MIÉ 24 DE ABRIL DE 2024 - 19:25hs.
Mariana Viegas, sócia-fundadora da Eversports

"Os sites de apostas no Brasil devem se mostrar como um entretenimento paralelo aos esportes”

A Eversports é uma agência de marketing esportivo que começou sua trajetória no automobilismo e que vem acompanhando a entrada das apostas no Brasil com a regulamentação em curso, tendo participado da última ICE London. O GMB conversou com Mariana Viegas, sócia-fundadora e diretora de marketing e comunicação da empresa, sobre os planos para atuar com jogos, as ações de marcas das operadoras que estão chegando ao país e os cases de sucesso ligados aos games como o do poker e do eSports.

GMB - Fale um pouco sobre a trajetória da Eversports, o mercado que atua e os clientes que atendem?
Mariana Viegas - A Eversports nasceu em 2011, da união de um atleta profissional - o piloto de automobilismo Rafael Suzuki - e uma jornalista. Então sempre tivemos a visão do cliente dentro de casa, como um diferencial. Nosso início foi no automobilismo, pois era nosso principal networking, com coaching e management, além de comunicação e marketing, e isso se ampliou nos últimos anos para uma atuação com outras modalidades, e também um foco maior na parte comercial. Hoje, atendemos atletas e também empresas com consultoria e desenvolvimento de projetos personalizados, ativações de relacionamento e branding/patrocínios. 

A empresa atua diretamente com eventos esportivos para ativação de marcas. Como a COVID-19 afetou o trabalho de vocês? O que criaram para manter os clientes em evidência no meio da crise?
Obviamente, o ritmo e o escopo do nosso trabalho ficaram diferentes nesse período, com eventos adiados e outros projetos pausados. Buscamos entender o momento e demandas de cada um dos nossos parceiros para trazermos soluções individualizadas - e muitas delas estavam mais voltadas à questões internas do que uma "evidência tradicional". Ajustamos contrapartidas, por exemplo, palestras presenciais e eventos de relacionamentos que foram levados para o online, em formato de Webinar, criação de conteúdo pertinente para manter a recorrência das empresas com seus públicos-alvo, formas diferentes de interação com colaboradores. E em alguns poucos casos, apesar de nos colocarmos à disposição, entender que no momento eles tinham outras prioridades a lidarem. 

Os sócios da agência estiveram na última edição da ICE London. O que vocês aprenderam sobre o mercado de jogos num geral e que possibilidades de novos negócios encontraram? Alguma delas já está em curso ou em operação?
Há um universo enorme envolvendo o mercado de jogos que ainda não está próximo do Brasil, seja por questões regulatórias, de cultura ou mesmo por um timing de expansão dessas práticas. Ou seja, há um potencial muito grande de crescimento desse mercado por aqui.
Por outro lado, muitas empresas e grandes players internacionais estão com planos de começar a atuar no Brasil ou minimamente mantendo o país no radar. Falando especialmente em apostas esportivas, cujas empresas têm o costume de se envolverem em patrocínios esportivos, creio que o fluxo de investimentos é promissor, mas a pandemia com certeza interferiu nesses planos por conta da falta de eventos ao vivo. Apesar disso, acredito que essa retomada deverá ser rápida, e eles podem aproveitar as oportunidades que surgirão no mercado para se posicionar de forma ainda mais concreta no esporte brasileiro.

Como você avalia o que já tem sido feito em relação às ações de marketing das marcas de apostas esportivas com parcerias com atletas e influencers como embaixadores, entre outras ações, além dos patrocínios? É esse o caminho?
Mundialmente, o futebol é a principal modalidade para os patrocínios feitos pelos sites e casas de apostas, há muito tempo lá fora até. Temos vários exemplos de empresas que são ou foram patrocinadores máster dos mais importantes clubes de futebol na Europa, como Bwin e Real Madrid, e a presença maçica da Bet365 em times da Liga Espanhola - para citar alguns. Então, era um caminho óbvio que essa fosse a porta de entrada no Brasil. É a modalidade que mais engaja apostadores por aqui, e o envolvimento de embaixadores, como ex ou atuais jogadores ou outras personalidades que falam com esse público, acelera essa interação com o potencial apostador.
Porém, o movimento de todas foi muito similar, de forma geral - chegamos a ter mais de 3 marcas anunciando nas placas de um mesmo jogo do Brasileirão, além das marcas que estão com os times. E com isso, para um mercado de consumidores que ainda não é maduro ou não entende a diferença entre os serviços e ferramentas oferecidos por cada uma das empresas, o impacto pode ficar um pouco mais disperso.
Algumas empresas se diferenciaram por se comunicarem com públicos de vários esportes ao mesmo tempo, através de um time de embaixadores formado por atletas de diversas modalidades, ou então abraçaram de forma exclusiva times de um determinado estado - para gerar maior identificação e conquistar território.
Além disso, com algumas modalidades esportivas, essa relação com as casas de apostas é mais recente. A própria Formula 1 permitiu o patrocínio do segmento apenas no fim de 2018, então é algo extremamente novo. Mesmo assim, já tivemos uma empresa como patrocinadora master de uma equipe em 2019 - a Sportpesa com a equipe Racing Point -, entre outros apoios menores, e também empresas do segmento como "regional partners" da categoria, como a 188Bet para as corridas na Ásia. Na Nascar, esse é o primeiro ano da Penn National como patrocinadora, e, na NBA, a William Hill fechou um acordo com o campeonato no final de 2019.
As empresas estão vendo que, apesar do enorme alcance do futebol, há um grande poder de conversão também com o público de outros esportes, muitas vezes com um investimento menor até. 

Com advento da pandemia da COVID-19, uma modalidade que ganhou muito espaço dentro dos sites de apostas esportivas foi o eSports, que apareceu como uma boa alternativa. Enquanto agência de marketing esportivo, como vocês avaliam esse fenômeno e o que prospectam para os esportes eletrônicos não só quanto às apostas, mas como modalidade esportiva?
O eSports já era algo no nosso radar como agência. Na verdade, já temos alguns pontos de intersecção em relação a corridas de automobilismo virtuais, na quais alguns de nossos clientes estão envolvidos - especialmente durante esse período de paralisação dos eventos ao vivo.
Em relação às apostas esportivas para o eSports, creio que é uma adaptação normal e uma demanda de consumo crescente, assim como com outras modalidades. A própria Nascar começou a ativar seu novo patrocinador - a Penn National - nas corridas virtuais que eles realizaram.
O ponto a se ressaltar é que a regulamentação de alguns países não previa essa abertura, então isso pode ter sido um desafio nesse momento de redirecionamento de atenções, mas também serviu para uma reflexão sobre esses entendimentos.

Outra modalidade esportiva de habilidade ligada aos jogos que é um grande sucesso de público e com importantes ações de marketing é o poker. Como você avalia o case do Poker e o como as outras modalidades esportivas poderiam usar essa experiência para se desenvolver?
O Poker teve um crescimento interessante no Brasil ao se envolver com famosos jogadores de futebol, como o Ronaldo e Neymar, além de ter sido reconhecido oficialmente como "esporte da mente", o que quebrou paradigmas do grande público. Conquistou espaço na televisão e também como ferramenta para ativações de relacionamento.
Nesse sentido, é importante que os sites de aposta consigam mostrar de forma mais ampla as suas atuações em relação ao jogo responsável, à prevenção de manipulação de resultados, e também a seriedade como empresas apoiadoras/ patrocinadoras do esporte, e se configurar como mais uma plataforma de entretenimento e engajamento paralelo aos esportes já consumidos pelo público.

Fonte: Exclusivo GMB