Games Magazine Brasil - Conte-nos sobre o que a Kinser Content faz e como trabalha?
Sacha Kinser - A Kinser Content ajuda empresas de iGaming a crescer por meio de estratégias e execuções de marketing e conteúdo personalizadas e orientadas para resultados, que inspiram ação e impulsionam o sucesso a longo prazo. Oferecemos soluções sob medida que geram aquisição, retenção e crescimento sustentável.
Qual é a sua relação com o marketing de afiliados no Brasil?
Temos experiência direta no lançamento e expansão de sites afiliados no mercado brasileiro, onde liderei equipes no desenvolvimento e execução de estratégias de SEO e conteúdo baseadas em dados, adaptadas ao comportamento local dos jogadores. Nosso papel foi posicionar os afiliados como guias confiáveis dos operadores mais respeitáveis do país, garantindo tanto conformidade quanto engajamento.
Além da execução, construí estratégias de longo prazo para crescimento sustentável de tráfego, autoridade de marca e aquisição de jogadores dentro do dinâmico ecossistema de iGaming brasileiro.
O que mais se destaca no mercado de afiliados brasileiro em comparação com outros?
O que mais se destaca é a combinação entre imenso potencial e profunda incerteza regulatória. Por um lado, o Brasil representa hoje um mercado de mais de US$ 12 bilhões, com projeções da H2 Gambling Capital indicando que o GGR online deve crescer de R$ 31 bilhões em 2025 para R$ 64 bilhões até 2030. É uma base de usuários cada vez mais sofisticada, diversa e voltada para o mobile — uma oportunidade de longo prazo extremamente atraente para afiliados.
Mas, diferentemente de mercados mais maduros, os afiliados no Brasil enfrentam um ambiente instável: há propostas que poderiam banir o marketing de afiliados, práticas de licenciamento inconsistentes que abriram espaço para operadores não verificados e restrições crescentes à publicidade. Ao mesmo tempo, entre 30% e 50% dos jogadores brasileiros ainda utilizam sites offshore, o que prejudica os operadores regulamentados e mina a confiança pública.
Essa mistura de alto potencial de crescimento com forte volatilidade política e regulatória torna o Brasil único. Afiliados que desejam ter sucesso aqui precisam não apenas acompanhar as mudanças legais e exigências de compliance — especialmente em áreas como jogo responsável e KYC —, mas também contribuir para fortalecer a credibilidade do setor regulado. É um mercado onde os afiliados podem prosperar, desde que sejam adaptáveis e alinhados à construção de um ecossistema sustentável.
Quais estratégias funcionaram melhor para engajar jogadores brasileiros?
As estratégias mais eficazes para engajar jogadores brasileiros têm sido baseadas em confiança e conteúdo, e não em promoções tradicionais. Com as restrições a bônus e apostas grátis, operadores e afiliados recorreram fortemente a influenciadores digitais, que hoje representam alguns dos canais mais poderosos de aquisição e retenção.
Pesquisas mostram que os apostadores brasileiros confiam muito mais em personalidades que seguem, e a capacidade dos influenciadores de interagir diretamente com seus públicos cria um ambiente autêntico e dinâmico para promover plataformas de apostas.
A segmentação também é essencial. Diferentes perfis de influenciadores alcançam nichos variados — futebol, eSports, cassinos e até educação sobre jogo responsável e estratégias de apostas, temas muito buscados desde o boom do mercado.
Afiliados e publishers, por sua vez, estão preenchendo a lacuna de credibilidade ao fornecer conteúdo local, relevante e de alta qualidade, adaptado à diversidade demográfica do país: uma audiência 51% feminina, com média de 39 anos e predominância das classes média e média-baixa, concentrada em São Paulo e Rio de Janeiro.
Essas estratégias — uso de influenciadores, segmentação de conteúdo e foco em educação e confiança — têm se mostrado muito mais eficazes do que ofertas de bônus de curto prazo, ajudando a cultivar lealdade de longo prazo e um crescimento mais sustentável em um mercado ainda em consolidação.
Quais são as maiores oportunidades para afiliados no Brasil hoje?
As maiores oportunidades estão em reduzir lacunas criadas por regulação, geografia e confiança. Com o novo marco regulatório em vigor desde janeiro de 2025, os operadores precisarão de canais fortes e econômicos para adquirir e reter jogadores — e os afiliados estão em posição única para cumprir esse papel.
Primeiro, os afiliados podem penetrar em regiões onde o jogo físico ainda predomina, usando conteúdo personalizado e localizado para atrair públicos que os operadores sozinhos teriam dificuldade de alcançar.
Segundo, podem atuar como construtores de credibilidade em um mercado onde a percepção pública do jogo ainda está se consolidando, aproveitando plataformas estabelecidas, comunidades fiéis e a confiança gerada por influenciadores para apresentar jogadores a operadores regulamentados.
