Games Magazine Brasil - Como se construiu sua carreira na área de tecnologia de jogos, num país em que a atividade não é permitida, sabendo que no início de sua atividade trabalhou no desenvolvimento da Show Ball, uma das mais icônicas máquinas da época de ouro do videobingo? Paulo Nova - Embora a operação de jogos de azar seja ilegal no país, toda a parte desenvolvimento voltada para mercado de exportação é perfeitamente legal. Acabei entrando na área de videobingo por pura sorte, o coordenador de curso na universidade me indicou para um dos alunos que procurava novos talentos e com isso acabei trabalhando na empresa que desenvolveu a Show Ball. A empresa era enorme e tive um pouco de contato com a parte de desenvolvimento, montagem das máquinas e operação, eu achava tudo muito fascinante. Apesar de gostar muito da empresa queria atuar como programador de jogos e então acabei me afastando um pouco da área de gaming para trabalhar em outras empresas de jogos de entretenimento, e assim fui desenvolvendo a minha carreira como programador, até que em 2010 já em Florianópolis retornei às origens na área de gaming desenvolvendo jogos de videobingo e slots machines para uma empresa de Florianópolis, onde vim a conhecer minha sócia Fabiola.
Foi um susto o fim dos bingos e do videobingo ou foi um desafio para você seguir atuando num segmento que havia sofrido o impacto do fim da atividade?
Sim, na época da proibição eu estava tentando alavancar minha própria empresa na área de Advergames, mas fiquei chocado pois com o fechamento das casas de bingos muitos amigos estavam perdendo o seu emprego, A criadora da Show Ball empregava mais de 300 pessoas e tratava todos os funcionários com muito prestígio. Foi realmente uma pena toda essa situação e se ao invés da proibição o governo houvesse realizado uma regulamentação a situação teria sido bem diferente.
Naquele momento o mundo era outro e não se falava tanto de cassinos online. O que mudou de lá para cá?
É verdade que 10 anos atrás já existiam cassinos online, mas o acesso era muito ruim, além disso necessitavam de muitos dados para o cadastro e era necessário instalar aplicativos duvidosos em seu computador. Isso afastava novos jogadores que tem medo de terem suas informações roubadas. De lá para cá, na minha opinião, apareceram muitas tecnologias que viabilizaram os cassinos online, alguns itens em especial: evolução dos smartphones, a rede 4G e o surgimento do HTML5 que gerou um conceito de play Anywhere. Antes o cassino que antes era em um estabelecimento agora podia estar na palma da sua mão. Logo em seguida veio o boom das criptomoedas e agora o jogador não precisa nem de um cadastro rigoroso, ele apenas pode criar um username e transferir sua criptomoeda favorita para a plataforma e pronto, tornando todo o processo menos burocrático, isso sem dúvida alavancou muito o mercado online.
Como se especializar numa área tão sensível e conquistar a confiança dos clientes, já que além da qualidade dos jogos em si, há questões de segurança da informação?
Não há um caminho fácil, é preciso fazer diariamente escolhas difíceis, definir prioridades e saber avaliar os riscos. Os clientes querem ter segurança e confiança, e isso abrange muita coisa: transações na carteira dos clientes, RNG de confiança que gere resultados imprevisíveis e sem erros, transparência das informações, conferência das jogadas, eficiência e agilidade no suporte. Aos poucos estamos aprimorando cada um dos itens a assim ganhamos mais a confiança dos clientes. Para aumentarmos essa confiança decidimos submeter nosso RNG e 16 jogos para obtenção de relatório com base no GLI-19 e no mercado colombiano e ficamos muito felizes de sermos aprovados em todos os requisitos, isso realmente dá muita consistência ao nosso trabalho.
Quando vocês fundaram a Caleta em 2013, imaginavam conquistar o sucesso tão rapidamente? Estamos felizes com nossas recentes conquistas porem sabemos que ainda temos um longo caminho pela frente. Por hora estamos aproveitando a jornada e constantemente definindo nossas próximas metas.
Quais foram as principais conquistas tecnológicas da Caleta nestes sete anos sob seu comando na área de desenvolvimento?
