SE BEBER, NÃO DIRIJA. Foi por causa dessa frase que decidi entrar na indústria de apostas para atuar exclusivamente com Jogo Responsável. Durante pouco mais de duas décadas, trabalhei no mercado publicitário, onde tive a oportunidade de liderar a conta da maior marca de cerveja do Brasil.
Foram dezenas de comerciais produzidos e veiculados e, ao final de todos eles, lá estava ela, às vezes também vestida de “Beba com moderação”. É importante? Sim. Funciona? Não.
Ao longo dos anos, “Se beber, não dirija” se consolidou como um mantra da indústria de bebidas alcoólicas, mas também como um álibi. Cumpre-se a obrigação legal, transmite-se a mensagem, mas isso não resolve, por si só, o problema na raiz.
Na indústria de apostas, o paralelo é imediato. A frase “Jogue com responsabilidade” está rapidamente trilhando o mesmo caminho. É uma mensagem obrigatória, que cumpre a função regulatória, mas que, em meio a um mar de odds e promoções, vira paisagem. O operador publica, o apostador lê, o regulador vê.
Do lado das operadoras, há um sentimento de injustiça. Afinal, pagaram outorga, estruturaram operações no Brasil, geraram empregos, atraíram investimento e operam dentro da lei. Ainda assim, enfrentam pressão da mídia, restrições à publicidade e aumento de carga tributária.
Mas, num mercado que precisa provar todos os dias que é legítimo, cumprir as obrigações legais e fiscais não basta. É preciso ir além. Percepção se reverte com percepção, e hoje a dominante é a de que a indústria drena a economia popular e coloca pessoas em risco.
É verdade? Não. Mas, para mudar essa narrativa, não adianta apenas repetir “Jogue com responsabilidade”. É preciso transformar essa frase em prática, adotar políticas consistentes e mensuráveis de Jogo Responsável e comunicá-las de forma unificada, com a voz de toda a indústria. O interesse coletivo precisa prevalecer sobre o individual, especialmente agora, talvez no momento mais crítico desde o início da regulamentação.
Jogo Responsável vai muito além do rodapé. Ele se faz em três etapas, todas já possíveis de implementar no Brasil, com players aptos e credenciados. A primeira é a educação e o estabelecimento de políticas e métricas claras de Jogo Responsável. A segunda é o monitoramento em tempo real e multi-plataforma, capaz de identificar padrões de risco antes que eles se agravem. E a terceira é o encaminhamento e o cuidado com quem precisa, oferecendo suporte e tratamento para apostadores vulneráveis.
Sem essas três camadas atuando de forma integrada, qualquer política será incompleta. E incompleta, ela corre o risco de cair no mesmo lugar-comum de sempre: o clássico “eu finjo que faço, você finge que vê e todo mundo finge que acredita”.
Precisamos mostrar à sociedade e ao poder público que o Jogo Responsável, feito de maneira íntegra, é prova concreta de que esta é uma indústria séria, ética e comprometida com a proteção do jogador e da economia popular.
Não basta dizer que cuida, é preciso provar. O tempo urge. Ainda dá tempo. Partiu?
Thiago Iusim
CEO e founder na @Betshield Responsible Gaming - www.thebetshield.com