JUE 28 DE MARZO DE 2024 - 05:56hs.
R$ 18.000.000 só com assinaturas em 2018

Cartola FC: um jogo que rende milhões à Globo

O jogo virtual criado em 2005 pelo grupo Globo se tornou uma das principais marcas da emissora para promover o Campeonato Brasileiro, que começa no próximo dia 27. Além disso, é sinônimo de sucesso financeiro. Na última temporada rendeu ao menos R$ 18 milhões. Em 2019, apenas 15 dias após a disponibilização do jogo, feita no começo de abril, 175 mil torcedores já haviam garantido o pacote pago, ou seja, outros R$ 7 milhões antes mesmo do campeonato começar.

Em algum momento neste último mês, você já deve ter se deparado com propagandas relacionadas ao Cartola FC na televisão ou na internet. O jogo virtual criado em 2005 pelo grupo Globo se tornou uma das principais marcas da emissora para promover o Campeonato Brasileiro, que começa no próximo dia 27. Além disso, é sinônimo de sucesso financeiro.

O game permite aos torcedores se tornarem “treinadores”, escalando rodada a rodada os seus jogadores preferidos, e virou febre nas últimas temporadas. No ano passado, por exemplo, foram pouco mais de 8,5 milhões de equipes criadas pelos usuários.

Diante desse alto envolvimento, o Cartola se tornou uma oportunidade de negócio. Em 2016, foi lançada a versão paga do jogo – chamada de PRÓ – que dá alguns benefícios extras em relação ao modelo gratuito, como premiações específicas e criação de mais ligas. Naquele ano, foram 135 mil assinantes, o que rendeu um faturamento de quase R$ 5,4 milhões.

A partir daí, o crescimento não parou. Em 2017, o montante subiu para R$ 13,2 milhões, com 330 mil assinantes. Na última temporada, foram 424 mil cartoleiros PRO, o que rendeu ao menos R$ 18 milhões para a Globo. Em 2019, apenas 15 dias após a disponibilização do jogo, feita no começo de abril, 175 mil torcedores já haviam garantido o pacote pago, ou seja, outros R$ 7 milhões já arrecadados antes mesmo de o campeonato começar.

Os valores cobrados atualmente são de R$ 49,90 (pagamento único no ano) para novos assinantes ou R$ 39,90 para quem já pagou pelo game no ano anterior. Além do valor ganho com as assinaturas, o Cartola passou a ser um dos grandes destaques do plano comercial digital da Globo vendido para as empresas. A cota para cada patrocinador foi avaliada em R$ 12 milhões.

O sucesso do jogo pode ser explicado, em parte, por não enfrentar concorrência de qualquer nível quando se fala no Brasileirão. Para Erich Beting, jornalista e consultor de marketing esportivo, o game é o único produto que atualmente promove a Série A.

“No passado, tinha os álbuns de figurinhas que movimentavam, principalmente, os mais jovens em torno do negócio. O Cartola é isso, numa versão mais atualizada, mais moderna. Uma forma de promover o campeonato”, analisa Beting.

Ainda de acordo com o especialista, o principal benefício aos clubes não é um retorno financeiro, mas os estímulos que os torcedores têm para acompanhar o Brasileirão como um todo, e não apenas as partidas de seu clube do coração, afinal no Cartola cada usuário escala jogadores de times diversos a cada rodada.

“É tudo muito individualizado no futebol brasileiro, muito focado. O Palmeiras fala com o palmeirense, o Corinthians com o corintiano, o Athletico com o atleticano. Não tem um trabalho de divulgação do campeonato e isso é péssimo. O Cartola é o único momento em que há essa divulgação mais ampla”, explica.

Núcleo dedicado ao jogo e ausência do Palmeiras

A Globo cria conteúdo específico para o Cartola na internet desde 2011. Houve uma intensificação a partir de 2016, com o lançamento da categoria PRO. Atualmente, o jogo conta, além da equipe de edição dedicada para criar as postagens (principalmente de dicas para os cartoleiros), com outras focadas em redes sociais e nos scouts (parâmetros que definem as pontuações dos jogadores).

Editor do Cartola FC no portal Globoesporte.com, Cassius Leitão, esclarece que boa parte do conteúdo produzido tem o objetivo de dar dicas que ajudem os torcedores a ter um bom desempenho e seguirem motivados durante todo o Brasileirão. “Queremos manter o sucesso. Temos um apoio cada vez maior da televisão com divulgação. Estamos no caminho certo”, diz.

A equipe ainda recebe a ajuda dos próprios usuários, que através das redes sociais indicam eventuais pontuações que não foram computadas. “Sempre revisamos a maioria dos lances, principalmente com maior barulho, para que não haja nenhum erro de scout. Vamos mapeando essas reclamações”, conta Leitão.

A versão 2019 do Cartola ainda não conta com o Palmeiras. Até o fechamento da edição, o clube paulista não havia acertado os direitos de transmissão de televisão aberta com a Globo, portanto, nem os direitos da “nuvem digital” – em que o jogo virtual está incluso. “A negociação segue em andamento e estamos na expectativa de trazer o Palmeiras”, acredita Leitão.

Como funciona o jogo

O Cartola é um fantasy game (jogo de fantasia, em tradução livre), gênero muito popular nos Estados Unidos em suas ligas de esportes como NBA (basquete) e NFL (futebol americano). Nesse estilo de jogo, o torcedor administra um time baseado no desempenho real dos atletas. A cada rodada, o usuário escolhe 11 jogadores e um técnico para montar seu time. Para isso, utiliza as cartoletas (C$) a moeda virtual do jogo. Todos começam a temporada com C$ 100.

O sucesso do usuário vai depender do desempenho real dos atletas dentro de campo durante cada rodada do Brasileirão. Se um jogador escalado por você marca um gol, isso lhe renderá pontos. Por outro lado, se o seu goleiro escolhido sofre muitos gols, você perde pontos. Essa é a lógica.

Vários dados dos jogadores são considerados como gols marcados, gols sofridos, assistências, finalizações, faltas sofridas e cometidas, cartões, impedimentos etc. É possível criar ligas (pontos corridos ou mata-mata) para disputar com os amigos, além de disputar partidas em duplas – nova modalidade criada para a temporada 2019.

O advogado gaúcho Thiago Freitas foi o campeão nacional do Cartola em 2016. Ninguém no país pontuou tanto quanto ele na temporada. “Minha vida mudou completamente. Eu ganhei em 2016 e em 2017 a Globo me chamou para trabalhar com eles por uma temporada. Isso deu muita visibilidade para mim. Hoje trabalho mais com o Cartola do que como advogado”, conta Thiago que criou um canal no YouTube para dar dicas sobre o Cartola.

Fonte: GMB / Moreno Valério - Gazeta do Povo