Nestes sete anos já fizemos muita coisa e sempre estamos dispostos a grandes desafios. Nossos primeiros projetos foram baseados em plataformas de cassino sociais dentro do Facebook com foco em videobingo e slots. Em 2017 fizemos a criação do nosso game engine em HTML5 que batizamos de Caleta GP5 (Caleta Gaming Platform HTML5) que hoje nos auxilia a desenvolver jogos complexos de maneira muito ágil e eficiente, dependendo das características um jogo de slot pode ser desenvolvido em duas semanas apenas. No final de 2019 desenvolvemos nosso próprio sistema RGS e RNG o que nos permitiu ter mais flexibilidade para integrarmos os nossos jogos junto aos clientes. Em todos os projetos citados além de líder exerci o papel de desenvolvedor juntamente com toda a equipe técnica, gosto de estar com a mão na massa!
Como criar jogos que caem no gosto dos clientes?
É difícil acertar um gosto mundial, então ainda não tenho uma resposta definitiva para essa pergunta, mas analisando os dados vimos que alguns jogos têm funcionado muito bem em certas regiões. Queremos continuar analisando esses dados para chegar a novas conclusões e planejar futuros jogos. Também estamos em diálogo com os nossos clientes para saber quais os jogos que os jogadores estão jogando mais e analisando os concorrentes. De todo modo temos aprendido que um jogo sozinho é apenas parte do sucesso, outra parte é o marketing desse jogo, trabalhar o engajamento do jogo, isso requer trabalho adicional em conjunto com os operadores. Estamos também planejando outras ferramentas de engajamento, uma das quais será lançada em abril que não posso revelar no momento, mas garanto que farão grande diferença e elevarão todo o conteúdo da Caleta para um novo patamar.
A integração com vários operadores foi difícil de ser implementada?
Não foi difícil, nós temos nossa própria Seamless Wallet API que é extremamente simples, segura e bem documentada, nossa equipe é muito ágil em responder as dúvidas de nossos clientes, sempre tentando facilitar o trabalho de quem está do outro lado. Em algumas ocasiões, quando o cliente está com uma fila de integrações muito grande podemos fazer a integração reversa, conectando em sua API, o processo tem sido bem tranquilo até então. Hoje estamos presentes em mais de 200 cassinos.
Em quantos países os jogos da Caleta Gaming estão presentes e como foi a certificação em jurisdições tão diferentes?
Atualmente estamos com presença em muitos países e já estamos em todos os continentes, fizemos a localização dos nossos jogos para 11 línguas a fim de alcançar uma maior distribuição. Estamos ainda adentrando nos mercados certificados e por isso ainda não tivemos grandes dificuldades, porém precisaremos de muita flexibilidade para atender diversos mercados ao mesmo tempo e a estratégia que vamos tomar vai definir o sucesso das operações daqui para frente. Me parece que é comum nesse ponto empresas travarem por não conseguirem alterar suas plataformas para atender o mercado X ou Y, nós temos uma vantagem de termos nascido com um DNA Flex.
Como seguir na vanguarda do jogo e seguir crescendo num mercado tão competitivo?
Acredito que tudo depende de uma boa estratégia e de jogo de cintura. Há lugar para o grande e para o pequeno, temos nosso diferencial e mostramos muita iniciativa. No ano passado focamos muito em enriquecer nosso portfólio com quantidade de jogos e diversidade, lançando slots, videobingos, kenos e lotto. Este ano, além de novas categorias de jogos, como raspadinhas, também iremos desenvolver ferramentas e estratégias para engajar nossos jogadores.
Acredita numa breve regulamentação do jogo no Brasil?
Aqui no Brasil infelizmente é tudo muito enrolado, mas estou torcendo para que isso aconteça em breve. Enquanto isso trabalhamos enriquecendo nossos produtos e nos posicionando para conseguir uma posição de destaque para quando isso acontecer.
Com a regulamentação, a Caleta pretende passar a ser também uma operadora de jogos e não ficar restrita ao desenvolvimento?
Sim, estamos estudando essa possibilidade e o desenvolvimento de uma plataforma a médio/longo prazo, dessa maneira poderemos ter uma visão mais ampla dos jogos e então melhorar nossos produtos.
Fonte: Exclusivo GMB
