MIÉ 8 DE MAYO DE 2024 - 06:23hs.
Fabián Bataglia
OPINIÃO-FABIAN BATAGLIA, JORNALISTA ESPECIALIZADO NO SETOR DE JOGOS

As apostas esportivas e a luta contra o perigo da manipulação de resultados

Enquanto as apostas esportivas eram aprovadas em duas sessões consecutivas do congresso brasileiro, na cúpula mundial de loteria realizada em Buenos Aires, experts internacionais de jogo destacaram que, para que o negócio de apostas funcione, devem ser tomados todos os cuidados necessários na luta contra a manipulação prévia dos jogos. Representantes do Sistema Global de Monitoramento de Loterias (GLMS, pelas siglas em inglês) explicaram que o combate à corrupção esportiva deve ser global para alcançar os efeitos necessários.

Embora a legalização das apostas esportivas seja um grande passo para a abertura de um enorme mercado de jogo e representa a esperada saída do Brasil do clube dos poucos países que não legalizaram o jogo, as autoridades devem colocar o foco na regulação. Esta deve andar em passo acelerado de modo que, qualquer tentativa de tirar proveito das partidas possa ser combatida logo quando for detectada. Os especialistas do Comitê Olímpico Internacional deixaram claro que, se não houver regulamentações, o combate à corrupção nas apostas se torna uma questão muito complicada de se lidar.

Para entrar um pouco no contexto, devemos entender que as redes de jogos ilegais estão totalmente globalizadas, o que significa que uma rede de criminosos localizados em Cingapura pode estar trabalhando com jogos de qualquer liga sul-americana sem ser monitorada pelas autoridades locais. Existem inúmeros casos de grupos de operadores ilegais na Ásia com subsidiárias na Europa que trabalham para a manipulação dos resultados, especialmente com a anuência de diretores de clubes ou entidades esportivas. Essas situações podem se repetir em países da nossa região e atualmente no Brasil, as autoridades deveriam pôr a sua atenção nas possibilidades de fraude esportiva que é sempre latente.

As autoridades do GLMS explicam que o futebol é o esporte com o maior percentual de manipulação e casos de corrupção. Especialistas como Ludovico Calvi sabem que uma das chaves para que o combate a esse problema seja eficiente é que tudo deve ser transparente e esteja dentro de um regulamento eficiente. Se nos limitarmos às declarações de um Secretário de Estado que afirmou que atualmente no Brasil não há pessoal adequado para trabalhar em um marco regulatório e que não têm o número de pessoas para monitorar o desenvolvimento das apostas, poderia o mercado brasileiro ser uma vítima das redes de apostas ilegais que funcionam ao redor do mundo?

A prolífica história da manipulação de resultados sugere que os criminosos estão ansiosos por novos mercados para lançar suas redes e ativar as células escondidas ou gerar novas, e serem capazes de atuar em mercados emergentes que ainda não têm a experiência necessária para enfrentar esses perigos. Especialistas alertam que as autoridades devem ser vigilantes em questões relacionadas à educação e transmissão dos perigos de cair em redes criminosas aos atletas e administradores de clubes esportivos. Esses seriam grandes passos, mas a o histórico do setor pede máxima cautela e sugere que devemos ir muito além para manter as apostas dentro de um contexto de fair play.

Devemos enfatizar que o mercado global de apostas esportivas tem percentuais de operações ilegais maiores do que qualquer outra atividade econômica. Os dados publicados pelo GLMS indicam que, em um mercado estimado em 984 bilhões de euros, cerca de 612 bilhões, ou 62 por cento, correspondem a apostas ilegais. Além disso, de 133 bilhões de euros em receita bruta de jogo (GGR), apenas 41 por cento, cerca de 55 bilhões correspondem ao jogo legal. Ou seja, o jogo ilegal domina o mercado e de acordo com especialistas a única maneira de combatê-lo é um regulamento de acordo com os tempos complicados que estamos vivendo.

Os últimos acontecimentos na partida frustrada entre Boca Juniors e River Plate na grande final da Copa Libertadores em Buenos Aires nos dão uma visão geral de quão vulnerável pode ser o mercado das apostas em relação aos problemas relacionados às práticas de futebol. De acordo com os dados publicados pelo GLMS, 70 por cento de todos os alertas de manipulação nos jogos correspondem ao futebol, o que significa que as autoridades terão que estar preparadas para enfrentar possíveis casos de manipulação de resultados, em uma região onde o futebol é o esporte favorito por excelência. A questão é: o Brasil está hoje preparado para enfrentar todos os possíveis riscos das redes de jogos ilegais que funcionam em boa parte do mundo? Nós teremos a resposta nos próximos meses.

As apostas esportivas serem aprovadas no Brasil é um grande salto em direção à legalização de toda a bateria de jogos e à entrada em um novo mercado que poderá criar os tão necessários novos empregos e receitas fiscais. Há coisas realmente positivas nesta nova situação, mas sem uma regulamentação de acordo, moderna e ágil, a relação entre as apostas e as possíveis implicações do crime organizado na manipulação de resultados poderia arruinar qualquer novo cenário positivo para um mercado eficiente de jogos e apostas.
 

FABIAN BATAGLIA

Fabián Bataglia. Jornalista especializado na indústria dos jogos de azar; formado em Comunicação Social na Universidade CAECE de Buenos Aires e professor de Jornalismo e Comunicação nesta universidade. Especialista em produção de informação e em comunicação digital; atualmente trabalha no Diario del Juego de Buenos Aires, Argentina.