VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 06:31hs.
Homens, jovens e de baixa renda são os maiores usuários

Mais de 16% dos torcedores já apostaram em partidas de futebol, mostra Pesquisa O GLOBO/Ipsos-Ipec

Jovens, formados no ensino médio e de baixa renda: este é o perfil mais recorrente de usuários de plataformas de apostas online no Brasil, apontou a Pesquisa O GLOBO/Ipsos-Ipec, a primeira a levantar números sobre o tema entre torcedores no país. De acordo com o levantamento, 16,6% deles já apostaram em partidas de futebol.

Dos torcedores entrevistados, 3% disseram que apostam sempre, 1,8% responderam frequentemente, 5,9% disseram "às vezes" e outros 5,9% escolheram a opção "raramente".

É o caso do são paulino João Henrique Oliveira, de 25 anos. Designer gráfico, de classe média baixa, ganha entre 1 e 2 salários-mínimos por mês, mas volta e meia faz uns “bicos” para ter uma renda extra com os pais dentro de casa, em Ruy Barbosa, pequena cidade localizada na Chapada Diamantina, Bahia.

Nos momentos de lazer, ele tem como principal forma de entretenimento as apostas esportivas em futebol. João Henrique faz a fezinha em toda rodada, mas não aposta apenas no Bahia, porque nutre “grande afeto”. O importante é provar aos amigos que sabe mais de futebol.

Já apostei em outros esportes, mas o futebol é o que eu realmente paro para assistir e conversar com meus amigos”, diz ele. “Gosto de apostar, mas preciso pelo menos entender o que é que eu estou apostando”.

Embora aposte com frequência, o jovem gasta um tíquete médio de R$ 20, e deixa claro que é um valor “para brincar”, já que entende a jogatina como diversão e não uma possibilidade de enriquecimento.

As pessoas com renda familiar de 2 a 5 salários-mínimos, como João, se mostraram o segmento com mais torcedores que apostam (20,3%), seguidos de pessoas com 1 a 2 salários-mínimos (17%) e de mais de 5 salários-mínimos, com 15,8%. Na faixa salaria mais baixa, de até 1 salário, ocorre uma diferença: são menos apostadores (12,7%), mas que apostam com mais frequência.

O Centro-Oeste tem proporcionalmente a maior quantidade de apostadores (20,30%), mas os nordestinos foram os torcedores que mais afirmaram sempre estar na jogatina: 4,3%, contra os 3,8% do Norte/Centro-Oeste. O Sudeste vem na sequência com 2,2%, e o Sul fecha não apenas como a região que tem menos apostadores assíduos (1,8%), como com a maior quantidade de torcedores que rejeitam apostar (86,8%).

Ampliando o mapa para a condição dos municípios, é possível notar que o interior é onde fica a maior parcela dos apostadores (17,30%, a soma total dos torcedores que apostam deste segmento). A falta de diversidade de eventos culturais nestes locais pode ser um dos fatores para regiões menores estarem com destaque na quantidade de apostadores, aponta o pesquisador Emílio Tazinaffo.

A gente entende que a aposta é mobilizada para o prazer. Em cidades pequenas, quais são outras possibilidades de prazer ou distração?”, diz o especialista.

 



Gamificação

As apostas voltadas para o futebol não geram grande engajamento entre as mulheres: enquanto homens chegam a 22,9% dos apostadores, as mulheres não são nem a metade, ficando em 8%.

Entre jovens, no entanto, as bets são um sucesso. O estudante de medicina Antônio Gomes Júnior, de 24 anos, passou a apostar após ver amigos jogando e admite que se empolgou, mas com o tempo foi se controlando na jogatina.

Na primeira semana, ganhei 500 reais e fiquei com o pensamento de que tinha que ganhar”, diz ele, que “tomou juízo”. “Hoje em dia, não. Jogo por diversão, mais tranquilo”.

De acordo com a pesquisa, jovens entre 16 e 24 anos apostam com muito mais frequência que outras idades. A faixa etária mais jovem da pesquisa tem um número de apostadores muito semelhante aos adultos entre 25 e 44 anos — 25,5% contra 24,4%, respectivamente. Eles são seguidos pelos adultos de 35 a 44 anos (15,90%); de 45 a 59 anos (11,90%) e 60 + anos, com 3,50%.

Mas quando se compara os torcedores com hábito de sempre apostar, a diferença é um abismo: os jovens têm mais que o dobro em pontos percentuais (7,2%) do que a faixa etária seguinte (3,3%). O valor ainda vai diminuindo conforme a idade.

Para Tazzinafo, além do desejo de ascender economicamente com apostas, a gamificação de conceitos da jogatina durante a pandemia foi parte do que influenciou os jovens adultos a mergulharem nas apostas.

O adolescente tende a imitar o outro; é através da interação social que eles vão se desenvolvendo. Na pandemia, tudo isso ficou muito restrito à internet, eles passaram a usar os jogos para manter contato”, diz o pesquisador. “Grande parte destes tem confluência com comportamentos de aposta”.

A pesquisa foi realizada pela Ipsos-Ipec entre 5 e 9 de junho de 2025. Foram entrevistadas 2000 pessoas com 16 anos ou mais em 132 municípios brasileiros. Com nível de confiança de 95%, a margem de erro estimada para o total da amostra é de 2,2 pontos percentuais. Em alguns recortes, a soma pode ser maior que 100% porque foram considerados dois times como preferência.

Fonte: O Globo