O Rio de Janeiro tem 11 mil quilômetros de ruas e avenidas esburacadas, túneis que estão caindo aos pedaços - segundo o próprio prefeito - mas Marcelo Crivella (PRB) se permite sonhar com grandes projetos e investimentos para a cidade, cujos interesses pretende defender com a ajuda do presidente eleito Jair Bolsonaro e, no limite, da Justiça. Quer apoio do governo federal para aprovar no Congresso lei que permite a abertura de cassinos no país - e que o Rio seja uma nova Cingapura para os negócios do magnata americano Sheldon Adelson.
"O compromisso dele é investir US$ 10 bilhões e gerar 50 mil empregos", diz o prefeito, que abre mão de sua fervorosa religiosidade - é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus - em nome do pragmatismo favorável aos jogos de azar. "As pessoas sabem que se não tivermos emprego, vamos para o caos social. E joga quem quiser", justifica.
Nos desígnios de Crivella, Jair Bolsonaro é messias. Do presidente eleito também espera ajuda na renegociação da dívida da prefeitura com o BNDES. Mas se não receber a graça federal, avisa que irá à Justiça para reduzir os juros que afirma serem maiores do que os cobrados a Cuba pelo Porto Mariel. "Irei até a última instância se tiver tempo no meu mandato, até o Supremo", antecipa ao Valor.
Numa entrevista exclusiva concedida quase dois anos depois da posse, Crivella em vários momentos culpa a gestão anterior, de Eduardo Paes (DEM), pelas mazelas do município. É passado com olho no futuro, de quem parece ter despertado para ganhar terreno no campo da comunicação, depois dos tempos de silêncio e premido pelo ciclo eleitoral. Procurado, o ex-prefeito não enviou resposta sobre as críticas do sucessor.
A seguir, os principais temas tratados por Crivella na entrevista:
Cassino
“Lutei muito no ano passado, não consegui, mas quero que o Bolsonaro me ajude. Que é [aprovar] uma superlicença para termos um cassino. Recebi a visita do Sheldon Adelson [presidente da empresa Las Vegas Sand] e ele está interessadíssimo. A ideia dele era comprar [a área do aeroporto] Santos Dumont. Tirei isso da cabeça dele, para ele comprar o Porto Maravilha. E nós termos aqui um cassino tipo o que ele fez em Cingapura, onde 5% é o cassino, e tem centro de exposição, centro de convenções, hotel, com duas torres enormes, de 50 metros, e piscina lá em cima. Ele me disse que fatura mais em Cingapura do que todos os cassinos de Las Vegas. E o dele é o maior, o Venetian. Tá louco para investir. Compromisso dele: investir US$ 10 bilhões e gerar 50 mil empregos. Vamos ter aqui um grande empreendimento”.
Licença religiosa
Sei da sua curiosidade, mas você não é crente, não é pastor?
“O Rio de Janeiro precisa de emprego. E já perdemos 350 mil empregos na cidade. Se as pessoas não jogarem aqui, vão jogar em outro lugar, no Uruguai. E joga quem quiser. É um assunto polêmico porque o governo monopoliza o jogo no Brasil. Meu querido amigo, vamos ter aqui. E [o cassino] sofre esse controle externo, FBI, CIA, Interpol para não haver lavagem de dinheiro. E mais, essa senhora que o marido é viciado, ela pode ir lá e pedir para ele não jogar. Se você estiver no Serasa também não joga. Cingapura tinha 6 milhões de turistas e passaram para 20 milhões. O Adelson, que é o maior doador do Estado de Israel, me disse que não há hipótese de não dobrarmos o número de turistas para cá. Acho que essas superlicenças devem ser [aprovadas] em três, quatro lugares no Brasil, é o que imagino. Tenho certeza [de que a ideia será bem aceita no meio religioso] porque as pessoas sabem que se não tivermos emprego, vamos para o caos social”.
Fonte: GMB / Valor