Mesmo com restrições que existem em certas modalidades, como League of Legends e Valorant, onde a exibição de marcas desse segmento é proibida, a prática de patrocínio tem aumentado. No Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), por outro lado, tem time vendendo naming rights para levar os nomes das casas de apostas.
O mercado de apostas ainda ganhou protagonismo recente na política, pois o governo federal pretende propor a regulamentação e a taxação das apostas esportivas eletrônicas para compensar as perdas com as mudanças anunciadas na tabela do Imposto de Renda.
Uma das primeiras equipes a contar com patrocínio do tipo nos esportes eletrônicos é a Imperial, chamada de Imperial Sportsbet.io por conta do patrocínio com a empresa de apostas, iniciado em 2020, que incluiu os naming rights em junho de 2021 e que tem validade até o início de 2024. O patrocínio vale para as duas equipes da organização, de CS:GO, que é comandada pelo astro Gabriel "FalleN", e CrossFire.
Na época da contratação de FalleN e companhia, o CEO da Imperial, Felippe Martins, destacou a importância que o apoio da Sportsbet.io teve para que a organização conseguisse contratar os integrantes do projeto "Last Dance", já que a empresa ajudou das multas rescisórias à verba para manutenção do projeto.
“Casas de apostas esportivas estão muito presentes no esporte brasileiro e global. Se olharmos para o futebol, em um jogo de Série A ou B, iremos constatar a presença de cinco ou mais casas, seja na camisa dos clubes, na transmissão ou na placa de estádios. A presença dos bookmakers no eSports também é uma realidade há bastante tempo. Praticamente todos os maiores times nacionais e os principais do mundo contam com um patrocinador do segmento. Foi o segmento que permitiu um pulo de profissionalismo aumentando bastante a arrecadação em patrocínios”, analisou Bruno Silveira, sócio e vice-presidente da Imperial.
Segundo o empresário, a preferência das casas de apostas pelos times de CS:GO é motivada pela maior adesão do público a esse mercado. Além, é claro, de essa modalidade permitir que as marcas sejam exibidas em uniformes e comunicações.
O time de CS:GO do Fluxo é um dos que, por conta do patrocínio, teve alteração de nome e passou a se chamar "Fluxo EstrelaBet".
“A line de CS do Fluxo, além de muito forte e atrativa para patrocinadores de diversos segmentos, faz parte de um circuito de torneios que é aberto aos patrocínios de casas de apostas. Fez sentido tanto para o Fluxo quanto para a EstrelaBet uma parceria que fosse além de uma relação de exposição de logo e pudesse promover de fato o parceiro que possibilitou nossa expansão para o CS”, explicou o Fluxo, em nota.
Além do CS:GO, a EstrelaBet patrocina o time de Free Fire de emulador. Mas não está presente nos elencos de Free Fire de celular e LoL, cujos cenários competitivos impedem patrocínios de casas de apostas às equipes.
A EstrelaBet também patrocina a Los Grandes nas mesmas modalidades. Times de Free Fire de celular, LoL e Rainbow Six não possuem o patrocínio por conta da proibição às casas de apostas. A empresa teve papel importante na viabilização da contratação do treinador Luis "peacemaker" para o elenco de CS:GO.
“Apresentamos o planejamento competitivo do CS:GO para este ano à EstrelaBet. Dentro disso, falamos de estrutura, calendário e objetivos. Na nossa visão, o peacemaker era a melhor opção de técnico disponível no mercado e seria a contratação de brilhar os olhos. A EstrelaBet gostou do projeto esportivo, apostou nessa contratação e foi fundamental na negociação”, explicou o sócio da Los Grandes Alexandre "kakavel".
A marca da EstrelaBet é amplamente associada ao time de CS:GO, mas também já apareceu estampando uma publicação com o calendário de compromissos das equipes da Los Grandes em variadas modalidades, inclusive LoL. O perfil do clube no Twitter também já chamou o público para apostar em partidas de futebol pela plataforma de patrocinadora.
“A Los Grandes está alinhada com a EstrelaBet em mostrar que a plataforma é focada no entretenimento e diversão. Nosso papel na parceria é orientar o público em como acessar e usar a mesma, para que possam conhecer mais deste universo”, comentou kakavel.
Quando anunciou o retorno ao cenário competitivo de CS:GO, em janeiro, a RED Canids Kalunga divulgou o patrocínio da Rivalry especificamente para esse time, com ativações para além dos aspectos esportivos, como a criação de um documentário. A RED Canids não respondeu às perguntas enviadas pelo ge.
