesquisas apontarem que, entre todos os grupos demográficos e todas as categorias que os distinguem — gênero, idade, escolaridade, renda, região, etnia e religião — sejam precisamente os evangélicos os que mais apoiam Jair Bolsonaro, candidato do Partido Social Liberal (PSL). Na pesquisa do Datafolha publicada no dia 25 de outubro, 59% de evangélicos declararam o seu voto em Bolsonaro e apenas 26% escolhiam Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores.

É por isso que em suas últimas aparições antes do segundo turno e através do Facebook, Bolsonaro negou veementemente seu apoio ao estabelecimento de cassinos no país. Sua reação pública acalmou o setor que mais o apoiava para chegar ao poder. Já no Planalto, a realidade pode ser diferente e o novo presidente liberaria os governadores para decidir o melhor para cada Estado de acordo com suas necessidades, além de suas convicções.

Fonte: GMB