SÁB 13 DE DICIEMBRE DE 2025 - 23:13hs.
Marcelo Mansani Munhoz da Rocha, Data Protection na Apostou

Escândalo de manipulação na NBA: o papel das casas de apostas na integridade esportiva

O escândalo da NBA reacendeu o debate sobre integridade esportiva e o papel das operadoras de apostas na prevenção de fraudes. Para Marcelo Mansani Munhoz da Rocha, data protection na Apostou, longe de serem vilãs, as empresas licenciadas mostraram ser parte da solução, detectando e reportando atividades suspeitas antes mesmo da intervenção das autoridades. O caso evidencia não apenas falhas humanas, mas também a força dos sistemas de compliance e monitoramento em todo o setor.

Entenda o caso Billups-Rozier

Na última semana, a NBA foi abalada por um escândalo envolvendo manipulação de resultados e apostas esportivas. Uma operação do FBI prendeu 31 pessoas nos EUA, entre elas o técnico do Portland Trail Blazers, Chauncey Billups (campeão da NBA e integrante do Hall da Fama), e o armador do Miami Heat, Terry Rozier.

As investigações apontam que Billups estaria envolvido em jogos de pôquer ilegais ligados à máfia, enquanto Rozier é acusado de participar de um esquema de apostas esportivas ilícitas. O procurador do caso classificou o esquema como “um dos mais corrutos da história do esporte”, ressaltando a gravidade da situação para a liga.

No núcleo do escândalo está a suspeita de manipulação de resultados em jogos da NBA para beneficiar apostadores. Segundo as apurações, Terry Rozier vinha atuando em conluio com um grupo de apostadores desde 2023: quando ainda jogava no Charlotte Hornets, ele teria combinado de sair mais cedo de uma partida simulando uma lesão, vazando essa informação privilegiada a parceiros externos.

Com isso, os usuários apostaram mais de US$ 200 mil que Rozier teria desempenho abaixo de sua média (em pontos, rebotes, etc.), aposta que se concretizou quando o jogador de fato deixou o jogo após poucos minutos – gerando um lucro milionário ao grupo.

O esquema organizava-se justamente em torno de informações internas sobre quais atletas ficariam fora de jogos ou abandonariam as partidas por lesão, permitindo apostas direcionadas de antemão. Importante notar que essas apostas foram realizadas em casas de apostas online e cassinos legalizados em diversos estados americanos, o que acabou facilitando o rastreamento das atividades suspeitas pelas autoridades, indicando de forma clara que o jogo em ambiente legalizado e regulamentado é sempre mais seguro.

Detecção rápida pelas operadoras de apostas

Um ponto fundamental – e muitas vezes ignorado no imaginário popular – é que as movimentações atípicas de apostas não passaram despercebidas pelos operadores legais. De fato, registros indicam que pelo menos seis casas de apostas em diferentes estados detectaram padrões de apostas suspeitos envolvendo os desempenhos de Terry Rozier naquela partida de 2023.

Essas irregularidades foram compiladas em um relatório por uma empresa de integridade esportiva (a U.S. Integrity) e comunicadas imediatamente às autoridades competentes. A própria NBA chegou a investigar aquela atividade anormal em 2023, embora na ocasião tenha concluído que não houve violação das regras internas da liga. Ou seja, foram as próprias operadoras de apostas que soaram o alarme de uma possível fraude esportiva já no seu início.

Esse comportamento proativo das empresas de apostas não é exceção – ao contrário, reflete a regra entre os operadores sérios e regulamentados. No Brasil e na Europa, por exemplo, casas de apostas têm identificado com rapidez suspeitas de manipulação de resultados, contribuindo para investigações em diversos casos recentes. Um desses episódios envolveu o atacante Bruno Henrique, do Flamengo: a apuração sobre um possível cartão amarelo intencional dado pelo jogador começou a partir do alerta de uma das casas de apostas, que notou um número incomum de palpites concentrados justamente nesse evento específico.

