VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 01:11hs.
Vitória Marques, especialista em mídias & SEO na Legitimuz

Além do KYC: Como blindar CAC e LTV contra a era do Fraud as a Service (FaaS)?

Até pouco tempo, as fraudes digitais eram associadas a indivíduos isolados tentando explorar brechas de segurança de forma manual e, geralmente, desorganizada. Essa imagem, no entanto, ficou completamente no passado. O cenário atual de ameaças digitais evoluiu para uma economia paralela altamente sofisticada, estruturada e escalável. “Estamos na era do Fraud as a Service (FaaS)”, aponta Vitória Marques, especialista em mídias & SEO na Legitimuz, neste artigo.

O modelo de negócio do crime organizado digital

O conceito de "as a Service" transformou a indústria de software através da permissão de escalabilidade sem grandes investimentos em infraestrutura. O crime organizado simplesmente replicou esse modelo de sucesso.

Hoje, em marketplaces especializados e canais criptografados, é possível adquirir pacotes completos de ferramentas fraudulentas com a mesma facilidade de contratar qualquer serviço corporativo.

O que incluem esses pacotes?

*Ferramentas de bypass de verificação: sistemas especificamente desenvolvidos para contornar processos de KYC padrão, incluindo tecnologias que manipulam fluxos de dados em tempo real.

* Bases de dados validadas: informações pessoais completas e verificadas (CPF, RG, endereço, filiação), muitas vezes já testadas em bureaus de crédito, permitindo criação de identidades sintéticas com alta taxa de aprovação automática.

* Infraestrutura de emulação: serviços que simulam milhares de dispositivos móveis únicos, alterando impressões digitais de hardware, geolocalização e endereços IP para replicar comportamento de usuários legítimos distintos.

* Scripts de automação: bots configurados para explorar sistematicamente vulnerabilidades, regras de bônus e promoções em escala massiva.

Essa “democratização” das ferramentas de fraude eliminou a principal barreira de entrada: o conhecimento técnico especializado. Qualquer indivíduo com capital inicial pode terceirizar suas atividades ilícitas, aumentando exponencialmente o volume e a sofisticação dos ataques.

Por que o iGaming é o alvo preferencial dos fraudadores?

O setor de iGaming apresenta características que o tornam particularmente vulnerável e atrativo para operações baseadas em FaaS, afinal, conta com:

* Alto volume transacional diário: bilhões de reais em movimentação

* Velocidade operacional exigida: janelas curtas para detecção

* Pressão competitiva por conversão: fricção mínima no onboarding

* Natureza digital e descentralizada: dificulta rastreamento

O custo do FaaS para as operações

Para entender o real impacto do FaaS para as operações, é necessário analisar além das perdas diretas. O dano estrutural está no desperdício do Custo de Aquisição de Cliente (CAC).

Em detalhes, as operações investem valores substanciais em:

* Marketing e tráfego pago

* Parcerias com influenciadores

* Programas de afiliados

* Campanhas de mídia

Quando esses investimentos direcionam identidades sintéticas ou contas operadas por organizações criminosas, o retorno esperado simplesmente não se materializa.

Pior ainda: além do alto prejuízo ao LTV (Lifetime Value), essas contas:

* Drenam recursos através do abuso sistemático de promoções

* Sobrecarregam equipes de compliance e análise de risco

* Contaminam a base de dados com informações fraudulentas

* Expõem a operação a sanções regulatórias severas

O FaaS também viabiliza lavagem de dinheiro em escala industrial. Valores significativos são fracionados em milhares de transações aparentemente legítimas, o que explora a dificuldade de monitoramento manual em operações de alto volume.

A falência dos controles tradicionais

Diante da sofisticação das operações FaaS, os sistemas de segurança baseados em regras estáticas tornaram-se inadequados, afinal:

1- Regras estáticas são previsíveis: bloqueios baseados em IP, região ou número de tentativas são facilmente contornados por infraestrutura de proxies residenciais e emuladores de alta fidelidade.

2- Análise manual é matematicamente inviável: analistas humanos, independentemente do treinamento, não conseguem detectar manipulações sofisticadas em tempo real. Escalar equipes para revisar manualmente milhares de cadastros diários resulta em:

* Gargalos operacionais críticos

* Fricção na experiência do usuário legítimo

* Custos trabalhistas proibitivos

* Taxa de erro humano inaceitável

3- A assimetria tecnológica é fatal: as organizações criminosas utilizam automação e inteligência artificial em seus ataques. A defesa precisa, necessariamente, ser superior em capacidade tecnológica.

A batalha atual não se trava no nível visual ou documental, mas na análise de metadados, comportamento invisível e orquestração de dados em milissegundos.

O que é necessário para combater FaaS?

O combate efetivo ao Fraud as a Service necessita de uma abordagem de Risk Scoring multidimensional que analise simultaneamente diversos vetores de risco, como:

* Device fingerprinting avançado

Identificação de dispositivos reais vs emuladores através da análise de inconsistências em bateria, giroscópio, sensores e padrões de hardware.

* Geolocalização inteligente

Monitoramento que vai além do IP superficial, analisando latência de sinal, uso de VPNs/Proxies e Location Jump (mudanças de localização fisicamente impossíveis).

* Biometria com detecção de manipulação

Capacidade de distinguir rostos vivos de máscaras, telas ou manipulações digitais, sem adicionar fricção ao usuário legítimo através de movimentos complexos.

* Análise de vínculos e padrões

Cruzamento de dados para identificar conexões entre CPFs legítimos e comportamentos de grupos organizados, mesmo quando as informações individuais parecem válidas.

* Orquestração em tempo real

Integração de centenas de bases de dados públicas e privadas, processando informações em menos de 30 segundos sem comprometer a experiência do usuário.

Sua operação está realmente segura?

Os sistemas tradicionais de prevenção a fraude baseados em regras estáticas ("se o IP for X, bloqueie") são ineficientes contra o FaaS. Como a infraestrutura do crime é dinâmica, as regras estáticas estão sempre um passo atrás.

Além disso, a validação documental simples (OCR) já não é uma barreira suficiente. Os documentos editados digitalmente com perfeição estão disponíveis para compra em massa. O operador que confia apenas na checagem do "papel digital" está, na prática, atraindo os riscos de FaaS para dentro da plataforma.

Para combater uma indústria organizada e tecnológica, a resposta não pode ser manual. É necessário contar com uma arquitetura de defesa partindo da premissa de que o FaaS é a ameaça padrão do mercado atual.

A verificação estática sai de cena para dar espaço à  análise comportamental e contextual, com OCR avançado e múltiplas camadas de verificação, focando na integridade da conexão, na física do movimento do dispositivo e na coerência dos metadados.

Enquanto o mercado de FaaS tenta escalar a quantidade de ataques, os operadores devem estar à frente na qualidade da defesa, garantindo uma crescente com usuários reais, proteção de CAC e de licença.

Vitória Marques
Especialista em mídias & SEO na Legitimuz

A Legitimuz é uma empresa brasileira especializada em soluções de compliance para o mercado regulado, oferecendo KYC com reconhecimento facial, monitoramento de geolocalização e sistema automatizado de PLD-FT alinhado a todas as normas vigentes, com certificação ISO/IEC 27001.