A FURIA teve patrocínios da Rivalry em 2021 e da Betway em 2022 e atualmente conta com a Betnacional, que é promovida nos times de CS:GO (principal, feminino e academy), Rocket League, Free Fire de emulador e Rainbow Six.
De acordo com a FURIA, a Betnacional é parceira de todas as lines, mas não está nos uniformes de LoL e Valorant, por política da Riot Games, e nos de Apex Legends e Super Smash Bros., por serem jogos quase totalmente voltados ao público dos Estados Unidos.
Divulgação de odds
A FURIA costuma fazer publicações, nas redes sociais, com as odds da equipe de CS:GO antes das partidas em campeonatos, incentivando o público a apostar nos próprios jogos - uma atitude que é defendida pela cofundador da organização Jaime Pádua.
“As odds dos jogos são dadas abertamente divulgados pelas plataformas e facilmente acessados pelo público. Portanto, não vemos nenhum problema em divulgá-los como parte da promoção da nossa parceira. Se há algum prejuízo nisso, seria no máximo o de motivar nossos rivais quando somos favoritos para alguma partida, mas isso resolvemos dentro do jogo”, comentou o executivo.
Em uma publicação recente, a FURIA convidou os espectadores a depositarem R$ 9,22 com o link da equipe durante a ESL Pro League Season 17 e a apostarem na sessão de eSports para concorrerem a prêmios.
“Sempre divulgamos apostas como um ato voltado somente para a diversão, para tornar um jogo mais emocionante para o torcedor. Por meio de uma aposta, o número de kills de um jogador de Counter-Strike, por exemplo, se torna um elemento a mais para a experiência do torcedor além do placar da partida. É compromisso da FURIA e da Betnacional cooperar com a mensagem de apostas saudáveis e voltadas somente para a diversão”, sustentou Jaime.
A Imperial, que tem patrocínio da Sportsbet.io, quase não faz publicações divulgando odds.
“De vez em quando a Sportsbet.io nos pede para divulgar odds. Quando este tipo de atividade é realizado, tomamos bastante cuidado para que fique claro que é uma oferta da Sportsbet e a Imperial é apenas um de seus canais de divulgação”, alegou o sócio e vice-presidente da equipe.
O MIBR, que é patrocinado pela 1xBet nos times masculino e feminino de CS:GO, deixou de publicar odds depois de ter divulgado as informações de apostas no início da parceria com a empresa, em 2022. Questionado sobre o assunto, o clube não explicou a mudança.
“O envolvimento com a empresa se limita apenas a uma cota de patrocínio e não existe qualquer tipo de impacto ou conexão com a parte competitiva. As outras modalidades de jogos eletrônicos que fazem parte do MIBR, Free Fire, Valorant e Rainbow Six, não são patrocinados pela 1xBet porque a empresa tem foco direcionado apenas para o Counter-Strike”, informou o MIBR por meio de nota.
Futebol e apostas
A Esportes da Sorte patrocina o Flamengo Medellin, divisão de eSports do Flamengo administrada pela Medellin, nos times de CS:GO e Free Fire de emulador.
“Como no futebol, as casas de apostas e empresas que apoiam os esportes gerais têm enxergado muito potencial nos eSports”, informou a assessoria do Flamengo Medellin, ressaltando que todos os patrocinadores nos esportes eletrônicos precisam de aprovação prévia do clube.
A Betano começou a patrocinar a Black Dragons em dezembro de 2022, em um acordo inicialmente válido por um ano, para dois times da organização: CS:GO e CrossFire.
“É o primeiro time de eSports do mundo patrocinado pela Betano. A marca também custeia diversos times de futebol em Portugal e no Brasil, mas no segmento de eSports, somos os pioneiros”, exaltou a CEO da equipe, Nicolle "Cherrygums".
No futebol, a Betano é patrocinadora do Atlético-MG e do Fluminense e de clubes europeus como Benfica, Porto e Sporting. Times do Brasil e do exterior têm sido patrocinados cada vez mais por casas de apostas, que também apoiam os próprios campeonatos, assim como nos eSports.
A LOUD, uma das principais organizações de esportes eletrônicos do Brasil, passou recentemente a contar com patrocínio da F12.BET, site de apostas da F12, empresa que tem o ex-jogador do futsal Falcão como um dos sócios.
“O nosso patrocínio é exclusivamente direcionado à plataforma F12.BET. A parceria com a F12 está focada no desenvolvimento de novas experiências para a comunidade de gamers como um todo. Queremos estar presentes em mais regiões do Brasil expandindo nossa presença e estrutura em lines competitivas por todo país e no mundo”, disse o cofundador da LOUD Bruno "PlayHard".