Em outra situação, uma operadora chegou a suspender a oferta de apostas ao perceber que 98% das apostas em cartões naquele jogo estavam direcionadas a um único atleta – com várias apostas de valor máximo registradas em questão de horas. Esses exemplos mostram que as plataformas legais monitoram seus mercados em tempo real e agem imediatamente diante de qualquer atividade fora do padrão esperado, mitigando danos potenciais antes mesmo da intervenção oficial.

Padrões internacionais e cooperação contra fraudes

Os operadores de apostas legalizados e regulamentados seguem protocolos rígidos, alinhados a padrões internacionais de prevenção ao match-fixing. Existe todo um ecossistema de integridade em torno do setor: por exemplo, a International Betting Integrity Association (IBIA) reúne as principais empresas globais para compartilhar alertas sobre apostas suspeitas no mundo todo. Apenas em 2023, a IBIA reportou 184 alertas de possíveis manipulações em competições esportivas, demonstrando o alcance desse monitoramento coletivo (em 2024 foram 251 alertas, numa tendência de alta).

Em paralelo, empresas especializadas como a Sportradar também auditam os mercados em busca de anomalias, incluindo sites não regulamentados, e apontam que fraudadores tendem a preferir plataformas informais sem supervisão justamente por fugir dos controles das casas sérias. Ou seja, nas ligas esportivas modernas, há uma vigilância constante que dificulta cada vez mais a vida de quem tenta manipular resultados em mercados supervisionados.

Além dos sistemas tecnológicos, a cooperação institucional é um pilar chave no combate às fraudes esportivas. As casas de apostas regulamentadas trabalham em conjunto com ligas e autoridades, compartilhando informações e boas práticas. De fato, em jurisdições organizadas, reportar atividades suspeitas não é opcional – é uma obrigação formal.

No Brasil, por exemplo, existe obrigação legal que determina que as operadoras comuniquem todos os casos suspeitos ao regulador federal (Secretaria de Prêmios e Apostas) imediatamente, sob pena de multas pesadas e até perda da licença de operação. Mesmo antes dessa exigência legal, as empresas sérias já adotavam esse compromisso voluntariamente, atuando em sintonia com órgãos fiscalizadores para prevenir golpes.

Para cumprir esses padrões internacionais e garantir jogos limpos, o setor de apostas investe continuamente em tecnologia e iniciativas de integridade. Destacam-se algumas medidas recorrentes:

- Monitoramento em tempo real: as operadoras utilizam ferramentas avançadas (inclusive inteligência artificial) e equipes dedicadas para vigiar as apostas 24/7, identificando movimentos fora do padrão tão logo eles ocorram.

- Redes globais de alerta: por meio de associações como a IBIA e parcerias com empresas de auditoria (ex: Sportradar), criam-se canais internacionais de troca de informações, permitindo que um padrão suspeito detectado em um local seja imediatamente sinalizado para reguladores e ligas esportivas ao redor do mundo.

- Parcerias com autoridades esportivas: operadores licenciados firmam convênios de cooperação com ligas, clubes e órgãos públicos, compartilhando dados investigativos e expertise para apoiar apurações oficiais.

- Programas educativos e compliance: o setor tem promovido workshops de integridade esportiva para atletas e dirigentes, explicando os riscos e consequências do match-fixing. Internamente, as empresas adotam normas rígidas de compliance, com processos de due diligence, canais de denúncia e treinamento contínuo de funcionários para prevenir e detectar qualquer indício de fraude.

Todas essas iniciativas refletem um compromisso claro: proteger a integridade das competições e, por extensão, a confiabilidade do próprio mercado de apostas. Operadores licenciados sabem que seu negócio de longo prazo depende diretamente da confiança do público de que os resultados esportivos são legítimos. Assim, agem em alinhamento total com autoridades esportivas e policiais, formando uma frente única contra a manipulação de resultados.
 


