GMB - O que te motivou a criar um podcast para falar sobre os novos negócios dentro do esporte?
Bruno Maia - A nítida sensação de que a discussão estava defasada no mercado brasileiro de inovação. Estamos num estágio sólido e maduro de um modelo que já ficou superado. Na outra ponta, quem acompanha as novas estruturas de negócio e marketing que já estão em curso em outros mercados, percebe que os agentes envolvidos e os problemas em pauta sequer foram ventilados aqui. Pior, o contato que tenho com jovens profissionais me assustava. Eles deveriam ser vetores desta transformação, mas estão crescendo sobre a influência de ideias antigas, sem tanta referência escrita e falada em português sobre estas frentes de inovação. Parece que, aqui, ainda vemos tudo isso como futuro. Só que, no nosso futuro, já tem coisa que é passado em outros mercados. Acredito que o atraso tecnológico e de estrutura de negócios também afeta a perfomance final em campo e a qualidade dos espetáculos que consumimos. Ajudar nessa discussão foi o objetivo.
As apostas esportivas serão tema de algum podcast teu? Se sim, como pretende abordá-las e quem seria seu convidado?
Com certeza, direta e indiretamente, falaremos disso. O que eu costumo chamar de “Entretenimento de estatísticas” é uma tendência de consumo cada vez maior e as apostas potencializam isso. As janelas de negócios que vão surgir pelas empresas deste setor e o esporte ainda estão sendo iniciadas. Este é, por exemplo, um setor em que penso que jovens profissionais de marketing esportivo poderiam se debruçar com força, pois só tende a crescer. Sobre convidados, tem muita gente boa pra chamar. Provavelmente não irei me restringir a apenas um.
Qual a importância da regulamentação das apostas para o esporte brasileiro?
Não vou entrar na discussão ética ou moral a respeito das apostas, pois penso que cada um tem um ponto de vista. Posso falar que, da perspectiva financeira e de atualização do negócio, é urgente. É uma fonte de receitas que já vem sendo, em muito, explorada em outros territórios e não aqui, enfraquecendo nossos produtos e nossa capacidade de disputar audiência, patrocínio, receitas e, por que não, performance. É fundamental que se tenha uma estrutura bastante robusta de auditoria sobre esta influência, mas isso já acontece em muitos territórios e é interesse da própria indústria da aposta que esteja equacionada. Sou muito otimista neste sentido. De toda forma, neste primeiro momento, vejo a parceria de casas de apostas e clubes se restringindo à formação de base consumidora, através de ações de patrocínio e referral revenues. Com o avanço da regulamentação para as próximas fases, lembrando que agora discute-se apenas as apostas esportivas, daí talvez, sim, tenhamos parcerias maiores. Por exemplo, se a regulamentação de cassinos avançar, muitos clubes têm propriedades pouco utilizadas de real state, que poderiam ser apropriadas e tornadas ativos mais fortes em parcerias com redes interessadas. Mas isso é algo para um futuro um pouco mais distante, a meu ver.
Como acredita que as apostas podem incentivar a interação do torcedor e assim melhorar a receita do clube?
Mencionei o que chamo de “Entretenimento das estatísticas”, que acredito ser uma tendência de comportamento do consumidor jovem para as próximas décadas. A chegada desta geração ao mercado consumidor deve sincronizar com o amadurecimento das operações de apostas no país. Acredito que isso passa a ser uma dimensão importante da diversão e do prazer gerado pelo esporte em quem o consome. A parte de como os clubes podem participar desta receita dependerá mais deles do que do mercado, sobretudo do desenvolvimento das áreas de dados e refino estatístico que eles possam oferecer.
Quando foi vice-presidente de marketing do Vasco chegou a criar algum plano estratégico ligado às casas de apostas que estão chegando ao Brasil e patrocinando os clubes daqui?
Vasco e Fortaleza foram os dois primeiros clubes brasileiros a assumirem uma marca de apostas como patrocinador em suas camisas. O Fortaleza é um grande clube, mas naturalmente tem uma diferença de alcance em relação ao Vasco, que sinaliza a importância desta iniciativa. Fizemos um trabalho bem forte de aproximação da empresa com o torcedor vascaíno e o resultado foi tão positivo que a parceria foi renovada já depois da minha saída. Também participei como palestrante no BgC do ano passado, exatamente pra reafirmar minha visão de que os clubes precisavam estar envolvidos neste processo da regulamentação das apostas esportivas no país. Além disso, tenho contatos profissionais neste mercado há alguns anos, por ser um entusiasta dele e ver como uma oportunidade de negócio também para a minha agência. Fico feliz pelo reconhecimento que costumo ter nesta indústria por conta dessa participação quando estive mais dentro do futebol, mas sei que ainda temos muito a fazer e espero poder somar nesta frente.
Fonte: Exclusivo Games Magazine Brasil