Games Magazine Brasil - O que mudou na prática com a regulamentação do setor e como isso se reflete na experiência do usuário?
Antonio Forjaz - A regulamentação trouxe algo que o mercado precisava há muito tempo: previsibilidade e segurança. Hoje, o usuário tem uma jornada muito mais transparente, com ferramentas padronizadas como limites de depósito, pausas e autoexclusão, além de processos rígidos de verificação de identidade. Isso gera mais confiança, tanto para quem aposta quanto para o próprio mercado, que agora opera dentro de regras claras e auditáveis.
Como funcionam os processos de verificação de idade e identidade?
Temos um processo em duas etapas, que começa com a checagem documental e pode incluir validação biométrica, dependendo do caso. Todo novo cadastro passa por um cruzamento de informações automatizado e, se houver qualquer inconsistência, o sistema bloqueia preventivamente a conta até que o usuário confirme seus dados. É uma política de tolerância zero, que garante que apenas maiores de 18 anos tenham acesso e que cada conta seja verificada de forma individual.
De que forma a marca adapta sua comunicação para atender às novas regras de publicidade voltadas ao público adulto?
A principal mudança está na segmentação e no contexto. Hoje, nossas campanhas são direcionadas exclusivamente a maiores de 18 anos, e todo material publicitário traz mensagens de Jogo Responsável, alertas de risco e incentivo ao uso de ferramentas de controle.
Também adotamos disclaimers em todas as peças e revisamos a frequência e o ambiente de veiculação para garantir que a mensagem chegue apenas ao público adequado. O entretenimento continua no centro da comunicação, mas sempre dentro de um ambiente seguro e responsável.
Como a tecnologia da Entain, como o sistema ARC, auxilia na prevenção proativa de comportamentos de risco?
O ARC é um sistema proprietário que usa inteligência artificial para identificar padrões de comportamento que podem indicar risco. Ele analisa em tempo real dados como frequência de jogo, tempo de sessão e variação de apostas.
Quando o sistema detecta uma mudança significativa, ele aciona intervenções graduais, desde mensagens educativas até pausas automáticas e encaminhamento para suporte. É uma abordagem preventiva, que atua antes que o comportamento se torne um problema. Essa tecnologia está no centro da nossa estratégia global de Jogo Responsável.
Quais indicadores internos a Sportingbet usa para monitorar o impacto das suas ações de Jogo Responsável?
A Entain é uma empresa com grande foco em Jogo Responsável. Para além de todos os indicadores tradicionais de marketing para avaliar o sucesso ou não de uma campanha de JR, a Entain acompanha também no detalhe a quantidade de jogadores que estão com comportamento de risco. Isso permite que mensuremos se as campanhas estão sendo ou não efetivas (na lógica do %al de jogadores que demonstrem algum tipo de risco).
Quais os próximos passos que o mercado precisa dar para evoluir em educação e conscientização sobre o tema?
O grande desafio agora é a educação. Não basta oferecer ferramentas, é preciso garantir que as pessoas saibam usá-las e entendam o propósito de cada uma. O setor precisa trabalhar junto para criar campanhas conjuntas de conscientização, padronizar boas práticas e apoiar pesquisas independentes sobre comportamento do jogador. Essa colaboração entre operadores, governo e entidades externas é o que vai consolidar uma cultura de jogo responsável no Brasil.
Após o fracasso da MP alternativa ao IOF, o governo estuda a criação de um imposto retroativo sobre as bets. Qual é a sua visão sobre essa possibilidade e que impactos ela poderia ter no setor?
A Entain sempre se posicionará do lado do regulador e cumprirá todas as regras que lhe forem impostas para poder continuar a operar no Brasil.
Tem muita discussão ainda rolando sobre esse tema, mas a Entain não entende que o imposto retroativo seja a melhor solução para o setor. Vale lembrar que essa discussão sobre imposto retroativo quer cobrar valores de um período anterior à criação do GGR, que é o imposto que pagamos hoje. Isso acaba trazendo insegurança e falta de previsibilidade para o setor e para o mercado brasileiro como um todo.
Como a Sportingbet enxerga o equilíbrio entre competitividade e sustentabilidade diante do novo ambiente tributário e regulatório do Brasil?
Competitividade e sustentabilidade caminham juntas. Um mercado competitivo precisa ser previsível, e isso só acontece com uma regulação estável e uma carga tributária equilibrada. Do nosso lado, a sustentabilidade vem de investir continuamente em compliance, tecnologia e proteção ao usuário. Acreditamos que o crescimento só faz sentido se vier acompanhado de responsabilidade. Esse é o caminho que garante a longevidade do setor.
Na sua visão, qual deve ser o papel das operadoras líderes — como Sportingbet — na construção de um mercado responsável, transparente e de longo prazo no país?
As operadoras líderes têm a responsabilidade de puxar o padrão do mercado para cima. Isso significa liderar pela transparência, compartilhar boas práticas, apoiar pesquisas independentes e contribuir para a evolução da regulação. É assim que se constrói um setor sólido, que gera confiança no público e nas autoridades. O foco precisa estar em sustentabilidade, segurança do usuário e integridade do ecossistema.
Como a Sportingbet utiliza a IA para melhorar a performance de plataforma e de seus usuários?
Como outras empresas, a Entain dispõe de times focados em IA e que visam melhorar a efetividade da operação como um todo. Desde o marketing (criativo) até à análise de dados, como casos mais diretos e evidentes. Dito isso, a Sportingbet decidiu também lançar o primeiro LLM de bets aqui do brasil, o SportingBot. Ele tenta desmistificar. Explicar às pessoas como funcionam as apostas, trazendo sempre junto o conteúdo educativo e de jogo responsável também.
Com o Congresso travando a proposta de aumento da taxação sobre as bets, como a Sportingbet avalia esse impasse?
Permanecemos atentos e dispostos a colaborar com o regulador e com o governo, como sempre. Entendemos que a regulamentação é recente e que ainda vai ter bastante conversa. Dito isso, o nosso grande foco e aquilo que acreditamos que fere muito o setor, e por consequente a vida do consumidor, são as ilegais, que importante ressaltar, não tem mecanismos de jogo responsável, nem de prevenção, nem nenhuma forma de proteção ao apostador.
Entendemos que esse esforço seria o que traria mais retorno (inclusive financeiro) ao governo, porque ao combater o mercado ilegal, a arrecadação do governo aumenta já o apostador é levado para plataformas que pagam impostos no Brasil, e conforme já dito, oferecem mecanismos de jogo responsável; e estamos dispostos a colaborar para encontrar soluções para o problema.
Há um entendimento no setor de que a previsibilidade tributária é essencial para consolidar o mercado regulado. Na sua visão, qual seria o modelo ideal de tributação para garantir equilíbrio entre arrecadação, competitividade e sustentabilidade das operadoras no Brasil?
Há um entendimento no setor de que a previsibilidade tributária é essencial para consolidar o mercado regulado. Na sua visão, qual seria o modelo ideal de tributação para garantir equilíbrio entre arrecadação, competitividade e sustentabilidade das operadoras no Brasil?
A regulamentação está muito bem construída e bem escrita como ela está. Sabemos que vão haver novas iniciativas, eventualmente novas restrições para o setor. Nos parece que a carga tributária hoje já é suficiente para podermos ter um ecossistema sustentável de longo prazo. Como disse anteriormente, acredito que o maior foco tem que estar em atacar o mercado ilegal, que representa +\- 50% do setor, logo duplicaria a receita tributária, sem precisar aumentar taxação.
Fonte: Exclusivo GMB