MIÉ 8 DE MAYO DE 2024 - 18:54hs.
Marcelo Conde, presidente da STX Desenvolvimento Imobiliário

“A adoção de IR com cassinos pode transformar a economia do Brasil em pouco tempo”

(Exclusivo GMB) - Marcelo Conde, presidente da STX, empresa com 30 anos de atuação na área imobiliária e hoteleira, afirma que os Resorts Integrados com cassinos podem diminuir o déficit atual de US$ 13,2 bilhões na conta de gastos de Turismo, gerando empregos, renda e tributos. 'Precisamos pensar grande e chegar a 20 ou 30 milhões de turista por ano no Brasil. Os IR's podem ser uma das principais iniciativas neste proceso'.

GMB - Poderia fazer um pequeno resumo de sua trajetória e da sua empresa STX DI? Em que setor atua e seus principais projetos no Brasil?
Marcelo Conde -
A STX é uma empresa de desenvolvimento imobiliário, que se especializou na incorporação de projetos hoteleiros. Temos mais de 30 anos de experiência e projetos realizados na área imobiliária em diversas cidades do Brasil.

Em seu artigo no jornal O Globo, você falou sobre os resorts integrados com cassinos e outras atrações como uma boa opção para o Rio de Janeiro. Como conheceu esse conceito de resorts integrados e quais benefícios acredita que ele pode trazer ao Brasil?
Nos especializamos no desenvolvimento de projetos imobiliários hoteleiros, temos estudado muito a questão do desenvolvimento do turismo nacional. Em especial, temos uma preocupação muito grande com o futuro da cidade do Rio de Janeiro, que recebeu um investimento muito grande para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas não apresentou um incremento de turistas significativo.
Ao longo dos anos, temos estudado o mercado de turismo no mundo, para tentar trazer as melhores práticas para o Brasil e identificamos que o modelo de "Resort Integrado" é o que teve um impacto inquestionável em outros países. 
Tive conhecimento sobre o caso de Singapura, quando o meu filho estudou neste país. O que mais chama atenção neste caso é que se trata de uma experiência recente, bem-sucedida, com números inquestionáveis. Em muito pouco tempo, o governo de Singapura conseguiu atrair um alto investimento internacional, houve um incremento de mais de 7 milhões de turistas em apenas 5 anos, com uma forte geração de empregos e tributos.
Dadas as restrições de investimento do governo federal e estadual para o setor de turismo nos próximos anos, a atração de investidores internacionais para investirem no Brasil deve ser prioridade. A adoção de um modelo como este pode ter um poder transformacional na economia do Rio de Janeiro, em muito pouco tempo.

Para que os resorts integrados com cassinos e suas demais atrações possam ser construídos no Brasil é preciso que a lei que legaliza e regulamenta a atividade do jogo no país seja aprovada. Qual a sua posição quanto ao debate sobre a legalização dos jogos e a sua avaliação sobre o andamento do processo de aprovação da lei do jogo no Brasil?
O Rio e o Brasil não podem perder esta oportunidade. Como disse, é importante que haja um entendimento entre os poderes legislativos e executivos para o avanço de uma regulamentação moderna dos cassinos, priorizando e estimulando investimentos internacionais expressivos que gerem empregos, renda e tributos. 
Pelo meu entendimento, o projeto que está tramitando na Câmara dos Deputados, não prevê a legalização de cassinos de forma generalizada. Pelo contrário, seguindo as recentes experiências internacionais, o projeto prevê a legalização de cassinos, dentro de "Resorts Integrados", que são grandes complexos turísticos que reúnem hotéis de luxo, centros de convenções, espaços para feiras e eventos corporativos, dentre outros.
Assim sendo, a licença de concessão para a exploração de um cassino, estará atrelada a um alto investimento nestes complexos, gerando um impacto econômico forte no setor de turismo. No caso de Singapura, com a concessão de apenas duas licenças, houve um investimento de, aproximadamente, US$ 10 bilhões (R$ 32 bilhões) em apenas duas propriedades. O gasto do turista internacional por ano subiu para US$25 bilhões e houve um forte incremento na arrecadação de impostos por parte do governo. 
Eu compartilho desta visão, que a adoção de "Resorts Integrados", pode transformar, em um curto espaço de tempo, a indústria de turismo no Rio de Janeiro e diversas outras regiões do Brasil.

No Brasil se vive uma polêmica sobre o que deve ser legalizado. Uma corrente acredita que se deve abrir todo o mercado de jogo para se ter mais empregos, mas, outra, que inclui o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que propõe apenas a criação dos “IRs” com cassino. Qual a sua opinião?
As nossas atividades de incorporação e construção de projetos hoteleiros está diretamente ligada à indústria de turismo. Temos estudado o desenvolvimento do turismo em outros países e o caso dos "Resorts Integrados" é um exemplo inegável de sucesso. Eu não conheço os detalhes sobre os outros eventuais jogos.

Acredita que o setor empresarial, não somente do mercado de jogos, mas, também do turismo, comércio, entre outros setores da economia que serão impulsionados com a legalização do jogo e instalação de cassinos, poderia atuar com mais força para dar celeridade à tramitação dos projetos de lei?
A nossa maior preocupação está em como aumentar a visitação internacional para patamares elevados, não podemos nos contentar com 6,6 milhões/ano. Com as discussões no Congresso, se uma boa regulamentação for criada, teremos a possibilidade de receber investimentos imediatamente.
O segmento empresarial ligado ao turismo seja da rede hoteleira, do mercado imobiliário, das empresas de aviação, das agências de turismo, dentre outros, deveria se envolver nas discussões com os poderes legislativos e executivos para apoiar esta iniciativa.
O País como um todo e as autoridades econômicas, principalmente, não podem se conformar de termos um déficit de US$ 13,2 bilhões em 2017 na conta corrente de gastos de Turismo (dados do Bacen). Os brasileiros gastaram US$ 19 bilhões lá fora e os estrangeiros apenas US$ 5,8 bilhões aqui, com isso, estamos gerando emprego para: norte americanos, espanhóis, portugueses, mexicanos, franceses, italianos etc .. Temos que exportar serviços através do gasto expressivo de turistas aqui. Eu sonho que o Rio de Janeiro possa se transformar, em poucos anos, em um dos principais destinos turísticos internacionais, como Paris, Barcelona, Dubai, Nova Iorque, dentre outros.

