VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 06:31hs.
Thiago Iusim, CEO na Betshield

A verdade que a indústria precisa saber contar sobre os R$ 22 bilhões do Tigrinho

Em meio a manchetes sobre os R$ 22 bilhões do “Tigrinho”, o artigo de Thiago Iusim, fundador e CEO da Betshield Responsible Gaming, alerta para a necessidade de a indústria explicar melhor como funciona o setor. O autor destaca o papel do RTP (Return to Player), conceito essencial para entender que o volume apostado não equivale a dinheiro perdido, e que sem esse esclarecimento o debate público segue distorcido.

Todo mês surgem manchetes alarmistas sobre apostas online no Brasil. “R$ 22 bilhões saíram do bolso dos brasileiros para o Tigrinho.” “O dinheiro da picanha e do litrão evaporou em plataformas de azar.” “A economia popular drenada pelos jogos digitais”. O problema não é a preocupação legítima com o impacto financeiro de um setor em crescimento, mas a forma simplista como o assunto é tratado.

Quando o debate é reduzido a números brutos, sem contexto, a opinião pública é induzida a acreditar em meias verdades, que todo o volume movimentado em apostas é dinheiro perdido, queimado, sem retorno algum. Isso não é verdade. E é exatamente aqui que entra um conceito fundamental, que a indústria precisa assumir a responsabilidade de saber explicar: o RTP, Return to Player.

O RTP é, em linhas simples, a porcentagem de todo o dinheiro apostado em jogos de cassino online que retorna em forma de prêmios. Ou seja, não é correto afirmar que, se foram apostados R$ 22 bilhões em um único mês, esses R$ 22 bilhões desapareceram. O RTP mostra quanto desse montante circula de volta para os apostadores.

Na regulação brasileira, o RTP mínimo para jogos de cassino online é de 85%. Em termos práticos, isso significa que, de cada R$ 100 jogados, pelo menos R$ 85 voltam em prêmios aos jogadores.

Em outras palavras, dos R$ 22 bilhões movimentados mensalmente, uma parte significativa retornou aos apostadores em forma de ganhos. O número bruto pode assustar, mas é enganoso se não vier acompanhado da taxa de retorno.

A ausência de RTP no debate público cria um ruído perigoso. Alimenta a ideia de que o setor de apostas é um ralo de dinheiro que ameaça a economia popular, quando na verdade o funcionamento legalizado prevê uma dinâmica diferente. O dinheiro circula, volta, se redistribui.

É claro que há perdas individuais, como em qualquer forma de entretenimento pago, seja streaming, shows, cinema, loteria ou videogame. Mas reduzir todo o setor a uma caricatura de dinheiro evaporado é tão impreciso quanto dizer que a indústria de cinema existe apenas para roubar os ingressos da plateia.

Se o RTP fosse entendido e comunicado de maneira didática, seria possível separar dois debates que hoje se misturam. O primeiro é a necessidade de proteger o jogador vulnerável, garantir educação financeira e ferramentas de Jogo Responsável, e evitar que o entretenimento se torne compulsão.

O segundo é a discussão sobre impacto econômico, arrecadação, patrocínios e geração de empregos. Hoje, esses dois debates se confundem em manchetes que fazem barulho, mas não ajudam a sociedade a compreender a engrenagem.

A transparência sobre RTP também fortalece o argumento de que o mercado regulado é preferível ao ilegal. Porque só no ambiente regulado há garantias de retorno, auditoria contínua e limites estabelecidos em lei.

Esse é um diferencial fundamental que precisa ser comunicado. Do contrário, continuaremos reféns de narrativas simplistas, que somam todo o dinheiro apostado e vendem a manchete fácil de que o brasileiro queimou R$ 22 bilhões em um único mês no Tigrinho.

Não se trata de negar que há riscos, impactos sociais e casos de ludopatia. Eles existem e precisam ser enfrentados com seriedade. Mas enfrentar com seriedade significa também qualificar o debate, introduzir conceitos como RTP na discussão pública e mostrar que a matemática da indústria não é tão linear quanto sugerem os críticos.

E aqui está o ponto central: essa narrativa não vai se corrigir sozinha. É a indústria que precisa tomar para si a responsabilidade de explicar o que é RTP, como ele funciona e por que ele muda completamente a leitura sobre os R$ 22 bilhões mensais.

Comunicar de forma clara e transparente não é só uma defesa do setor, é um dever estratégico. Então, da próxima vez que alguém jogar os R$ 22 bilhões na mesa, que a resposta da indústria venha rápida e firme, com três letras que mudam a conversa: RTP.

Thiago Iusim
Founder | CEO @Betshield Responsible Gaming - www.thebetshield.com