JUE 25 DE ABRIL DE 2024 - 20:54hs.
Bruno Maia, CEO da 14 e ex-VP de marketing do Vasco da Gama

O novo “Entretenimento das Estatísticas” beneficiará as apostas esportivas no Brasil

Já pensou em como o acompanhamento de estatísticas cada vez mais influencia as narrativas de quem acompanha esportes? Já reparou que a Globo inclui as estatíticas do Cartola na narrativa da transmissão de TV aberta? As apostas esportivas no Brasil iriam se beneficiar muito do Entretenimento das Estatísticas, segundo explica Bruno Maia, CEO da agência de conteúdo estratégico 14 e ex-VP de marketing do Vasco da Gama, em um artigo para o Meio & Mensagem.

A cultura do esporte norte-americano diagnosticou um comportamento do consumidor e vem explorando-o fortemente que é o Entretenimento das Estatísticas. Só no Canadá e Estados Unidos, a indústria já conta com mais de 60 milhões de praticantes, apenas da vertente mais conhecida, os fantasy games. Destes, o gasto médio anual na prática destas atividades é de USD 650 por pessoa.

Fruto da inserção no mercado de uma geração forjada mais perto dos videogames do que da tv, o domínio de elementos estatísticos ampliou a duração dos jogos eletrônicos desde os anos 90 e, consequentemente, a retenção do consumidor dentro desta por mais. Esta é uma característica que independe do gênero do jogo envolvido. E assim como aconteceu nos games, a capacidade de multiplicação de narrativas e aumento de retenção fazem dela uma variável indispensável no planejamento das transmissões esportivas dos últimos 5 anos.

A trilha aberta por este universo na cultura pop é visivelmente bem-sucedida e encontrou campo fértil para se desenvolver como narrativa de segunda tela de uma série de eventos públicos, sobretudo os esportivos. O fantasy game da NFL já é um braço fundamental da expansão de territórios da liga de futebol americano e responsável por redefinir o calendário de eventos e conteúdo que os times e jogadores geram. O Brasil, por exemplo, tem uma das maiores presenças de jogadores no fantasy game de um esporte que ainda luta para deixar de ser amador no país.

Na TV aberta, vimos a Globo iniciar uma aproximação lenta com o segmento através do Cartola F.C, produto que foi ganhando musculatura e relevância na construção do ambiente de remuneração financeira no modelo da emissora carioca. Nos últimos tempos, o Cartola vem ganhando protagonismo narrativo dentro das transmissões dos jogos, com os narradores destacando quantos pontos um jogador fez ou perdeu como consequência de determinada ação praticada durante a partida.

Acompanhando as disputas pelas redes sociais já é fácil detectar pessoas presas a acompanhá-las muito mais preocupadas em saber se vai ter um cartão vermelho ou a quantidade de faltas cometidas por determinado atleta do que propriamente no resultado da peleja. E é nessa abertura de novas possibilidades de narrativas criadas pelos interesses de cada consumidor que está a beleza e o dinheiro escondido neste *game*.

Novos produtos vão surgindo nesta esteira, que ainda precisa ser melhor entendida editorialmente e comercialmente por todos os agentes envolvidos. O recente episódio da exposição vexatória e constrangedora do goleiro Sidão, do Vasco da Gama, em função de uma premiação da emissora é consequência da adoção de narrativas gamificadas dentro de uma estrutura de transmissão ainda linear, dirigida pelo jornalismo, onde o entretenimento é acessório e não a linha mestra do conteúdo.

Outra atividade que se beneficia, e muito, do Entretenimento das Estatísticas são as apostas esportivas, em vias de serem regulamentadas no Brasil. A integração delas com os players de broadcasts, em relações de parceria ou patrocínio, vão multiplicar as possibilidades de narrativas para retenção da audiência durante um jogo e mudar as relações do broadcaster tanto com o evento, quanto com a geração de novos diretos de exploração ainda não detectados ou valorizados.

Não é difícil prever que em poucos anos vai ser possível a um torcedor comum ter acesso em tempo real a, por exemplo, vídeos e reports sobre o desempenho de determinado atleta, para sofisticar o próprio conhecimento, influenciado uma atividade de apostas comportamentais durante a partida. Também é fácil visualizar que durante um jogo, o consumidor terá a opção de assisti-lo com uma narração focada na avaliação estatística do jogo, em vez de escutar o Galvão Bueno descrevendo as emoções do que se passa em campo.

Ainda há uma infinidade de narrativas para serem criadas dentro do esporte e, para cada uma delas, a possibilidade de novas formas de exploração e de novas fontes de receita. Está aí é só uma de muitas oportunidades para quem quer pensar novos negócios relacionados ao esporte. Os próximos anos vão ver as estatísticas ocupando cada vez mais tempo do consumo de informação dos principais veículos, atraindo mais pessoas para o esporte, retendo audiência nas transmissões e fazendo apostas ao redor disso. Isso tudo ainda é só o começo da grande transformação que temos pela frente. O esporte não será mais o mesmo. Os números não mentem…

Fonte: GMB / Meio & Mensagem