Por fim, à medida que as regras se tornam mais rígidas, os afiliados que priorizarem educação, jogo responsável e engajamento de qualidade não apenas apoiarão a conformidade, mas também fomentarão lealdade de longo prazo.
Em resumo, os afiliados no Brasil têm uma janela rara de oportunidade: deixar de ser apenas geradores de tráfego e se tornarem parceiros essenciais na construção de um ecossistema regulado e sustentável.
Como a regulamentação afetará o marketing de afiliados no país?
A regulamentação vai remodelar a forma como os afiliados operam, deslocando o foco de táticas agressivas de aquisição — como bônus e apostas grátis — para um marketing sustentável e baseado em conformidade.
O marco que entrou em vigor em janeiro introduziu regras mais rígidas sobre publicidade, KYC e proteção ao jogador, o que exige que os afiliados priorizem mensagens de jogo responsável, conteúdo transparente e alinhamento com operadores licenciados.
Ao mesmo tempo, a regulação cria oportunidades: ajuda a legitimar o mercado e posiciona os afiliados como parceiros confiáveis, especialmente ao preencher lacunas de credibilidade e atingir regiões historicamente dominadas pelo jogo físico. Afiliados que se adaptarem rapidamente, investirem em conteúdo local de qualidade e construírem relações de confiança de longo prazo com o público serão os maiores beneficiados neste novo cenário.
Você disse que o maior desafio não é o volume de conteúdo, mas o propósito. Como os operadores podem identificar o propósito verdadeiro de seu conteúdo?
Em 2025, o desafio dos operadores é garantir que cada peça de conteúdo tenha um propósito claro. Para identificá-lo, comece perguntando: quais são os objetivos do negócio? É reconhecimento, aquisição, retenção ou monetização?
Depois, mude a perspectiva: o que o público precisa? Cada conteúdo deve resolver um problema para o jogador — ajudá-lo a descobrir a marca, gerar confiança ou mantê-lo engajado.
A partir daí, mapeie o funil e defina onde cada conteúdo se encaixa: topo (awareness), meio (consideração), fundo (conversão) ou pós-conversão (retenção/fidelização).
Por fim, alinhe os KPIs ao propósito: conteúdo de awareness deve ser medido por impressões e alcance; aquisição, por cadastros ou depósitos; retenção, por engajamento; e monetização, por aumento de receita.
Quando operadores conectam objetivos de negócio, necessidades do público, etapas do funil e KPIs, o propósito verdadeiro de cada conteúdo se torna evidente — e cada peça passa a ter uma função estratégica.
Você percebe diferenças na maturidade das estratégias de conteúdo entre Europa, América Latina e outros mercados?
Na Europa, as estratégias de conteúdo são geralmente as mais maduras. Os operadores atuam há anos em ambientes regulados, o que significa que o conteúdo é altamente orientado por SEO, compliance, jogo responsável e localização multilíngue.
Os afiliados refletem essa maturidade: investem fortemente em SEO, qualidade e otimização de funil, conscientes de que autoridade e confiança sustentadas são o que convertem em mercados competitivos.
Na América Latina, observamos outro estágio de desenvolvimento. Operadores ainda apostam muito em conteúdo promocional e estratégias voltadas à aquisição, refletindo a novidade da regulamentação e a corrida por participação de mercado. Muitos afiliados ainda se concentram em volume e tráfego amplo, mas o nível de sofisticação em retenção, personalização e segmentação ainda está evoluindo.
O potencial, contudo, é enorme — especialmente à medida que operadores e afiliados passam a refinar a localização não apenas linguística, mas também cultural e comportamental.
Em outros mercados, como América do Norte e Ásia, a maturidade varia. Nos EUA, os orçamentos são altos, mas o mercado fragmentado por estado torna o conteúdo de longo prazo mais desafiador. Na Ásia, o foco é mais mobile-first e comunitário, com conteúdo moldado em torno de ecossistemas sociais.
Em resumo: os fundamentos — conscientização, aquisição, retenção e monetização — são universais, mas o grau de maturidade depende do quão estabelecida é a regulamentação, da competitividade do mercado e do quanto operadores e afiliados entendem as necessidades reais do jogador além das promoções.
Pode dar um exemplo prático de ação que aumentou a fidelidade dos jogadores?
Um exemplo prático foi o de um operador que lançou relatórios mensais chamados “Como Você Joga”. Em vez de enviar um e-mail genérico de bônus, a marca criou um relatório interativo para cada jogador com informações como jogos preferidos, tempo jogado, maiores ganhos e recomendações personalizadas. Se o jogador gostava de slots Megaways, recebia uma mensagem dizendo: “Veja três novos títulos Megaways que serão lançados esta semana.”
