SÁB 18 DE MAYO DE 2024 - 17:35hs.
Juan Ignacio Juanena, Interactive Gaming na Enjoy S.A

"A pandemia deveria impulsionar o Brasil a legalizar o jogo para gerar novos recursos"

Juan Ignacio Juanena, Gerente de Negócios de Interactive Gaming para Enjoy S.A e fundador da iGaming Latam Consulting, assegura que, a longo prazo, toda a indústria perderá devido ao COVID-19, os países que ainda não legalizaram o jogo online deveriam fazê-lo para obter uma nova fonte de renda e gerar recursos diante da crise econômica. Em entrevista exclusiva ao GMB, o especialista critica o esboço da lei de apostas do Brasil e analisa os efeitos e consequências da pandemia no mercado.

GMB - Hoje é impossível não iniciar uma entrevista perguntando como a crise do coronavírus afeta a indústria atualmente. Qual é a sua opinião?
Juan Ignacio Juanena -
A expansão do COVID-19 afetou a todos e a indústria de jogos e apostas não foi exceção. A suspensão de eventos esportivos teve um impacto muito forte na indústria de jogos online e offline e afeta não apenas as operadoras de apostas, mas também todos os setores diretamente relacionados à atividade e que também veem afetados os seus rendimentos como resultado desta suspensão. Operadoras, meios de pagamento, clubes esportivos, canais de televisão, jornais, fornecedores de software e centenas de itens relacionados sofreram uma queda acentuada em sua receita.

Por outro lado, os operadores de cassinos físicos vivem uma situação ainda mais preocupante, pois o fechamento das operações deixou sua renda totalmente paralisada, com milhares de trabalhadores encaminhados para o seguro-desemprego e sem uma estimativa clara da reabertura de suas operações.

No jogo online, existem vencedores e perdedores na pandemia ou todos perderam?
Sem dúvida, alguns provedores específicos tiveram um crescimento nas suas atividades devido à busca de alternativas por parte das operadoras de apostas online, mas são poucos os casos e, embora hoje possam estar observando crescimento na sua receita e aumento de clientes, a crise econômica gerada por essa pandemia afeta fortemente o volume de jogos disponíveis para os clientes, gerando uma retração no consumo. Embora as apostas em alguns setores tenham aumentado (jogos virtuais (+ 200%), jogos de cassino (+ 20%), pôquer (+ 85%), bingo (+ 30%), loterias online (+ 20%)), a longo prazo, acho que todos perdemos com essa situação.

Por quanto tempo mais as pequenas e médias empresas podem suportar sem eventos esportivos?
Embora hoje o mundo inteiro tenha sido paralisado por essa pandemia, em muitos países já começou a falar do retorno às atividades esportivas em 2 ou 3 meses, assim como Espanha e Itália, que possuem ligas muito fortes, que são muito atrativas para o apostador latino-americano. A realidade é que, à medida que outras ligas ou outros esportes começarem, será possível começar a retomar a atividade e a oferta do jogo será recuperada. Acredito que todas as empresas durante esse período tenham visto a necessidade e a obrigação de se reinventar e diversificar sua oferta de jogos, pensando não apenas em sair dessa situação específica, mas também como um plano de contingência diante de um provável cenário semelhante no curto ou no longo prazo.

O crescimento das apostas nos eSports é algo tão real quanto se diz? Chegou para ficar ou é momentâneo para ele durante a crise?
O perfil do apostador de eSports é muito diferente do apostador esportivo tradicional e, embora hoje em dia uma porcentagem mínima de apostadores tradicionais tenha se voltado para esse tipo de aposta, a realidade é que, após essa crise, o volume de apostas retornará às suas verticais mais tradicionais. Isso não significa que o eSports seja algo temporário, os gráficos de crescimento do setor de eSports refletem o contrário, mas continuará sua tendência de alta dentro das estimativas fornecidas por seu próprio público e não devido a um aumento no volume de jogos por apostadores com outro perfil que, sem dúvida, retornarão aos seus esportes favoritos.

A porcentagem de apostas (no nível da coleta) de eSports é grande ou à margem dos tradicionais eventos esportivos do mundo?
Hoje, o volume de apostas no eSports é mínimo em comparação com o resto das verticais fortes, como as apostas em cassinos e esportes e até menos que o bingo e o pôquer, mas sem dúvida a oferta dos eSports permite capturar um público diferente, um novo segmento de jogadores difícil de atrair com outras verticais, mais jovens, com menos poder de compra, mas com uma grande paixão pelas equipes.