Integridade do mercado vs. mitos comuns

A seriedade com que as casas de apostas legalizadas encaram a manipulação de resultados contrasta com um mito bastante difundido no senso comum. Muitos imaginam que “a casa sempre ganha” e que os operadores poderiam, em teoria, até incentivar jogos manipulados para lucrar mais. Na realidade, nada poderia estar mais longe da verdade. Manipular para lucrar distorce o propósito do mercado – a ética e a imprevisibilidade genuína são a base do entretenimento das apostas.

Se os clientes desconfiarem que os jogos são de cartas marcadas, todo o ecossistema desmorona. Além disso, do ponto de vista financeiro, as empresas sérias têm muito a perder com fraudes esportivas: elas podem acabar pagando prêmios indevidos em resultados artificiais e, ao fazê-lo, sofrem prejuízos diretos, aumentam o risco de ações judiciais de outros apostadores lesados e mancham sua reputação junto ao público e aos reguladores. Ou seja, não há ganho sustentável em resultados combinados para quem opera dentro da lei – pelo contrário, isso representa um rombo e um risco enorme ao negócio.

Vale destacar também que os verdadeiros conspiradores preferem atuar fora do alcance das bets regulamentadas. Na prática, o que se vê é que fraudadores optam por sites de apostas clandestinos ou mercados sem regulação rigorosa, fugindo deliberadamente dos mecanismos de controle dos operadores licenciados. Isso reforça que as grandes empresas de apostas não estão do lado desses esquemas – na verdade, são inimigas naturais deles.

Elas cooperam com investigações justamente para expurgar os maus elementos que tentam usar o esporte para ganhos ilícitos, porque sabem que a transparência e a lisura são indispensáveis para a sobrevivência e credibilidade do setor.

Conclusão: compromisso com a lisura esportiva

O escândalo envolvendo Chauncey Billups, Terry Rozier e outros expõe a face sombria que a manipulação de resultados pode ter, mas também traz à tona um ponto positivo importante: o sistema de integridade esportiva funcionou. As próprias operadoras de apostas identificaram e notificaram as autoridades sobre as anomalias, a NBA e o FBI atuaram, e os envolvidos estão enfrentando as consequências. Fica claro que o mercado de apostas legalizado e regulamentado está alinhado com a integridade do esporte – não contra ela.

Para operadores de apostas e reguladores governamentais, este caso serve de lição e reafirmação. Reforça-se a importância de manter e aprimorar os mecanismos de monitoramento, denúncia e cooperação internacional contra fraudes.

Mostra-se, na prática, que a busca pela lisura das competições é interesse de todos os atores sérios: das ligas esportivas, das autoridades públicas e, sem dúvida, das empresas de apostas comprometidas com um entretenimento justo. Combater a manipulação de resultados não é apenas proteger os fãs e a credibilidade do esporte, mas também proteger o próprio mercado de apostas – um mercado que, quando bem regulado, quer ver o jogo sendo decidido dentro de quadra, e não nas mãos de esquemas criminosos.

Em suma: integridade não é apenas um jargão para o setor de apostas, mas um valor operacional diário. O esforço contínuo das casas de apostas legalizadas em detectar, reportar e prevenir qualquer indício de match-fixing é a melhor resposta contra o ceticismo.

A Apostou aplica estas boas práticas diariamente, adotando práticas rigorosas de monitoramento e cooperação com entidades reguladoras e empresas especializadas na detecção de manipulação de resultados, reafirmando seu compromisso com a transparência, o jogo responsável e a lisura do esporte.

Casos como o de Billups-Rozier, por mais negativos que sejam, deixam uma mensagem clara: fraudes serão descobertas, e quem aposta na ética sempre vence no longo prazo.
 

Marcelo Mansani Munhoz da Rocha
Legal, compliance, data protection na Apostou, membro da Comissão de Direito dos Jogos e Loterias