No início de agosto, o Flamengo, amplamente reconhecido como o maior time de futebol do Brasil, anunciou a rescisão do seu patrocínio máster com a Pixbet, em meio a rumores de atrasos nos pagamentos.
As supostas circunstâncias em torno da rescisão do patrocínio — que vinha sendo divulgado como o maior da história do futebol brasileiro, avaliado em cerca de R$ 470 milhões (US$ 87,1 milhões) por quatro anos — alimentaram rumores de incerteza financeira na Pixbet.
Também marcou a continuação de um turbulento 2025 para a Pixbet. A empresa já teve sua licença para operar no recém-regulado mercado online brasileiro suspensa e restabelecida em diversas ocasiões por falhas técnicas.
A Pixbet exagerou?
A líder de mercado Betano assumiu o posto de principal patrocinadora do Flamengo em um contrato que superou o da Pixbet. Relatos sugerem que o novo acordo vale R$ 250 milhões (US$ 46 milhões) por ano.
Segundo Ed Birkin, diretor-gerente da H2 Gambling Capital, a Pixbet detém 2% de participação de mercado no Brasil, com NGR de R$ 316 milhões (US$ 58 milhões) nos seis meses até 30 de junho de 2025.
Com o patrocínio do Flamengo custando R$ 62,5 milhões (US$ 11,5 milhões) em seis meses, Birkin estima que 20% da receita líquida de jogos da empresa foi gasta apenas com esse acordo.
Em comparação, a Betano — “clara líder de mercado”, segundo Birkin — gerou NGR de R$ 3,5 bilhões (US$ 645 milhões) no Brasil no 1º semestre. Embora o custo do patrocínio seja o dobro do da Pixbet, em R$ 125 milhões (US$ 23 milhões) a cada seis meses, isso representa apenas 3,5% da NGR da Betano.
Com Birkin estimando que a NGR pré-impostos e pós-bônus da Betano seja de R$ 19,5 milhões (US$ 3,6 milhões) por dia no Brasil, seriam necessários apenas 13 dias para cobrir um ano inteiro de patrocínio ao Flamengo. Já para a Pixbet, seriam necessários 72 dias de operação no Brasil, mesmo com seu patrocínio custando metade do valor.
Na visão de Birkin, essa enorme disparidade demonstra o excesso financeiro da Pixbet.
“Se uma parte do seu orçamento de marketing representa 20% da sua receita líquida de jogos, de repente deixa de ser um negócio viável gastar tanto em marketing, a menos que você esteja disposto a operar no prejuízo por um certo período de tempo”, explica.
Marcas internacionais dominam no Brasil
O pódio atual da H2 é todo ocupado por operadores internacionais: Betano em primeiro, seguida por bet365 e Superbet.
Antes da abertura do mercado regulado, muitos acreditavam que os operadores locais dominariam devido ao maior conhecimento do mercado e da cultura brasileira.
Mas Birkin considera que isso foi superestimado, como mostra o fato de Betano, bet365, Superbet e Sportingbet deterem juntas uma participação superior a 50%. Essas marcas trouxeram talentos locais para guiar o crescimento, mas com o suporte e os recursos de gigantes internacionais.
“A visão geral que ouvi ao ir ao Brasil é que os operadores internacionais não poderiam simplesmente entrar e ter sucesso, que seriam as marcas locais que venceriam”, diz Birkin. “O fato é que isso só é verdade se os operadores internacionais não tiverem presença local”.
Operadores menores estão em apuros?
Em junho, Christian Tirabassi, fundador da Ficom Leisure e especialista em M&A, previu um mercado concentrado no Brasil. Ele disse à iGB que de 10 a 12 marcas dominariam, enquanto os operadores menores seriam prejudicados pelas altas barreiras financeiras para entrar e permanecer no mercado.
Apesar de deter apenas 2% de participação, a Pixbet é o 11º maior operador no mercado regulado brasileiro, segundo a H2. Entre as 173 marcas licenciadas monitoradas por Birkin e pela H2, excluídos os 19 primeiros, os 154 restantes têm em média apenas 0,1% de participação.
Com muitos operadores faturando ainda menos que a Pixbet, Birkin sugere que outros menores podem enfrentar problemas semelhantes, especialmente com os aumentos de impostos e novas restrições de publicidade que parecem estar a caminho.
Birkin compara o mercado brasileiro ao dos EUA, onde o grande número de operadores diminuiu com o tempo, levando empresas como Betway, Evoke e Unibet a saírem em 2024 devido ao domínio das maiores.
“Se o 11º maior operador pode ter problemas, então o 10º, o 9º e o 8º também podem, assim como o 99º, 100º, 110º, 120º”, acrescenta Birkin.
A aposta da Pixbet no Flamengo não deu certo
Segundo Birkin, a Pixbet fez uma aposta com o patrocínio ao Flamengo que não se pagou.
O Flamengo lançou no ano passado uma nova marca de apostas chamada Flabet, gerida pela Pixbet e que trazia a identidade do clube.
Com uma participação média de mercado de apenas 0,15%, Birkin concorda que a estratégia de mirar exclusivamente nos torcedores do Flamengo ignorou o restante do público-alvo potencial.
Ele ressalta que, embora o futebol brasileiro seja incrivelmente popular no país, não tem a mesma força internacional da Premier League inglesa ou de outras competições europeias.
Apesar dos problemas da Pixbet, Birkin acredita que ainda há espaço para operadores menores no mercado brasileiro, desde que mantenham uma abordagem financeira sensata.
“Lembre-se de que a Pixbet é o 11º maior operador, mas existe quem esteja em 20º lugar com menos da metade do tamanho”, conclui Birkin. “Mas se tiver melhor controle de custos, é um negócio mais bem administrado.
“Você pode tocar um negócio menor que a Pixbet, mas precisa ter controle de custos. Não dá para gastar R$ 125 milhões (US$23 milhões) por ano patrocinando o Flamengo. Você não está faturando esse montante.”
Fonte: iGB