VIE 3 DE MAYO DE 2024 - 02:22hs.
Igor Arnaldo, mestrando em Turismo

“Introduzir cassinos oferece um efeito cascata de ascensão com o surgimento de locais de diversão”

Diante do cenário de debate sobre a legalização dos jogos de azar, o estudante Igor Arnaldo resolveu se especializar em turismo embasado na implantação de cassinos no Brasil. Atualmente, cursa mestrado na UFF (Universidade Federal Fluminense) e tem colhido informações sobre o tema. Para ele, é possível que haja um resultado econômico positivo para o país, caso a legalização ocorra.

GMB - O que te motivou a fazer sua monografia do mestrado de turismo focada na legalização dos cassinos e jogos de azar no Brasil?
Igor Arnaldo -
Já venho acompanhando este tema desde a época em que cursava Gestão em Turismo no CEFET. No decorrer dos anos fui me aprofundando cada vez mais no assunto, me motivando a levar o estudo adiante, entrando então para o mestrado de Turismo na UFF, tendo como orientador o Doutor Aguinaldo Fratucci. O que me motivou a fazer um estudo sobre este tema foram 2 vertentes, o turismo obviamente e o possível resultado econômico, caso a legalização venha a ocorrer.

Você possui dados históricos de empreendimentos que surgiram no RJ graças ao surgimento dos cassinos, e de empreendimentos que vieram a fechar quando os cassinos foram proibidos. Quais eram esses empreendimentos e qual a ligação que tinham com a indústria de cassino?
De acordo com tudo que venho acompanhando ao longo de todo esse tempo, “a indústria de cassino” não se resume apenas a jogos de azar, ao contrário do que boa parte da população acredita ser. Na verdade, esta indústria oferta um leque de entretenimento variado e devido ao sucesso acaba ocasionando um efeito cascata ao redor deste entretenimento, a nível de rua, bairro até a cidade, por exemplo, ou seja, maior procura, maior movimento, maior o vem e vai das pessoas.

Um exemplo que vale ser comentado seria o próprio empresário Francisco Serrador, que foi proprietário de diversos cassinos, teatros, hotéis e cinemas espalhados pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Boa parte dos seus estabelecimentos transformavam os locais em pontos de entretenimento, onde era possível de se encontrar dezenas de teatros, boates, bares e restaurantes, sendo assim uma referência de diversão popular. Dou ênfase aos cinemas que ficavam na região do entorno da Praça Floriano, que veio a ganhar o nome popular de Cinelândia, no Rio de Janeiro.

Com isso temos o surgimento de diversos cinemas durante esta época de atuação dos cassinos, que foram fechados logo após a proibição. Um efeito cascata de ascensão e agora um efeito cascata de declínio total. Porém devemos manter em mente que existia também o outro lado da moeda com a presença dos cassinos, como a prostituição, drogas e excesso de capital estrangeiro. Tudo isso no futuro terá que ser pensado e alternativas encontradas para pelo menos diminuir o impacto desses pontos.

Qual PL relacionada ao cassino você acredita que terá o melhor desempenho em termos financeiros tanto para a empresa quanto para o turismo nacional?
Relacionar um PL apenas, na minha opinião, é impossível, começamos pelo marco regulatório 442/1991, somente nele há outros 23 PLs apensados, dentro desses 23, vejo em potencial farto nos projetos: 3090/2015, 2903/2015 e 2826/2008. Dão ênfase ao contexto geral com o acarretamento da legalização dos cassinos, olhando para a empresa, para cidade e para o turismo. E há um PLS, que seria o PLS 186/2014, que também segue todo esse contexto bem amarrado e elaborado visando exatamente o desempenho em termos financeiros tanto para a empresa quanto para o turismo nacional.

Com a pandemia e a atual crescente desvalorização do real, acredita que a legalização dos cassinos pode impulsionar a economia? O que acha que falta para que isso aconteça?
Recentemente, no dia 30 de abril, foi feito mais um ano do decreto-lei 9215 (a proibição dos jogos de azar no Brasil, assinada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra). Já estamos com 74 anos de atuação deste decreto.