Essa personalização fez com que os jogadores se sentissem reconhecidos, gerando engajamento emocional e lealdade. Aqueles que interagiram com esses relatórios apresentaram taxas mais altas de depósitos recorrentes e sessões mais longas.
As campanhas de CRM e fidelização estão sendo plenamente aproveitadas no iGaming ou ainda são subestimadas?
Ainda são subestimadas. Muitas marcas concentram seus orçamentos em aquisição, pois é o resultado mais visível no curto prazo. Mas a verdadeira oportunidade está na retenção. Com frequência, o CRM é reduzido a e-mails de bônus ou notificações genéricas, quando poderia ser um canal de conteúdo poderoso.
Os operadores que se destacam estão indo além das promoções: apostam em storytelling personalizado, programas de fidelidade gamificados e conteúdo orientado à comunidade, o que aumenta o engajamento e a lealdade de forma mensurável.
Você disse que o tom de voz é um “sinal de confiança”. Como equilibrar criatividade e compliance?
Vejo o tom de voz como um dos maiores sinais de confiança de uma marca. Os jogadores percebem imediatamente se a mensagem soa consistente, autêntica e segura. O desafio é equilibrar isso com as exigências de conformidade.
Para mim, o segredo é enxergar o compliance como estrutura, não como limitação. Dentro dessas diretrizes, ainda é possível desenvolver uma voz criativa, humana e alinhada à marca. Por exemplo, dá para explicar bônus ou ferramentas de jogo responsável com personalidade e clareza, sem violar regras.
Em mercados emergentes como o Brasil, onde as regras ainda estão sendo definidas, como manter consistência sem comprometer a conformidade?
A chave é construir o tom de voz com base em princípios, e não em promoções. Se a voz da marca for guiada por clareza, responsabilidade e acessibilidade, ela permanecerá consistente mesmo que as regulamentações mudem.
No Brasil, focamos em linguagem simples e transparente que gera confiança, mantendo a criatividade em histórias e conteúdo educativo, não em mensagens centradas em bônus. Dessa forma, o compliance deixa de ser “o que não podemos dizer” e passa a ser “como continuamos soando humanos, confiáveis e alinhados à regulação”.
Na sua visão, qual é o limite saudável entre IA e supervisão humana no conteúdo de iGaming?
A IA é excelente para escala, velocidade e análise, ajudando em rascunhos, estudos de comportamento ou traduções automatizadas. Mas o conteúdo de iGaming é sensível — envolve regulação, proteção do jogador e credibilidade da marca —, e aí a supervisão humana é indispensável.
Humanos trazem contexto, nuance cultural e julgamento de compliance que a IA não consegue replicar. O equilíbrio ideal é deixar a IA com o trabalho pesado de dados e produção, e os humanos no comando da estratégia, criatividade e validação final.
Quais são os erros mais comuns das marcas ao tentar escalar conteúdo rapidamente?
O erro mais comum é buscar volume sem estratégia. Muitas equipes produzem páginas e campanhas em ritmo acelerado sem mapear o funil, os KPIs ou as necessidades reais do público, gerando um excesso de conteúdo sem impacto.
Outro erro é subestimar a localização. Entrar em mercados como Brasil ou México apenas traduzindo conteúdo tende a falhar, porque o material não ressoa culturalmente.
Por fim, muitas marcas esquecem que escalar conteúdo também exige escalar governança — diretrizes editoriais, revisões de compliance e consistência de tom. Sem isso, a qualidade cai rapidamente.
Você defende que o conteúdo não deve ficar isolado no SEO, mas integrado com produto, CRM e marketing. Como convencer líderes céticos disso?
Eu começo mostrando as lacunas. Quando o conteúdo pertence apenas ao SEO, ele gera tráfego, mas perde o jogador depois do primeiro clique. Quando trabalha junto ao CRM, retém; com o produto, educa; com o marketing, constrói marca.
Também uso dados — líderes reagem a resultados. Mostrar a correlação direta entre conteúdo integrado e métricas de engajamento ou receita ajuda a mudar a mentalidade.
Se pudesse dar um único conselho a uma marca que deseja se destacar, qual seria?
Meu conselho é simples: pare de competir em promoções e comece a competir em confiança. Bônus, anúncios chamativos e táticas agressivas são fáceis de copiar. O que não é fácil copiar é credibilidade genuína.
Torne-se a marca em que os jogadores confiam, voltam e recomendam. Seja por conteúdo transparente, voz consistente ou compromisso visível com a proteção do jogador — confiança é o maior diferencial competitivo. Quem conquistar isso se destacará, não importa o quão saturado esteja o mercado.
Fonte: Exclusivo GMB