MIÉ 24 DE ABRIL DE 2024 - 22:02hs.
André Gelfi, co-fundador do site local

“Suaposta e Betsson têm a mesma visão da oportunidade que o Brasil representa”

André Gelfi, co-fundador e managing partner do Suaposta, elegeu a GMB para dar sua primeira entrevista desde que surpreendeu o mercado com a notícia da venda de 75% de seu site ao gigante sueco Betsson. Gelfi deu detalhes sobre como como nasceu a fusão, o que ganhará cada companhia, como seguirá a gestão e a posição de Betsson diante da regulamentação de apostas que escolheu Brasil. “Os impostos são elevados, isso não é o ideal”, opina André.

GMB - Como surgiu a fusão entre Suaposta e Betsson?
André Gelfi -
Ano passado, logo após concluirmos a transação de compra do Suaposta, da Codere, que aconteceu no mês de setembro, a lei mudou e, consequentemente, fizemos uma revisão estratégica do futuro do Suaposta. Chegamos à conclusão de que o processo regulamentário ia acontecer de forma rápida e os atributos necessários que esperávamos do mercado eram distintos do que tinha até então. Foi aí que decidimos ir atrás de um sócio estratégico. Isso começou a se desdobrar no mês de fevereiro. Fiz algumas viagens para a Europa para sondagens de mercado e para a apresentação do negócio. Esse processo com a Betsson avançou e chegamos à conclusão da nossa sociedade na semana passada.

Os suecos adquiriram 75% da Suaposta. Como será a gestão diária do negócio?
Eu vou continuar à frente no Brasil. Temos, agora, um longo e árduo trabalho para começar a desenvolver e a visão é montarmos algo que reúna os melhores atributos da Betsson, que já tem na Europa quanto ao produto, know how e infraestrutura, e juntar com o que temos estabelecido no Brasil. Tem coisas que tem muito mais sentido fazer aqui do que na Europa, principalmente a parte de branding. Cada um vai trazer para esse casamento o que tem de mais valioso. É uma sociedade ganha-ganha.

O que a Betsson representa para o mercado mundial de apostas? O que estão pensando sobre a chegada da marca no Brasil?
A Betsson é uma referência no setor, uma pioneira da parte de apostas e iGaming. É de origem sueca e hoje está presente em várias jurisdições europeias. Tem mais de uma dezena de licenças. Uma série de operações deles fica em Malta. Eu diria que é um dos grandes players desse nosso mercado com um apetite interessantíssimo pelo Brasil. Se não fosse isso, não estaríamos onde estamos hoje. Chegamos até aqui, de fato, pelo compromisso. Estávamos procurando um parceiro que compartilhasse a visão da oportunidade que o Brasil representa. O Brasil será um mercado massivo, não tenho dúvida quanto a isso, e a Betsson tem um interesse em ser o protagonista nesse mercado, assim como nós.
 


Por que vocês se escolherem como parceiros?
Porque ficamos muito impressionados com o nível da equipe. Acho que existe uma afinidade grande de cultura de ambos os grupos e apetite pelo Brasil. Eles têm um know how inquestionável no nosso ramo, ou seja, em venda de apostas e corrida de cavalo. Eles têm uma marca específica para corrida de cavalo, que é algo que nos interessa. Acho que interessa também a eles porque, afinal de contas, o Brasil passa a ser mais um mercado onde explorar esse produto. Do lado deles, acho que o fato de sermos locais, termos conhecimento do país e da indústria local, já termos um trajeto árduo. Nós, que somos brasileiros, sabemos das complexidades de montar um negócio aqui. Acho que isso contou bastante, sem contar os atributos que o Suaposta tem. Hoje em dia, somos os únicos players onshore de apostas esportivas do país e isso deve ter contado bastante para a Betsson também. O fato de ser licenciado nos dá acesso aos meios de pagamentos brasileiros. Não me consta que qualquer outro operador tenha acesso aos meios de pagamentos brasileiros da forma como nós temos. Temos contrato com empresas gigantes do setor aqui e isso nos dá uma boa vantagem em toda a parte transacional. Além do fato de sermos uma operação legal e licenciada no Brasil. A tudo isso se juntou o fato de termos uma equipe bem enxuta e ajustada para o que a Betsson quer. Essas são algumas suposições de como vejo essa história toda. Ainda estamos fazendo um trabalho de imersão.

Essa fusão reforça a confiança e expectativa do mercado com relação ao Brasil?
Sem dúvida nenhuma que é um precedente interessantíssimo. Isso é a demonstração de um terceiro que a confiança na agenda do governo com relação à regulamentação existe. A expectativa é de que esse processo aconteça a curto prazo. Imagino que essa transação, de alguma forma, corrobora com essa visão dos próprios membros do governo com relação ao processo de regulamentação. Sabemos que tem uma lei que ainda não é a ideal e que alterá-la não é a coisa mais trivial do mundo. A regulamentação que está nas mãos do governo, aí, sim, já é algo mais fácil de prever como vai se desenrolar porque não depende de Congresso. Parece que vai numa linha que, em princípio, dentro da realidade da parte legislativa não cria nenhuma surpresa. Eu tenho preocupação com alguns pontos, acho que temos que estimular ao máximo que esse mercado seja competitivo na sua essência. Criar barreiras é importante sempre quando estejam a serviço de alguma preocupação pública e da sociedade. Agora, barreiras inócuas, que só dificultam a vida do operador, pra mim, não faz muito sentido.

Quanto acredita que o Suaposta vai crescer com a parceria?
Acho que a tendência é de crescimento. Vamos trabalhar com um modelo expansivo daqui em diante, tanto pré quanto pós-regulamentação. Não sei te precisar em termos percentuais até onde pretendemos chegar. A nossa visão é ser um protagonista nesse mercado.
 


Acredita que a chegada da Betsson com vocês, no Brasil, vai ajudar a acelerar o processo de regulamentação? Sabe se a Betsson concorda com o que está sendo feito em relação à lei?
Desde sempre tenho total interesse em contribuir para que esse processo ocorra da forma mais enriquecedora possível. Espero que traga um marco regulamentário sustentável, consequentemente, um mercado competitivo, que prospere de forma perene, duradoura. A minha contribuição, não só passiva, mas pró-ativa também, dizendo que tem um ponto que acho que pode ser melhorado, eu vou trazer contribuições e argumentação para demonstrar que as coisas podem ser melhoradas. Atrasar esse processo não faz muito sentido diante da informalidade que temos aqui hoje e da necessidade desse país de crescer. O mercado já existe. Vemos um monte de operadores abordando o Brasil estando fora, sem pagar imposto ao país. Queremos que esse mercado seja regulamentado o quanto antes.

Em relação à Betsson, o que eu falei é compartido com os operadores em geral. Os impostos, por exemplo, que acho ser o maior problema que temos hoje… Eles são elevados para conseguir fomentar um mercado competitivo. Isso não é o ideal. Deveria passar por uma revisão para propiciar que o mercado cresça, estimule investimento e para que, de fato, se formalize. Temos um mercado offshore, temos que trazê-lo pro onshore. A Betsson, acredito, tem a mesma cabeça. Os operadores sérios, que já operam em mercados respeitados, que têm a parte de governança e compliance bem endereçadas estão absolutamente qualificados para conseguir uma licença. Estou muito otimista com a forma que as coisas vêm acontecendo. Não é o ideal, mas temos que ir fazendo os ajustes à medida que o processo avança.

Fonte: Exclusivo GMB