VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 05:55hs.
Alexandre Fonseca, CEO da Superbet

"Aumento de impostos nas bets reduz margens, gera insegurança jurídica e fortalece o ilegal"

Em entrevista à Folha, Alexandre Fonseca, CEO da Superbet, afirmou que restringir apostas para beneficiários de programas sociais cria “cidadãos de segunda categoría”. O executivo criticou o aumento abrupto da tributação, que “enfraquece o mercado regulado e fortalece o ilegal”. Fonseca ainda revelou medidas contra manipulação, como a parceria com a Sportradar para monitorar jogos e treinar atletas, porque a credibilidade é vital para o futuro do setor.

A chegada das bets gerou resistência de bancos, varejistas e até concessionárias de água e energia, que passaram a competir pelos ganhos mensais dos brasileiros. No entanto, para Alexandre Fonseca, CEO da Superbet, uma da principais do ramo, são elas que hoje enfrentam ameaças no negócio.

Administrador pela UFRJ, Fonseca fez carreira como executivo na indústria de games e, posteriormente, apostas. Entre 2014 e 2022, ele ocupou posições de chefia em empresas como Lottoland.com, Bonafides (gestora de pagamento) e Kaizen (dona da Betano) até assumir, em 2023, a Superbet.

Com menos de um ano de atuação regulamentada, as empresas gastarão muito mais com o possível aumento da taxa de apostas, de 12% para 18%, e soluções para barrar criminosos, que estimulam a manipulação de resultados de partidas esportivas, carro-chefe das apostas.

Folha - As bets pagaram milhões pela legalização e, depois, houve acusações de uso do Bolsa Família, de manipulação de resultados e, por fim, o governo quer aumentar as taxas. Como isso afeta o setor?
Alexandre Fonseca - Esses ataques prejudicam nosso faturamento. Vamos por partes. O Banco Central, no ano passado, divulgou números sobre o uso do Bolsa Família [em apostas], depois foi desmentido [com um estudo do setor feito pela LCA]. Não temos interesse em receber recursos de qualquer tipo de benefício [social]. A gente clama pela restrição do uso do benefício e não do beneficiário.

Como assim?
Quando se restringe o beneficiário, seja ele de Bolsa Família, BPC ou auxílio-desemprego, de apostar, cria-se um cidadão de segunda categoria. Existe uma pauta hoje no Senado pela aprovação de cassinos. [Se for aprovada] Será preciso apresentar um comprovante de que não é beneficiário para poder entrar nesses estabelecimentos? Diria que é uma medida de segregação social.

O que sugere, então?
Parte do sistema bancário brasileiro, das autoridades e até do modelo como são pagos os benefícios hoje de conseguirem segregar o benefício. Tenho medo que, em algum momento, a gente olhe para o passado, lá no futuro, e enxergue isso como uma forma de apartheid financeiro da população brasileira. Daqui a pouco, será preciso ter uma carteira de não beneficiário para consumir álcool. É um caminho perigoso.

Mas o benefício é um dinheiro público a ser destinado ao básico para a sobrevivência do cidadão. Você discorda disso, então?
Sou a favor de que os benefícios sociais não sejam usados para jogos, álcool, tabaco. No BPC, por exemplo, a lei permite atividade informal desde que a renda esteja dentro do limite. E hoje, na prática, não é possível para nenhuma plataforma identificar se o valor apostado veio do benefício ou de outra fonte de renda.

É uma renda muito baixa.
O governo não pode tutelar sua renda.

Quanto o aumento da tributação prejudica?
É extremamente impactante. Existe o impacto não só em margens de lucro e receitas, mas o da insegurança jurídica. Planos de negócio, com retorno de investimento, feitos com base em um determinado framework [padrão] tributário, passam a ter um aumento de 50% na tributação do dia para a noite. Não há negócio que sobreviva num ambiente tão instável. Isso enfraquece o setor regulamentado e fortalece o ilegal.

A manipulação de resultados de partidas esportivas ganhou força com as bets. Como vocês atacam esse problema?
A credibilidade é fundamental para o negócio. Infelizmente, acompanhamos várias denúncias de manipulação de resultados. Antes, elas eram concentradas em competições das séries C e D, segunda divisão de campeonatos estaduais. Hoje, estão em times grandes, da série A.

Contratamos a Sportradar, multinacional que monitora as apostas e envia alertas de manipulação não só para as bets, mas para a Secretaria de Prêmios e Apostas. A CBF e 17 federações também têm parcerias com ela. Creio que 90% do mercado já é monitorado hoje.

Uma equipe da Sportradar fará um workshop com os times que a Superbet patrocina para conscientizar os atletas de como a abordagem [pela manipulação] é feita e como eles colocam a carreira em risco ao aceitá-la. Isso afeta também a credibilidade do clube, do campeonato e do mercado de apostas. Jogo é confiança.

Fonte: Folha