A controvérsia em torno do marketing de influência para atividades de jogos de azar prejudicou o lançamento do setor de apostas licenciadas no Brasil este ano, tornando-se um dos principais focos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar os impactos das apostas na população.
Em junho, o delegado de polícia do estado de Alagoas, Lucimério Barros Campos, alegou que a publicidade de influenciadores era enganosa e aplicava golpes aos apostadores. Além disso, a relatora da CPI, Soraya Thronicke, buscou indiciar influenciadores notáveis como Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra em seu relatório final.
No entanto, a CPI chegou a uma conclusão desfavorável, tornando-se a primeira CPI em uma década a ter seu relatório rejeitado. Fonseca e Bezerra escaparam por pouco de indiciamentos por acusações como fraude e jogos de azar ilegais.
Também entre as recomendações rejeitadas estava a proibição do controverso caça-níquel de temática asiática Fortune Tiger, que tem sido associado a esquemas prejudiciais de marketing de influência.
Em relação ao escândalo e aos apelos mais amplos por medidas de marketing mais rigorosas para jogos de azar, o Senado posteriormente buscou restringir ainda mais a publicidade, incluindo a proibição do uso de influenciadores.
Mas, embora a pressão sobre a publicidade de influenciadores tenha sido substancial, o head jurídico da BetMGM, Eduardo Ludmer, está preocupado que novas restrições ao uso de influenciadores por operadores licenciados possam empurrar os jogadores para o mercado negro.
“Impor restrições excessivas a influenciadores que trabalham com operadores legais pode, inadvertidamente, fortalecer precisamente o mercado que buscamos suprimir: o setor ilegal, que opera sem responsabilização, desconsidera o bem-estar dos jogadores e prejudica a integridade e a reputação do setor como um todo”, afirma Ludmer.
Operadores devem ser responsáveis com anúncios de influenciadores
No entanto, Ludmer enfatiza a importância de os operadores assumirem a responsabilidade ao utilizar influenciadores. Ele acredita que essas parcerias podem servir como uma ferramenta útil para o mercado licenciado se diferenciar dos operadores ilegais.
Ludmer aponta para um estudo recente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável, que constatou que 78% dos brasileiros têm dificuldade em diferenciar sites legais de ilegais.
“O uso de influenciadores no setor de apostas exige um alto nível de responsabilidade e atenção por parte dos operadores, especialmente quando consideramos o alcance e o impacto que uma única publicação ou campanha pode ter em públicos diversos”, continua.
“Esses indivíduos desempenham um papel fundamental na disseminação de uma mensagem vital: apostar não é um investimento financeiro, mas uma forma de entretenimento que deve ser apreciada com responsabilidade e consciência".
“Acreditamos que, com diretrizes claras e uma supervisão eficaz, este canal pode servir como uma ferramenta poderosa para demonstrar o compromisso do setor com a transparência e o Jogo Responsável”.
O setor de apostas licenciadas tem sofrido enorme pressão ultimamente. Além das novas restrições à publicidade, o setor enfrenta atualmente um aumento do imposto sobre jogos de azar para 18% do valor bruto total (GGR).
Mercado ilegal é a principal preocupação das operadoras no Brasil
O alerta de Ludmer é mais um lembrete da batalha contínua que as operadoras licenciadas travam contra a concorrência desleal do mercado negro.
Atualmente, o diretor-gerente da H2 Gambling Capital, Ed Birkin, estima que cerca de 30% do mercado de apostas no Brasil seja offshore.
Ludmer enfatiza que, para que o mercado regulado brasileiro tenha sucesso e alcance seu potencial claramente enorme, a canalização para ofertas legais deve ser um objetivo primordial.
“Para que o ambiente regulatório seja saudável e sustentável, é essencial que a maioria dos apostadores esteja no mercado legal, o que só acontece quando há equilíbrio entre tributação, atratividade da oferta e mecanismos eficazes de combate à ilegalidade”, acrescenta Ludmer.
“O importante é que o modelo regulatório seja estruturado de forma a incentivar continuamente os consumidores a migrarem para o ambiente regulado, garantindo concorrência justa e prevenção de fraudes financeiras. lavagem de dinheiro e proteção ao jogador”.
Fonte: iGB