Na última semana, tive o prazer de participar novamente de um painel da BiS, desta vez em Brasília, onde tudo acontece. Falei novamente sobre a importância de tratar o Jogo Responsável com seriedade e não como um rodapé de comercial ou de post publicitário.
Então, fica a pergunta: estamos realmente tratando o Jogo Responsável como o único super trunfo da nossa indústria?
Quando uma indústria cresce rápido demais, desperta atenção e desconfiança. A das apostas, então, nem se fala. É uma das poucas que, mesmo operando dentro da lei, paga caro por sua própria visibilidade. E quanto maior o sucesso, mais frágil parece se tornar.
O setor vive sob holofotes. Patrocina clubes, ocupa espaços na mídia, movimenta grandes cifras e, inevitavelmente, atrai olhares. Só que o brilho vem acompanhado da lupa. E sob a lupa, qualquer fissura se transforma em narrativa. A verdade é que o mercado regulado brasileiro ainda tem um telhado de vidro, feito da soma da pressa, da falta de coordenação e, principalmente, da resistência em tratar o Jogo Responsável com a seriedade que ele exige.
Desde o início do ano, ouvimos muito que o setor está comprometido com integridade, segurança e responsabilidade. Mas está mesmo?
E não falo de operadores individualmente. Entre o discurso e a prática ainda há um vão perigoso. Muitos falam em compliance, poucos falam em cultura. Muitos exibem mensagens de “jogue com moderação”, poucos mostram o que realmente fazem para monitorar, prevenir e proteger. O risco é estarmos todos participando de um pacto silencioso, o da omissão compartilhada e não o da responsabilidade compartilhada.
O tempo corre. E a chance de construir uma reputação sólida pode escapar antes mesmo de o mercado se firmar. Porque a licença de operação o governo concede. Mas a licença social, essa só a sociedade pode dar. E ela depende de algo simples: transparência.
O Jogo Responsável não é um departamento. É a blindagem moral e reputacional da indústria. A transparência é o que transforma proteção em confiança. O operador que comunica com clareza o que monitora, como age e por que protege, constrói credibilidade.
Se cada operador agir isoladamente, tentando resolver o problema dentro do próprio quintal, o setor continuará fragmentado, reativo e mal interpretado. É preciso coordenação, padrões claros e uma voz unificada. O público precisa enxergar o Jogo Responsável como um valor essencial.
Nosso telhado é de vidro e continuará sendo.
O que pode e precisa mudar é a espessura.
O tempo do “depois a gente vê” acabou.
O Jogo Responsável é a blindagem. E não o Insulfilm.
Thiago Iusim
CEO na @Betshield Responsible Gaming - www.thebetshield.com