Já vemos ou podemos vislumbrar certas consequências de toda essa paralisação? Acha que haverá um fechamento de empresas ou uma onda de demissões no mundo?
Sem dúvida, já estamos vendo um grande número de empresas que encerraram ou paralisaram suas atividades e enviaram seus funcionários ao seguro-desemprego, a fim de minimizar seus custos fixos e tentar evitar a falência, diante do atual cenário de incerteza.

Nesse contexto, como acha que a América Latina vai parar? Sofrerá mais do que os mercados europeu e americano?
Não, acho que a América Latina está posicionada fortemente como uma das grandes opções para as operadoras globais que hoje buscam alternativas para mitigar o golpe que sofreram com essa pandemia e, sem dúvida, procurarão oportunidades de negócios diferentes para limitar sua perda de receita. Os mercados emergentes serão beneficiados à medida que se tornarem uma grande oportunidade de crescimento em um setor de sucesso.

Nos EUA e na Europa, as associações do setor já denunciam que os bancos não querem emprestar dinheiro e os governos, em vez de ajudarem a salvá-los, querem aumentar os impostos. Como analisa essa situação?
Temos que analisar cada caso pontualmente. Sem dúvida, teremos muitas empresas que precisarão de ajuda do governo para superar essa crise e principalmente para que os trabalhadores, que são o primeiro corte que as empresas sempre fazem, não sejam afetados. Como em qualquer setor, existem empresas que precisam de apoio para sobreviver, mas também sempre teremos companhias que, em uma situação de crise, buscarão ajuda sem ter uma necessidade real além de uma queda em sua renda. Governos e bancos devem analisar caso a caso e também ficar claro que a falta de apoio sempre afeta os trabalhadores e, consequentemente, a renda do país, pois gera maior desemprego e menor consumo.

Qual era sua visão do mercado brasileiro antes do COVID-19? O que acha dos detalhes conhecidos dos regulamentos de apostas esportivas do Governo (licitação para 30 empresas)?
A chegada do COVID-19 deve ser o impulso necessário para países como o Brasil, que não regulamentaram sua indústria de jogos online, para ganhar força e gerar uma oportunidade de negócios alternativa para os setores que foram afetados pela pandemia atualmente. Cassinos, loterias, bingo e jogos instantâneos geram milhares de funcionários em alguns países da América Latina e hoje eles estão em uma situação complexa. O Brasil deu sinais contrários à regulamentação dos jogos de cassino, apesar de ter aprovado apostas esportivas e, pelo que sabemos do projeto preliminar, não é muito atraente do ponto de vista tributário. Em um país como o Brasil, limitar licenças a apenas 30 operadoras quando há centenas de operadoras dispostas a pagar por uma licença operacional é pouco conveniente e pouco racional.

É loucura pensar que a necessidade que o governo brasileiro terá após a crise possa ajudar a legalizar cassinos físicos e online para gerar mais arrecadação de impostos? E o mesmo pode acontecer em outros países da região?
Sem dúvida, vários países da região estão começando a acelerar o processo de regular o jogo online, bem como analisar alternativas para gerar novos canais de receita tributária, e a indústria do jogo online é um parceiro importante de qualquer governo para gerar contribuições para a saúde e a educação.

Como a Enjoy está passando por esse momento? O grupo tem apoio suficiente para evitar medidas fortes ou são inevitáveis?
A Enjoy está passando por essa situação como os demais operadores físicos da região, com grande preocupação e analisando quais são as melhores opções para se sustentar ao longo do tempo como líder na indústria do entretenimento. Todas as empresas precisam ajustar seus orçamentos em tempos de crise e a Enjoy não é estranha a essa situação, mas sempre pensando em medidas que garantam a sustentabilidade dos negócios no futuro, que é a fonte de renda para milhares de funcionários.

Como gerente do setor Interativo, o Brasil é um mercado atraente para a Enjoy? Quais planos tinha para o resto de 2020 e como ficou com essa situação agora?
Brasil, Argentina, Uruguai e Chile são os principais mercados em que a Enjoy participa, pessoalmente ou com forte presença do público deles. O Brasil é um mercado atraente tanto para a Enjoy quanto para os principais cassinos do mundo e, como líderes da indústria do entretenimento na região, seguimos de perto a regulamentação dos jogos de azar no Brasil e também nos demais países da América Latina.

Fonte: Exclusivo Games Magazine Brasil