Porém há talvez uma possibilidade de que eles venham a permitir que a legalização aconteça logo após que esta pandemia se estabilizar, pois será uma forma de incrementar a economia do país. Mesmo tendo a crescente desvalorização do real talvez isto não seja um problema para empreendedores investir em nosso país por causa do efeito cascata. Cassinos abertos, geram empregos, que geram renda.

O que falta para que isso aconteça? Se acompanharmos o debate que acontece lá dentro, teremos a oportunidade de escutar diversas justificativas para serem contras, são exemplos que vão desde o pecado e o vício até a associação com a lavagem de dinheiro e o crime organizado. Foco e bom senso, pois estamos com a faca e o queijo na mão.

Muitos especialistas da área dizem que a legalização dos jogos no Brasil está próxima. Porém com os casos de coronavírus aumentando no país, o assunto foi deixado um pouco de lado. Quando acredita que a liberação dos cassinos deixará de ser apenas palco de discussão em Brasília e passará a ser uma realidade?
Realmente as últimas atualizações que recebi a respeito de todos os PL e PLS que sigo foram dadas no dia 16 de março, quando o coronavírus já estava entre nós há um bom tempo. Ter uma data específica para acreditar que vai ser liberado é difícil de dizer, porém há duas situações que creio que são grandes as chances de serem utilizadas para a legalização dos cassinos: a primeira seria logo após este estado pandêmico em que vivemos ser contido e criarmos a nossa nova normalidade quando tudo voltar a funcionar como era antes. Aproveitar a vez e liberar a legalização dos cassinos, pois teremos muita gente desempregada à espera de um emprego. A segunda seria talvez 1 ou 2 anos após a normalização pós-pandemia, pelo motivo de ter dado um tempo e fazer levantamentos e soluções para que haja uma forma de aprimorar a economia do país.

Muito se fala em liberar apenas cassinos em resorts integrados. Qual seu posicionamento em relação a essa restrição? Acredita que pode ser benéfica?
No curso de especialização em Logística Empresarial que realizei, havia um professor que o jargão dele era: “É bom para quem?”

Há pelo menos 3 PLs (4062/2012; 530/2019; 2648/2019) que definem o uso dos cassinos unicamente em resorts. Deve então se levar em conta dois questionamentos: primeiro, a localização destes resorts e se para entrar neste cassino necessita obrigatoriamente o cliente ser hóspede do resort.

Teremos os novos resorts a serem criados para ter um cassino e aqueles resorts já existentes que possam se adequar ao que é solicitado dentro do projeto.

Esta é uma pergunta muito interessante, pois em alguns projetos é possível se encontrar uma de suas justificativas sendo a redução das desigualdades regionais e sociais. Resumir as regras para a entrada ao cassino do resort vai acabar afunilando o público-alvo que virá a frequentar este entretenimento. Então será que vai valer a pena? “É bom para quem?”

No futuro, quando os cassinos forem realidade no país, quais cidades acredita que se tornarão pontos turísticos por causa de seus estabelecimentos de jogos? Acredita que teremos uma Las Vegas ou Macau brasileira?
Esta pergunta é como se fosse uma partida de pôquer e você tem em suas mãos as fichas a serem apostadas porque temos até agora, em maio de 2020, inúmeros PL, PLS e MPs que tocam neste assunto de legalização dos jogos de azar/de fortuna e cassinos. Pois bem, cada um com suas restrições, que sejam em terras indígenas, somente na Amazônia, Municípios integrantes do semiárido ou de Núcleos de Desertificação, em regiões brasileiras de menor índice de desenvolvimento humano municipal, até a liberação em todo o território nacional. Quem sabe se haverá novos projetos que terão outras exigências?

Estamos lidando, no momento, com uma caixinha de surpresas que vem a nos dar inúmeros resultados dependendo do que for aprovado e definido finalmente. Diria que aposto que sim, esses longos 74 anos não irão durar por muito mais tempo, possuímos inúmeras cidades que podem passar a ter um novo ponto turístico em seu mapa. E se há uma Las Vegas Oriental e outra Ocidental, está na hora de haver uma Las Vegas com seus toques brasileiros.

Fonte: Exclusivo GMB