“A grande virada do setor vem com a regulamentação. Agora que o jogo está ‘combinado’, alinhado com o governo e leis, ele tende a dar mais segurança para as empresas e consumidores e tende naturalmente a crescer”, explica Felipe Mesquita, executivo de contas da Datahub.
Desde dezembro de 2018, as apostas esportivas são previstas em lei como uma operação legítima no país. A regulamentação do setor, contudo, viria a ser construída com o passar do tempo. Cinco anos depois, o governo assinou o decreto que regulamenta o mercado das bets.
“Um mercado mais maduro acaba quebrando o gelo com os desconfiados e, ao trazer segurança para os usuários, deve trazer mais empresas”, aponta Mesquita.
De acordo com o Ministério da Fazenda, no período de um mês no final de 2023, 134 empresas manifestaram interesse em trabalhar com bets no país.
E com a estruturação do mercado, o país também chama atenção lá fora. De acordo com a Datahub, duas empresas estrangeiras buscaram atuar no Brasil em 2023. Já em 2024, a busca aumentou para cinco empresas.
“Embora modesto, esse aumento é significativo e indica um interesse crescente pelo mercado brasileiro, incentivado pela nova legislação que pode oferecer maior previsibilidade e segurança jurídica”, aponta o estudo.
Estas empresas têm um cadastro com a Receita Federal, o que implica conformidade com os requisitos fiscais e regulatórios do Brasil, mesmo estando sediadas em outros países.
Pandemia e tecnologia
Mesquita observa que o setor começou a ganhar força se aproveitando da conexão que a tecnologia promoveu em um cenário de isolamento social.
“A virada veio depois da pandemia, quando as pessoas pararam de interagir diretamente, o que deu espaço para os serviços de tecnologia. O setor de apostas teve um boom muito forte”, aponta o executivo da Datahub.
Jhon Macario, analista de marketing e pesquisa da Datahub, reforça a ideia de que a tecnologia populariza o negócio.
“Antes o negócio era restrito às casas lotéricas. Agora há uma maior acessibilidade pelo smartphone”, indica Macario.
A tendência também entrega o perfil do consumidor deste marcado. De acordo com a Datahub, 59,8% dos apostadores têm de 22 a 36 anos, sendo a principal faixa de idade deste público.
“A geração mais nova é muito conectada ao eletrônico, se deslocar para apostar nem passa pela cabeça”, complementa Mesquita.
Pulverização de setores
André Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), também destaca que o movimento repercute em outros setores da economia, desde tecnologia, com a criação de plataformas que sustentam os sistemas, até comunicação e esportes em geral.
“O setor movimenta bilhões de reais, gera milhares de empregos e, no momento, está extremamente aquecido, em especial depois da regulamentação do governo federal, no final do ano passado”, diz.
O especialista, porém, destaca o processo de amadurecimento do setor após a chancela da União.
“É preciso verificar os erros e os acertos, e evoluir para outras propostas a partir das dificuldades que o mercado encontrar”, diz. “A tendência é que cresça mais ainda e movimente diversos setores”.
Mas Macario reforça que não só dos jovens se faz o movimento das bets, que também atrai um público mais velho “por conta da publicidade durante transmissões”.
Até pouco tempo, apenas seis dos 20 equipes da Série A – a principal divisão do Campeonato Brasileiro –, não tinham como patrocinador principal uma casa de apostas.
O Corinthians se tornou o sétimo integrante desse time após sua patrocinadora master, a VaideBet, rescindir contrato.
“As plataformas não têm ficado só no meio de apostar, uma tendência importante no mercado de entretenimento são ações com influencers, propagandas e times que estão sendo promovidas”, explica Macario.
“Mercado cresceu, cresce e deve continuar crescendo”
Felipe Mesquita aponta que o cenário é positivo para o mercado, e que a sua crescente estruturação ainda deve atrair novas casas e novos interessados em apostar.
“Ainda tem muito espaço [para novas empresas]. O mercado cresceu, cresce e deve continuar crescendo”, pontua.
O analista de marketing e pesquisa aponta que entre as principais pontas onde o setor pode expandir está na de métodos de pagamento.
Fundada em 2018, a Pay4Fun é uma das principais plataformas de pagamento online brasileiras e, em 2022, se tornou a primeira instituição de pagamento do segmento de apostas a receber autorização do Banco Central. A empresa é responsável por “fazer a ponte” entre as casas e os apostadores.
Há 20 anos no mercado, o CEO da Pay4Fun, Leonardo Batista, ingressou nesse mundo com uma plataforma de bingo online.
De 2009 até 2017 começou a operar uma casa de apostas, e segundo o empresário, a maior “dor de cabeça” estava nos métodos de pagamento, que em sua maioria eram irregulares. E é nesse sentido que o setor tem espaço para crescer.
“Tem espaço para crescer em qualidade, tanto em casas quanto métodos de pagamento. Hoje tem muito serviço de má qualidade e irregular”, observa Batista.
Além da regulamentação, o setor tem oportunidade de seguir crescendo ao “combinar duas paixões nacionais”, avalia o empresário. “O brasileiro por si só é apaixonado por aposta, e o sportsbetting vem para coroar essa paixão”, diz Batista.
Mas ele reforça que para o ritmo de crescimento do setor conseguir ser sustentável, com responsabilidade e segurança, é necessária uma distinção: o setor de apostas é voltado ao entretenimento, não investimento.
“Você vê uma série de influenciadores vendendo apostas como se fosse um ganho garantido de dinheiro ou renda extra. Jogo não é dinheiro extra, não é garantia de dinheiro”, reflete Batista.
Fonte: CNN