SÁB 13 DE DICIEMBRE DE 2025 - 23:09hs.
Marco Elias, especialista em conformidade na publicidade

Marketing de apostas: em uma encruzilhada perigosa

Enquanto a regulamentação das apostas esportivas no Brasil ainda engatinha, Marco Elias, especialista em conformidade para marketing, lança um alerta: o setor pode estar repetindo velhos erros e arriscando o que conquistou. Ele propõe uma reflexão sobre o papel da comunicação no novo mercado. Campanhas tratam o compliance como checklist, não como propósito — abrindo espaço para proibições e desgaste da credibilidade.

Em menos de um ano de regulamentação, já temos propostas no Congresso para proibir totalmente a publicidade do setor. Coincidência? Não.

Vou ser direto: enquanto celebramos a regulamentação, estamos ignorando um aspecto que pode destruir tudo que conquistamos.

O que deu errado?

A Lei 14.790/23 e a Portaria 1.231/24 foram claras:  

 Sem promessas de ganho fácil

 Sem bônus para cadastro

 Mensagens de responsabilidade obrigatórias

Mas muitas empresas tratam isso como checklist, não como propósito. Resultado? Campanhas tecnicamente "em conformidade", mas questionáveis.

O problema real

Temos profissionais brilhantes em performance, aquisição, branding e conteúdo, mas poucos com experiência em setores regulados e na gestão dos desafios específicos desse ambiente.

O que vemos: "Aposte com responsabilidade" no rodapé

O que precisamos: educação real sobre limites financeiros

O que vemos: foco total em aquisição

O que precisamos: campanhas que eduquem o apostador

Imagine uma campanha diferente

Pense numa campanha em que o protagonista perde a aposta e ainda assim fica feliz, porque manteve o controle. Mensagem: "Vitória é saber quando parar."

Esse exemplo hipotético representa o que não vemos: publicidade que normaliza limites, não apenas apostas.

A realidade atual

Apostas esportivas: foco em odds cada vez melhore

Jogos online: multiplicadores gigantes - "1000x o seu valor!"

Promoções: chuva de apostas grátis

O que não vemos? Educação. Praticamente inexistente.

Educação de verdade não é compliance. Campanhas educativas reais deveriam falar sobre:

Orçamento familiar primeiro - "Apostas nunca devem comprometer o essencial"

Sinais de alerta - "Mentir sobre perdas ou apostar com raiva são sinais vermelhos"

Prioridades da vida - "Família, trabalho e estudos sempre vêm primeiro"

Isso tem um preço, e os sinais já estão aí:

 Propostas no Congresso para restringir publicidade

Crescente pressão da mídia e órgãos de defesa do consumidor

A escolha é do setor

Continuar priorizando só aquisição e ver a publicidade ser proibida, ou assumir liderança em educação e responsabilidade?

E se repensássemos a proporção entre aquisição e educação nas nossas estratégias de comunicação?

Jogo responsável não é ausência de problema. É presença de cuidado.

E se não assumirmos essa responsabilidade por convicção, a lei fará por nós - de forma muito mais restritiva.

Marco Elias
Especialista em conformidade para mídia e marketing. Coordenador do Comitê Temático de Publicidade, Patrocínio e Marketing Responsável (CT-Marketing) da ABC BET – Associação Brasileira de Conformidade, Boas Práticas, Ética e Transparência em Apostas Esportivas.