JUE 31 DE OCTUBRE DE 2024 - 20:53hs.
Reinaldo Carneiro Bastos

Presidente da FPF defende educação financeira bancada por sportsbooks e limite de gasto em apostas

O presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, defende que o setor de apostas esportivas passe a limitar os gastos de apostadores e que “paguem” pela educação financeira de seus clientes. Para o dirigente, a legislação brasileira está atrasada em relação às mudanças mais recentes no futebol, impulsionadas pela expansão do mercado de sportsbooks.

Cartola há 43 anos e presidente da Federação Paulista de Futebol desde 2015, Reinaldo Carneiro Bastos, 70, diz que a legislação brasileira está atrasada em relação às mudanças mais recentes no futebol nacional, impulsionadas pela expansão do mercado de apostas virtuais.

Para Bastos, essa zona cinzenta tem gerado perdas financeiras para o esporte nacional, pois as empresas de apostas online não pagam impostos. Por outro lado, ele diz que é possível que esse cenário tenha criado um mercado inflacionado para todos os agentes, inclusive empresas de comunicação, que tende a murchar com a implementação das cobranças.

A desregulamentação também explica, segundo ele, a falta de rigor nas punições dos que têm se envolvido em esquemas de manipulação de resultados.

Bastos propõe que uma nova legislação inclua mecanismos para amenizar os efeitos nocivos das apostas, como a definição de limites de quem pode ou não apostar com base em critérios de renda, além do custeio de cursos de educação pelas empresas de apostas.

Possível candidato à presidência da CBF diversas vezes na última década, ele diz que o assunto já está superado para ele.

O futebol brasileiro tem um novo player, que são os sites de apostas esportivas. Como o senhor vê a influência deles no futebol hoje?
Influência política eu não senti nenhuma ainda. Financeiramente, eles estão em 97% das competições, em 97% dos clubes e investindo muito dinheiro. O que me preocupa é que nós estamos já há alguns anos sem regra. Sem pagar imposto.

Qualquer um de nós aqui, se fizermos uma conta, se estivéssemos ficado três ou quatro anos sem pagar imposto, nossa conta bancária estaria muito melhor.

Elas estão patrocinando muito o futebol brasileiro. O que é que vai acontecer quando ela for regulamentada, quando ela passar a ter obrigações e quando ela passar a pagar impostos?
Eu não sei. O que vai acontecer especificamente para o futebol, eu não sei. Se o dinheiro diminuir, o futebol vai sentir. E não é só o futebol. As empresas de comunicação também. Elas estão em rádios, em TV.

O senhor acha saudável incentivar a população de um país como o Brasil a fazer apostas?
Tudo que não tem regra viabiliza esse tipo de comentário. Não tem regra. Isso é um assunto muito grande, muito sério, para viver sem regra.

Acho que a pessoa tem que ter um ganho mínimo para poder jogar ou, de acordo com a sua renda, ter um limite para jogar por mês. Mas, principalmente, não há um investimento das bets para educar.

A educação é fundamental para ensinar ao jovem que ele não pode jogar, ao jovem atleta que ele não pode jogar, ao atleta já profissional que isso é crime, que não pode jogar, ensinar ao cidadão que isso pode ser prejudicial à renda dele, que isso pode prejudicar a família dele.

O senhor defende que isso entre na MP das apostas esportivas?
Em algum lugar tem que ter. Acho que deve haver uma regra para as pessoas. Para muita gente, isso é um vício. Como tal, deve ser tratado, cuidado e observado. Eu acredito que a lei ou a Medida Provisória precisam tratar disso com seriedade, precisam estabelecer uma regra.

De quem deveria ser a responsabilidade de educar?
É sempre do governo. Mas acho que se eu vou patrocinar, tenho que destinar um percentual para educar quem você vai atingir.

Esse é um assunto que já virei a página, não serei candidato à presidência da CBF. Estou no meu último mandato aqui na Federação, eu não posso me reeleger. Chegou a minha idade, eu já contribuí com tudo que eu poderia contribuir

Dizem que as empresas não têm muita disposição em destinar algum dinheiro para isso.
Eu acho essa afirmação, assim, muito genérica. A gente precisa mostrar a eles qual é a regra do jogo. Já que a gente vai começar, vai regularizar isso, vamos atualizar a lei, não é?

Nossa legislação é antiga, arcaica. Não pode ter uma lei que a punição é para a manipulação de resultado. Isso é lá atrás. Agora tem [apostas sobre] escanteio, cartão amarelo, número de falta. Não é só resultado. A gente tem que ser firme nisso.

Fonte: Folha