
A jornada pela regulamentação foi extensa e acompanhada por debates acalorados. Por um lado, a necessidade urgente de resguardar os consumidores, combater fraudes e impedir que o setor de apostas fosse relacionado a atividades ilegais estava em pauta.
Por outro, a indústria argumentava sobre o valor de estabelecer um cenário que concilia segurança com espaço para a criatividade florescer. Neste cenário, o marketing de influência é um foco importante aqui – sendo elemento crucial na comunicação das casas de apostas no Brasil, tendo em vista que os influenciadores exercem grande influência sobre as escolhas dos consumidores.
As novas normativas estabelecem diretrizes mais rigorosas para que as empresas de jogos de azar operem sob licenciamento governamental e paguem impostos específicos, com base em seus ganhos líquidos. Além disso, estas regulamentações visam fortalecer as medidas de prevenção ao vício em jogos e proteger segmentos vulneráveis da sociedade, como os menores de idade.
Isso resultou na necessidade de campanhas publicitárias transparentes e esclarecedoras, livres de qualquer tipo de promessa enganosa ou romantização das apostas.
Quando analisamos o Brasil em comparação com mercados desenvolvidos como o Reino Unido, por exemplo, encontramos aspectos em comum e diferenças interessantes. Lá, a Comissão de Jogos é conhecida por sua postura rigorosa e proativa, e as atividades de marketing já estão limitadas a plataformas controladas, onde os influenciadores são diretamente responsáveis pelo conteúdo que compartilham.
Já a Alemanha adotou uma abordagem ainda mais ativa, monitorando as transações dos jogadores em tempo real para garantir a integridade do setor.
Na Austrália é encontrado um equilíbrio entre a proteção do consumidor e a liberdade de atuação ao impor restrições à publicidade sem sufocar o setor.
Ainda no estágio inicial da regulamentação, o Brasil parece estar tentando equilibrar as coisas. A necessidade da empresa se registrar no país, monitoramento por CPF e o direcionamento dos impostos para setores como educação e segurança são medidas que fortalecem o elo entre o setor industrial e a sociedade.
No entanto, existem críticas. Alguns especialistas questionam se uma taxa tributária de 12% sobre o faturamento líquido não poderia sufocar as empresas menores, beneficiando apenas as grandes corporações do ramo. Alguns advertem sobre o perigo de regulamentações muito severas levarem uma parte do mercado para a ilegalidade, desfazendo os progressos alcançados.
Da perspectiva das empresas de apostas, está clara a necessidade de adaptação no cenário atual do mercado de apostas online e offline no Brasil, com uma série de desafios regulatórios e concorrenciais exigindo ajustamento e compliance com a legislação vigente.
Para se destacarem em um mercado cada vez mais competitivo e regulado as empresas precisam adotar estratégias diferenciadas por meio da integração das áreas de marketing digital com o departamento jurídico para garantir a conformidade com as normas estabelecidas pelo governo.
É crucial que as empresas desenvolvam campanhas publicitárias substanciadas em valores como: ética empresarial, respeito ao consumidor e transparência nas informações prestadas, visando sempre construir uma imagem sólida perante o público-alvo.
Em vez de simplesmente promoverem a ideia de lucros rápidos os anúncios devem enfatizar a diversão e o lazer proporcionados pelo ato de apostar, sempre ressaltando os aspectos negativos relacionado ao vício do jogo excessivo ou descontrolado.
Do ponto de vista dos negócios e do mercado em geral, é importante notar que as regulamentações também podem ser vistas como uma oportunidade positiva.
A formalização da indústria de apostas pode trazer mais credibilidade para as empresas desse segmento, possibilitando parcerias estratégicas com grandes marcas e permitindo sua expansão para mercados mais tradicionais e conservadores.
Além disso, os números financeiros são bastante encorajadores: só em 2023, o setor de apostas movimentou aproximadamente R$ 120 bilhões no Brasil, o que corresponde cerca de 1% do PIB nacional.
Com uma base estimada de 24 milhões de clientes brasileiros - na maioria jovens - há um enorme potencial para crescimento e desenvolvimento nesse mercado promissor. Contudo, é importante que essa progressão ocorra de maneira cuidadosa, respeitando as normas estabelecidas legalmente, garantindo a sustentabilidade do mercado em longo prazo.
Na nova era do marketing de influência, o papel desempenhado é crucial, embora complexo aos olhos de muitos. Esses influenciadores têm a capacidade de educar o público sobre os riscos envolvidos, reiterando a importância do jogo consciente e das práticas moderadas.
Para alcançar o sucesso desejado, é preciso equilibrar criatividade e responsabilidade, aprendendo com as experiências, virtudes e desafios de outras nações, promovendo assim, um modelo moldado à realidade peculiar do Brasil.
As leis trouxeram dificuldades, mas também abriram caminho para um mercado mais estável e confiável. O uso do marketing de influência se destaca por sua capacidade única de estabelecer conexões autênticas com o público-alvo e será um dos pilares deste novo cenário. No entanto, o êxito só será possível se as marcas e os influenciadores colaborarem em prol da construção de um mercado ético, responsável e sustentável.
Fátima Bana
Executiva de marketing e negócios com mais de 15 anos de experiência, Fundadora e Líder da empresa Rent a CMO. CEO da Lampions.bet. Possui experiência no Brasil, América Latina e mercado da Europa, EUA e China, sendo especialista e certificada em ESG por Harvard e Membro da Comissão de startups e scale-ups do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Mestre em Comportamento Digital de Consumo pela Universidade da Califórnia – USA e Doutoranda pelo MIT/USA, cursando PHD em Comportamento de consumo integrado a Inteligência Artificial. É ainda pós-graduada em Neuropsicologia, Especialista em Neuromarketing e Aprendizagem pela São Camilo e Einstein de São Paulo, e certificada em Neurofeedback pelo BTI Brasil.