Se você trabalha com mídia, CRM ou afiliados no mercado de bets, provavelmente já percebeu: o canal de e-mail marketing perdeu força. Não se trata de um erro de execução, mas sim de uma série de movimentos estruturais que estão mudando a lógica da conversão nesse ecossistema. Vamos aos pontos:
Saturação de base: o usuário já foi impactado dezenas de vezes por ofertas genéricas. Bônus repetidos, objetos de desejo esgotados e call-to-actions que já não seduzem. A base está fria ou pior, imune.
Crise de deliverability: provedores como Gmail e Outlook aumentaram os filtros, e domínios ligados a casas de apostas estão com reputação comprometida. A taxa de entrega caiu. E quando entrega, é spam.
Desconfiança sistêmica: com tantas ofertas mal explicadas, fraudes isoladas e um cenário ainda não totalmente regulado, o usuário médio responde com ceticismo. E e-mail não é o canal ideal para resgatar confiança. Ele exige que ela já exista.
Mudança de canal: o apostador moderno está no Telegram, no WhatsApp, no push, no conteúdo ao vivo, no influenciador. A lógica é instantânea, imersiva, emocional. O e-mail perdeu timing e apelo visual.
Antecipação à regulação: com o compliance batendo à porta, muitas marcas optaram por reduzir o uso de bases herdadas ou pouco rastreáveis. A preferência agora é por mídia programática, tráfego qualificado e redes de afiliados com estrutura.
Não se trata do fim do e-mail, mas da maturidade de um canal que já não pode carregar sozinho o peso da conversão em um ambiente tão competitivo, regulado e sensível à confiança. O comportamento do usuário mudou, os filtros se tornaram mais agressivos, a tolerância à repetição caiu, a jornada de impacto encurtou.
A indústria de apostas digitais, pressionada pela regulamentação iminente e por um senso público ainda difuso sobre o que é marketing responsável, precisa compreender que não se constrói confiança com atalhos nem com templates herdados de outras indústrias.
Enquanto alguns ainda tratam o e-mail marketing como uma simples automação de disparo, o verdadeiro desafio está em reconectar intenção, contexto e relevância dentro de uma jornada fragmentada, onde cada ponto de contato precisa ser legítimo, estratégico e consentido.
E aqui fica o ponto crucial: o marketing digital no setor de apostas NÃO é o vilão, como alguns discursos oficiais parecem insinuar. Ele é parte da solução. Sem ele, não há compliance visível, não há educação de usuário, não há construção de narrativa ética. E, sobretudo, não há geração sustentável de valor.
Ignorar isso é condenar o setor a repetir os mesmos erros de comunicação que afastam o usuário e desacreditam o mercado. É hora de profissionalizar de vez a conversa. O jogo mudou. E a leitura precisa acompanhar.
Brunno Motta
CBO na Adzappy