VIE 5 DE DICIEMBRE DE 2025 - 07:03hs.
Ministro da Fazenda volta a atacar o setor com desinformação

Haddad: “Se fosse aparecer um projeto na Câmara para proibir as bets, eu apoiaria”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu entrevista exclusiva ao economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira. Com desinformação e questionamentos baseados em dados comprovadamente falsos, Haddad abordou que, se dependesse dele, as apostas online não existiriam. “Não tem arrecadação que justifique essa roubada que nós chegamos”, frisou em um novo ataque do ministro contra um setor legal, regulado e que gera empregos.

 


Confira abaixo a transcrição da entrevista

Eduardo Moreira - As bets viraram uma epidemia muito trágica no Brasil. A gente tem quase 10 milhões de pessoas que têm sintomas de vícios no Brasil. A gente tem – para mim esse é o pior número – 60% das pessoas [que jogam] têm até 39 anos de idade. São pessoas mais jovens, um número grande de pessoas está adiando a sua formação. E a gente, depois de legalizar, regular a questão das bets, esse negócio continuou subindo em um ritmo absurdamente alto, e aí tem até uma questão importante, tem um estudo da Universidade da Califórnia de San Diego – que é onde eu estudei por acaso -, que eles ficaram analisando os EUA depois que legalizou [as apostas online]. E o ticket médio, o valor médio apostado por pessoa, cresceu quase 400%, porque é como se as pessoas tivessem uma chancela de que aquilo é uma coisa legal para fazer, no sentido jurídico e legal no sentido de que, poxa, vale fazer o negócio.

E aí a pergunta é: nós temos dois tipos de apostas no Brasil – as esportivas, que são em torno de 20%, essas online, que mais vemos; mas aquelas dos cassinos online são uma roubalheira total, que não sabemos nem como é o sistema que o cara fez. Então você fica perdendo na roleta e nunca vai ter como conferir, e isso é dinheiro que está saindo para outro país. Será que não valeria a pena proibir esses cassinos online que a gente não têm o menor controle e é só perder dinheiro; e as esportivas fazer uma super regulação como a gente faz com o cigarro?

Porque o que me incomoda quando a gente fala só vamos aumentar o imposto é, primeiro, a gente passar de alguma maneira ficar dependente das bets como as pessoas dizem que o futebol ficou dependente das bets. E segundo se, a gente for acabar R$ 12 bi, mas o povo pobre no ano passado perdeu R$ 30 bi, então é quase como se a gente tivesse fazendo uma arrecadação em cima do dinheiro do povo pobre, e esses caras conseguem comprar todo mundo – é propaganda em tudo que é lugar, é editorias, a pergunta é: como a gente vai conseguir combater isso, porque isso é um problema muito grande e até da nossa economia?
Fernando Haddad -
Eduardo, você tem toda a razão e em tudo o que você está falando. Tudo. Eu cheguei ao Ministério da Fazenda com uma epidemia posta. E pior que isso: os caras ficaram quatro anos sem regulamentar publicidade, ficaram quatro anos sem cobrar imposto de bets, foram mais de quatro anos e R$ 40 bilhões de subvenção que foi tudo para fora, comprar um cripto, comprar um dólar, fintech, mandaram tudo para fora.

Esse dinheiro sumiu do Brasil e diante do caos que estava nós falamos, vamos colocar isso dentro de um sistema informatizado para eu saber o que está acontecendo. Eu não tinha nenhuma noção do que estava acontecendo. Hoje eu sei e é uma desgraça. O que está acontecendo é uma desgraça.

O que nós vamos fazer agora? Passados os seis meses, que o Estado finalmente se apropriou das informações, nós vamos levar para a mesa do presidente os dados e tratar isso como um problema de saúde pública sério. Um problema sério! Então nós vamos ter que ver, primeiro, a publicidade disso. Você sabe que bebida e cigarro tem uma publicidade ultra-restritiva.

Até outro dia não tinha – Fórmula 1… Acabou! Outra coisa, essa questão dos jogos de azar e da aposta esportiva, vamos diferenciar, não vamos diferenciar. Outra coisa, fintech que está servindo de veículo para bet ilegal…

 



E muitas vezes lavando dinheiro. Bet mais fintech igual a lavagem de dinheiro.
Exatamente. Nós já estamos informando o Banco Central das fintechs que estão servindo de veículo possivelmente para o crime organizado, ou para lavagem de dinheiro, ou para coisa pior. Então tem muitas coisas a serem vistas.

Nós vamos incorporar a Polícia Federal nesse debate porque não é só atribuição do Ministério da Fazenda, tem crime por trás, e eu penso que agora nós temos um quadro para mostrar ao país, nós podemos estampar para o país, nós temos um problema, olha o tamanho do problema que foi criado, você sabe que foi criado no final do governo do Temer [Michel], passou quatro anos sem ninguém fazer absolutamente nada, ganhando dinheiro a rodo, e você tem razão em dizer que é o pessoal até 40 anos que mais joga, então nós vamos ter que enfrentar.

É aquela história, eu nunca te pedi nada, já te pedi alguma coisa até hoje? Cuida com carinho essa questão das bets, porque é uma coisa que realmente está machucando muito. As famílias estão sofrendo, coisas que eu vejo que são indizíveis, como diria o outro.
Olha, eu soube de casos escabrosos envolvendo bets, de conhecidos que chegaram a perder familiares em função de bets. Então é um drama real. Se você me perguntasse… Você me perguntou…

É, mundo ideal.
Mundo ideal, para mim isso aí…

Proibido.
É que tecnicamente é muito difícil você bloquear…

Não, mas dá, porque…
Se fosse aparecer um projeto na Câmara Federal, continua ou para, eu apertava o botão do para. Não tem arrecadação que justifique essa roubada que nós chegamos. É muito ruim o que está acontecendo.

Fonte: GMB