VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 03:31hs.
Thomas Hannickel, DPO da Legitimuz

Dados, ética e resultados: como conciliar o novo tripé do compliance corporativo

Nos últimos anos, o compliance corporativo deixou de ocupar apenas o espaço tradicional de políticas internas, revisões contratuais e treinamentos mandatórios. À medida que dados se tornaram o principal ativo competitivo e a tecnologia passou a influenciar todas as camadas de decisão empresarial, a conformidade evoluiu para algo maior: um modelo de governança digital. Neste artigo, Thomas Hannickel, DPO da Legitimuz, analisa o tema focado no iGaming.

A transição do compliance corporativo para um modelo de governança digital representa uma mudança estrutural, um novo modo de pensar riscos, responsabilidades e ética em um ambiente onde inovação e regulação caminham lado a lado.

Do compliance convencional à governança digital

O mundo corporativo sempre enxergou compliance como um conjunto de obrigações: cumprir a lei, evitar sanções, implementar controles mínimos. Mas essa visão não responde mais ao contexto atual, marcado por:

* Avanços contínuos em IA e biometria;

* Crescimento exponencial no uso de dados pessoais;

* Pressões regulatórias cada vez mais específicas (LGPD, GDPR, SPA/MF no iGaming, Banco Central, ANPD);

* Incidentes de segurança que colocam reputações e modelos de negócio em risco real.

Hoje, a pergunta-chave deixou de ser “estamos conformes?” e passou a ser:

“Nossa governança digital é capaz de gerar confiança e sustentar o crescimento da empresa de forma segura e ética?”

É aqui que o compliance assume um novo protagonismo.

Compliance como guardião da Integridade digital

Se antes compliance era percebido como um filtro jurídico, agora é um pilar estratégico de tomada de decisões.

Isso porque a governança digital exige:

* Visão integrada entre jurídico, tecnologia e segurança da informação;

* Entendimento sobre riscos emergentes, como shadow AI, deepfakes, sistemas de scoring e automações autodirigidas;

* Capacidade de traduzir temas complexos, como biometria, PLD/AML, privacidade, inteligência artificial, em políticas práticas e aplicáveis.

O compliance moderno atua como orquestrador de integridade digital, equilibrando:

* Proteção de dados;

* Segurança da informação;

* Riscos regulatórios;

* Ética e accountability;

* Expectativas de stakeholders;

* Inovação contínua.

Em setores como os de tecnologia e iGaming, essa função é absolutamente central. São ambientes onde a confiança institucional é determinante e onde cada falha pode custar clientes, licenças e credibilidade.

IBGC e ISO 27001: o alicerce da governança digital

Para sustentar esse modelo, frameworks de governança deixam de ser “boas práticas” e passam a ser infraestrutura crítica.

IBGC: cultura, processos e tomada de decisão

Os princípios do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa – fornecem a base ética que permeia todo o ciclo de governança digital. Eles ajudam a:

* Estruturar processos de tomada de decisão mais maduros;

* Evitar zonas cinzentas em temas sensíveis (vieses algorítmicos, biometria, IA generativa);

* Criar mecanismos claros de supervisão sobre tecnologia e dados;

* Fortalecer a relação com reguladores e parceiros.

ISO 27001: segurança da informação como disciplina organizacional

A ISO 27001, por sua vez, traz o rigor técnico e metodológico necessário para construir um Sistema de Gestão de Segurança da Informação (SGSI) robusto, com:

* Gestão de riscos;

* Controles estruturados;

* Auditorias recorrentes;

* Cultura de melhoria contínua.

Para as empresas de iGaming e tecnologia, onde fluxos de dados são intensos, APIs se conectam a todo instante e incidentes são uma ameaça permanente, a ISO 27001 se transforma em garantia de confiabilidade, interna, regulatória e para o mercado.

O compliance que antecipa o futuro

Governança digital não consiste somente em reagir, mas antecipar. É sobre entender que dados, algoritmos e conectividade criam oportunidades, mas também trazem responsabilidades amplificadas.

O compliance do futuro (que já é o presente) precisa:

* Liderar a agenda de IA responsável;

* Orientar times técnicos sobre limites éticos e regulatórios;

* Fortalecer a cultura organizacional em torno da proteção de dados;

* Garantir que decisões tecnológicas estejam alinhadas ao propósito e à estratégia da empresa.

Quando bem estruturado, esse modelo cria organizações:

* Mais resilientes;

* Mais confiáveis;

* Mais preparadas para crescer em mercados regulados;

* Mais alinhadas às expectativas de clientes, investidores e reguladores.

Governar dados é governar a empresa

No atual momento, não existe crescimento sustentável sem governança digital. Não existe inovação segura sem compliance. E não existe reputação sólida sem confiança.

Diante disso, as empresas que conseguirem integrar ética, tecnologia, segurança e proteção de dados, apoiadas por frameworks como o IBGC e a ISO 27001, estarão na linha de frente da economia digital. 

São elas que definirão padrões, liderarão mercados e construirão relações duradouras com um ecossistema cada vez mais atento à forma como seus dados são tratados.

A governança digital deixa de ser opção para se tornar o novo centro de gravidade das organizações que desejam prosperar na era dos dados.

Thomas Hannickel
Compliance Officer e DPO da Legitimuz

A Legitimuz é uma empresa brasileira especializada em compliance e governança digital para o mercado regulado. Certificada ISO 27001, oferece soluções completas de KYC, prevenção à lavagem de dinheiro, monitoramento de geolocalização e proteção de dados, todas em conformidade total com a Lei nº 14.790/2023.