De acordo com dados do estudo "Brasil – mercado de jogos de azar on-line", o mercado nacional de jogos online (que incluem as apostas esportivas e os cassinos) é dividido entre as empresas legais, com 49% da receita (R$ 17,4 bilhões), e ilegais, com 51% (R$ 18,1 bilhões).
Os números se referem ao primeiro semestre deste ano, quando foi iniciada a regulamentação. Apesar de os dados serem inferiores ao global (69% das bets são ilegais), o aumento da participação de empresas que não cumprem as regras determinadas pelo governo preocupa.
“Se chegarmos ao ponto em que mais de 60% do mercado for criminoso, você vai ver mais acordos de patrocínio serem cancelados. Se chegar a 75%, vai ver metade do mercado de patrocínios ser cancelado”, afirmou Vali, ao ge.
De acordo com a análise da Yield Sec, a participação das ilegais cresceu 10% entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. A projeção da consultoria é de que elas cheguem a 74% até o fim de 2026.
“No futuro, para empresas legais patrocinarem os clubes, o valor vai diminuir porque ninguém vai fazer o dinheiro que deveria. Esse é o maior medo”, disse o consultor.
“Muitos dos acordos são impulsionados por ego. As companhias os fazem para dizer que são a maior marca de bet no Brasil e que patrocinam os maiores clubes. Até quando você vai fazer isso quando não estiver mais ganhando dinheiro? O ego é afetado por não ter mais dinheiro no bolso”, completou.
Todos os clubes da Série A do Brasileirão são patrocinados por bets – 90% delas ocupam o principal espaço das camisas. Em agosto, o Flamengo anunciou um contrato com a Betano de R$ 268,5 milhões, o maior do tipo no país – há cinco anos, o clube fechou acordo com o banco BRB por R$ 32 milhões anuais.
As operadoras ilegais também representam um risco para a integridade do esporte, na visão de Vali. Ao contrário das regulamentadas, que são obrigadas a reportar anormalidades e suspeitas de manipulação em partidas, as ilegais atuam por baixo desse radar.
“Há a total falta de controle sobre integridade em bets ilegais. Se você tiver atletas corruptos, eles não vão usar as bets legais, em que tudo é reportado. Tudo o que está no espectro ilegal está fora do controle de integridade”.
O estudo identificou 167 operadores legais no Brasil no primeiro semestre, mas outras 2.316 ilegais.
“O que descobrimos em seis meses de mercado legal é ótimo, uma das melhores performances que vemos internacionalmente. Mas com fundações muito frágeis. Se nada for feito, podemos dizer que no ano que vem três quartos do mercado será criminoso. Você começa bem, mas depois você se perde”, afirmou Vali.
O governo federal tem tomado ações contra bets ilegais, mapeando bancos e fintechs que atuam como meio de pagamento para essas empresas, além de uma “caça” a anúncios online dessas companhias.
Em setembro, a Secretaria de Prêmios e Apostas SPA) do Ministério da Fazenda, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Associação Nacional de Jogos e Loterias AANJL) assinaram acordo de cooperação técnica para aprimorar a detecção e o bloqueio de sites ilegais.
Para Vali, esse combate é a melhor forma de proteger o mercado e ampliar a arrecadação – o governo tem tentado ampliar a taxação às bets, hoje em 12%.
“Ao invés de cuidar da regulação das legalizadas, você precisa focar no combate ao crime. Livre-se do crime ou eles vão encontrar um modo de ocupar seu mercado”, disse.
“O Brasil colocou um limite de idade para jogar (18 anos). É claro que você faz isso, todos fazem. Mas é uma oportunidade para o crime, a não ser que você policie o mercado. Criminosos vão pensar: “E os de 15 anos?”. Eles são fáceis de achar, em redes sociais, no Roblox, no Fortnite. Posso encontrar essas crianças. Em algum tempo, eles vão ter 18 anos e não vão jogar com as empresas legalizadas”, concluiu.
Fonte: ge