SÁB 13 DE DICIEMBRE DE 2025 - 23:13hs.
Leonardo Sampaio, CEO – TQJ

A entrada da Caixa Bet no setor de apostas não é um desvio, é uma convergência global

Os debates em torno de a Caixa lançar sua própria bet tem tomado conta da opinião pública. Manifestações contra a medida tentam desvirtuar a ação do banco estatal, como se fosse algo isolado. Em uma reflexão sobre o tema, Leonardo Sampaio, CEO da Todos Querem Jogar (TQJ) aponta que se trata de uma tendência mundial e que inúmeras loterias globais seguiram o caminho que o Brasil, tardiamente, está trilhando.

Nos últimos dias, muito se discutiu sobre o lançamento da Caixa Bet e a atuação da Caixa Loterias no setor de apostas esportivas e jogos online. As críticas vão desde a suposta contradição com a missão social do banco até o receio de concorrência desigual no mercado privado.

É fato que a recepção inicial foi marcada por rejeição nas redes: pesquisas indicaram mais de 80% de comentários negativos. Mas justamente por isso é importante contextualizar: a entrada da Caixa Bet não é uma aberração brasileira. É parte de um movimento global para migrar o jogo para o ambiente legal, seguro e supervisionado.

O mundo já fez esse caminho. O Brasil está atrasado.

1. BCLC (Canadá) - Opera a PlayNow. +80% do GGR online provincial.

2. Loto-Québec (Canadá) - +CAD$ 400 milhões/ano em cassino, apostas, poker.

3. Danske Spil (Dinamarca) - Estatal. 62% do GGR digital.

4. OPAP (Grécia) - Ex-estatal listada. Forte presença digital.

 5. Veikkaus (Finlândia) - Unificou loteria, cassino e apostas. GGR €1,1 bi em 2023.

 6. Norsk Tipping (Noruega) - Monopólio estatal digital. Mantém liderança mesmo com concorrência estrangeira.

 7. Sisal (Itália) - Ex-loteria vendida à Flutter por €1,9 bi.

 8. Camelot/Allwyn (Reino Unido) - 30 anos operando a loteria. Ampliou atuação digital.

 9. ONCE (Espanha) - Inovação digital alinhada a impacto social.

 10. Tabcorp (Austrália) - Ex-estatal listada. 43% do mercado digital.

Essas operadoras mostram que a combinação entre loteria pública e operação de iGaming não só é viável, como eficaz para proteger consumidores, recuperar o GGR que hoje vai para operadoras ilegais e financiar políticas públicas.

No Brasil, a Caixa Loterias é uma empresa distinta da CAIXA, com governança própria. É ela quem recebeu a licença da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA)/Ministério da Fazenda. O modelo jurídico é similar ao de dezenas de estatais ou ex-estatais no mundo.

O que importa é como será executado:

- Com responsabilidade e jogo seguro?

- Com governança clara e metas públicas?

- Com separação operacional do banco?

- Com compliance e isonomia regulatória?

Se a resposta for "sim", o foco da Caixa Bet é combater o mercado ilegal. Hoje, cerca de 20 bilhões/ano em GGR escapam ao controle do Estado, fortalecendo quem não paga impostos e não protege consumidores. Legalizar, estruturar e fiscalizar é o único caminho para reverter esse fluxo.

Nos EUA, 37 dos 50 estados já regulamentaram o iGaming. A Loteria do Oregon opera apostas via Scoreboard, depois substituída pela DraftKings sob controle da Oregon Lottery. Em Rhode Island e New Hampshire, a DraftKings também opera sob contratos com as loterias estaduais. A DC Lottery faz o mesmo com a GambetDC.

A tendência é clara: estatais e ex-estatais lideram a digitalização do jogo no mundo. O Brasil está apenas chegando por último, e não por acaso.

Leonardo Sampaio
CEO – Todos Querem Jogar (TQJ), do Grupo Sílvio Santos