Manipulação de resultados
Com a explosão da popularidade das apostas esportivas e, agora, a relação cada vez maior às equipes, cresce a preocupação com a integridade competitiva dos torneios de eSports.
Em abril do ano passado, o jogador chinês Chen "Jay", da LGD Gaming, foi banido permanentemente de campeonatos oficiais de LoL, acusado de participar de esquema de manipulação de resultados na LPL Spring 2022, a liga de LoL da China. Em 2021, 38 jogadores e treinadores da LPL e da liga de desenvolvimento, LDL, foram banidos depois de acusações de manipulação de resultados.
Também em 2021, a Riot Games suspendeu o jogador taiwanês Chien "Maoan" em meio ao Worlds, o Campeonato Mundial de LoL, por associação dele a esquema de apostas. Naquele ano, a head de esports de LoL, Naz Aletaha, declarou que a desenvolvedora planejava adotar novas medidas para prevenir que os sites de apostas colocassem em risco a integridade competitiva dos torneios de LoL.
Em nota ao ge, a Riot Games, dona dos jogos LoL e Valorant, disse que continua desenvolvendo protocolos para prevenção de manipulação de resultados.
“A Riot Games implementou e continua desenvolvendo uma série de protocolos focados em prevenção a match fixing e outros impactos na integridade competitiva, que incluem regras e códigos de conduta, projetos educacionais com jogadores profissionais, sistemas de monitoramento, práticas de investigação e outras iniciativas. Este trabalho vem sendo realizado com equipes internas e também parceiros externos como a Sportradar Integrity Services, que atua junto à Riot Games desde 2019”.
No Free Fire, a Garena também proíbe a exposição de marcas relacionadas a apostas, mas, segundo comenta-se nos bastidores, pode derrubar essa restrição nesta temporada, em meio à reformulação do cenário competitivo. Em nota ao ge, a Garena disse que as equipes deverão cumprir o regulamento de 2023, mas não o divulgou publicamente ainda.
“Manter a integridade competitiva da LBFF é de extrema importância para a Garena e temos diversos protocolos para garantir que todas as equipes desfrutem de uma experiência justa e agradável. Também esperamos que os patrocinadores das equipes participantes compartilhem desses compromissos que defendemos na Garena, entre eles criar ambientes de jogos acessíveis e responsáveis. Os requisitos e restrições de patrocínio estão detalhados no livro de regras da LBFF 2023, que esperamos que as equipes cumpram integralmente”.
Criadora do Rainbow Six, a Ubisoft não quis se pronunciar ao ser procurada pelo ge.
A Valve, desenvolvedora do CS:GO, tem uma nota pública em que recomenda que jogadores ou futuros atletas jamais apostem em partidas da modalidade.
“Como jogador profissional, manager de equipe ou equipe de produção de eventos, é comum ter relações pessoais e/ou informações privilegiadas sobre outras equipes e jogadores. Por causa disso, sempre assumiremos que você tem acesso a "informações privilegiadas" privadas relacionadas ao CS:GO que podem lhe dar uma vantagem injusta ao fazer uma aposta em qualquer jogo ou partida de CS:GO. Apostar usando informações privilegiadas, ou mesmo a percepção ou suspeita delas, acarreta um risco significativo de prejudicar sua marca pessoal, sua equipe e sua comunidade e pode levar à exclusão de futuros eventos patrocinados pela Valve”.
Integridade competitiva
Em geral, as equipes consultadas pelo ge dizem que atuam para garantir a integridade competitiva dos campeonatos dos quais participam e que os atletas são proibidos de se associarem, direta ou indiretamente, a apostas.
Das equipes questionadas, só a Black Dragons disse que não faz restrições a apostas por parte dos jogadores.
“A Black Dragons não proíbe jogador de nenhuma atividade. Não cabe a nós esta decisão, e eles possuem a liberdade da escolha. O que garantimos hoje é a integridade da nossa competição, com tantos atletas e colaboradores que se dedicam e muito para alcançar o melhor desempenho em suas funções”, comentou Cherrygums.
Regulamentação
Para PlayHard, da LOUD, a regulamentação das apostas esportivas no Brasil ajudará na segurança e na transparência.
“A LOUD atua de diversas formas para, como time, garantir integridade competitiva das modalidades que participamos em conjunto com publishers e ligas de eSports. Sempre ouvimos sobre situações nos últimos anos, em que apostas tem gerado um debate sobre integridade competitiva nos mercados de esportes tradicionais, mas a tendência é que com a regulamentação deste mercado no Brasil os processos continuem evoluindo e se tornem cada vez mais seguros e transparentes para todos”.
Fonte: ge