Com a liberação dos cassinos, se espera uma presença muito grande do investimento internacional no Brasil. Já conversou com algum operador internacional que se interessa em investir em cassinos no país? Qual a sua avaliação sobre a chegada do investidor estrangeiro para esse mercado? Será uma ponte para novas oportunidades ou o nascimento de uma concorrência ainda maior?
Com as discussões no Congresso sobre a legalização de "Resorts Integrados", diversos grupos americanos, europeus e asiáticos vieram ao Brasil avaliar o potencial de turismo nacional. Todos estes operadores ficaram surpresos com o baixo número de turistas internacionais que visitam o Brasil anualmente, que hoje seria de 6,6 milhões de turistas. 
Estamos muito atrás de Turquia, com 39,5 milhões; México, 32 milhões; Tailândia, 24 milhões; e Cingapura, com 16,5 milhões. Estes outros mercados adotaram políticas de turismo agressivas, propagandas e incentivo na captação do turista internacional que levaram aos bons resultados nestes últimos anos. 
Reconheço esforços importantes do Governo Federal através do Ministro do Turismo, Marx Beltrão, e do Presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, como por exemplo, no visto eletrônico que contou com o apoio do congresso, mas de fato se quisermos adotar uma política de turismo agressiva, que traga efeitos imediatos, precisaremos de investimentos em muitas áreas. O número de turistas internacionais no Brasil é muito baixo, assim serão necessários investimentos muito relevantes. O governo federal e os locais não terão a capacidade que o setor necessita de investimento para os próximos anos, assim temos que atrair investidores internacionais para o Brasil. 

No Japão, país que também trabalha para implantar os resorts integrados, há um grande debate sobre instala-los em grandes cidades ou em cidades menores, de regiões interioranas. Esse debate deve ser feito no Brasil também? Como empresário, acredita que qual delas seria a melhor opção?
O Brasil está em uma situação muito diferente do Japão, que já é uma economia desenvolvida e com uma indústria de turismo forte. Nós temos capitais muito importantes no Brasil, com grande vocação para o turismo, que precisam receber novos investimentos para fomentar o seu desenvolvimento econômico.
O Rio de Janeiro já possui uma infraestrutura urbana, que pode receber grandes investimentos e acomodar grandes eventos internacionais. Capitais de outras regiões também receberam grandes investimentos para a Copa do Mundo e também estão prontas para receber novos investimentos.
Temos que pensar grande, em como atingir 20 a 30 milhões de novos turistas internacionais nos próximos anos. Devemos aproveitar a beleza natural existente por todo o país, para nos tornarmos um dos principais destinos turísticos do mundo. Além do Rio de Janeiro, temos lindos destinos litorâneos no Nordeste, na região Norte, temos as belezas da floresta amazônica, temos o Pantanal, temos as Cataratas do Iguaçu, enfim, muitas opções.
Assim, não deveria haver restrição ou limitação do tamanho da cidade para a instalação de "Resorts Integrados", uma vez que, para atrair estes grandes investimentos, existe a necessidade da existência de uma infraestrutura urbana relevante não podemos repetir o erro da Copa com 12 cidades-sedes, sobrecarregando cidades e municípios e as infraestruturas financiadas pelo Governo federal através da Caixa Econômica e BNDES.
Temos que mudar o patamar de visitantes internacionais, e com isso haverá um impacto econômico para todas as cidades. A Tailândia e o México são bons exemplos de países em que muitas cidades se beneficiam.

Trazendo o assunto para o seu negócio. Quais são os seus planos no que se refere à instalação de resorts integrados no Brasil? Pretende fazer parcerias internacionais ou pensa em outros investimentos?
Quando você constrói um complexo de grande porte, existe uma transformação na região em que ele se localiza, com uma forte revitalização dos bairros. O desenvolvimento imobiliário avança com a construção de novos edifícios comerciais e residenciais em seu entorno, gerando um impacto econômico positivo. 
Acreditamos que diversas cidades no Brasil possam passar por estes processos. Há alguns anos, diversas cidades do Nordeste recebiam inúmeros voos internacionais, com turistas europeus, e houve um impacto muito forte no desenvolvimento imobiliário. Hoje, estes projetos estão parados, portanto com um fluxo novo de turistas, podemos reativar estas atividades.
Neste momento, estamos fazendo novos investimentos e analisando oportunidades de empreendimentos hoteleiros em várias regiões com foco na cidade de São Paulo, desenvolvendo no Brasil a bandeira Days Inn, marca do Grupo Wyndham.

Tendo uma lei do jogo em vigor e a instalação dos resorts integrados, qual a sua projeção para o turismo no Brasil? Acredita que em pouco tempo teremos um grande desenvolvimento nessa área?
Precisamos pensar grande. Temos que criar uma meta alta para aumentar o número de turistas internacionais no Brasil, como 20 ou 30 milhões de turistas anuais. Para chegar neste objetivo, os "Resorts Integrados" podem ser uma das principais iniciativas para fomentar este processo.

Fonte: Exclusivo GMB