VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 05:01hs.
Thiago Iusim, CEO da Betshield

Como prevenir que a “Ludo” vire “Patia"

O jogo sempre acompanhou o homem, mas quando a diversão perde equilíbrio, surge a “Patia”: o esvaziamento que ameaça transformar prazer em vício. Entre “Ludo” e “Patia” nasce a ludopatia, inimigo que não pode ser combatido apenas com medidas isoladas. A solução exige responsabilidade compartilhada entre jogadores, operadores e indústria. No artigo de Thiago Iusim, fundador da Betshield, ele mostra como proteger a essência do entretenimento antes que ele perca seu sentido.

Jogar sempre fez parte da humanidade. O ato de jogar atravessa séculos porque atende a algo essencial em nós: imaginar, competir, interagir, se divertir. O jogo é “Ludo”, e nessa palavra está a leveza, a brincadeira, o tempo que passa rápido porque faz sentido. O jogo, em sua essência, é alegria.

Mas esse prazer pode também carregar um risco. Quando a busca pela diversão perde equilíbrio, quando o estímulo já não satisfaz, surge a “Patia”. “Patia” é esvaziamento, desinteresse, frustração. É quando aquilo que antes encantava passa a entediar, machucar ou gerar desconfiança. E quando “Ludo” e “Patia” se encontram, nasce a Ludopatia: o vício que rouba do jogo sua própria razão de existir.

Esse é o inimigo real. E não se combate ludopatia com cercadinhos isolados. Limites de depósito, pausas obrigatórias, mensagens de alerta. Tudo isso importa, mas funciona como muros baixos em terrenos separados. O problema é que o jogador circula. Ele cruza fronteiras digitais, abre várias contas, busca novas promoções, troca de plataforma quando perde ou ganha demais. O que um operador enxerga sozinho é apenas um fragmento. O risco maior está no que só a indústria pode enxergar em conjunto.

É aqui que entra a responsabilidade. E ela tem três camadas. Primeiro, a individual: o jogador precisa ter informação clara, ferramentas simples de controle e espaço para tomar decisões conscientes. Depois, a dos operadores: entender que ajudar o cliente a controlar impulsos não reduz receita, aumenta permanência. Um operador que cuida do jogador não perde apostas, ganha confiança, fidelidade e lifetime value. Por fim, a da indústria como ecossistema: compartilhar inteligência, reconhecer riscos coletivos e responder de forma uníssona.

Hoje, muito do que se chama de “jogo responsável” ainda é visto como obrigação regulatória. Implementa-se o mínimo para cumprir a norma, não para resolver o problema. Essa leitura limitada, quase defensiva, transforma uma ferramenta estratégica em mera formalidade. Mas talvez seja hora de virar o jogo.

Porque o jogo responsável não é inimigo do faturamento. Pelo contrário. Quando bem implementada e comunicada de forma honesta, a responsabilidade converte. Fideliza. Gera valor. O operador que oferece proteção real cria um diferencial que nenhum bônus ou design de aplicativo consegue copiar. Num mercado em que tudo se parece, com odds multiplicadas, layouts parecidos e ofertas agressivas, confiança é o diferencial verdadeiro.

E confiança é o que mantém a “Ludo” viva. Sem ela, o setor perde sua licença social. E sem licença social, nenhuma licença regulatória se sustenta.

O desafio, portanto, não é apenas cumprir regras, mas antecipar riscos. Não basta identificar o comportamento compulsivo quando ele já se instalou. É preciso mapear padrões, entender o ciclo de vida dos jogadores, agir antes que a diversão se transforme em compulsão. Isso exige tecnologia.

Se a indústria não proteger a “Ludo”, a sociedade vai escolher a “Patia” por ela.

Thiago Iusim
Fundador e CEO na Betshield Responsible Gaming - www.thebetshield.com