O futebol disputa com o tênis como esportes com maior número de suspeitas de manipulação. Entre 2017 e 2022, a IBIA emitiu 1,2 mil alertas. Metade deles referentes ao tênis. Nessa modalidade, considerada a referência no combate à manipulação, existe um instituto de integridade que analisa os casos.
Em 2023, só no primeiro semestre, o número se inverteu. Foram 40 alertas no total, sendo 15 do futebol e 12 do tênis. E desses 15 que estão os quatro do Brasil. Apesar do número alto, ele representa uma queda de 20% na comparação com o último trimestre de 2022.
O país também lidera os índices de suspeita na comparação com os vizinhos sul-americanos. Desde 2018, são 33 emissões, contra nove de Argentina e Peru. Segundo a associação, 91% dos alertas são emitidos em apostas nos chamados mercados primários (vitória, empate e derrota). Apenas 9% são de palpites em cartões, escanteios, faltas etc. Isso se dá porque esses campos menores não permitem grandes valores de aposta.
A IBIA é considerada o norte no que diz respeito à integridade para o setor de apostas. Trata-se de uma empresa sem fins lucrativos e que tem como membros os principais operadores, as maiores casas de aposta do mundo. Por isso, seus alertas são mais restritos e aprofundados. Seus serviços são compartilhados com Fifa, Uefa, Comitê Olímpico Internacional e outras organizações esportivas.
A diferença para outras empresas que prestam essas atividades está, justamente, no fato de não ser uma corporação e não ter fins lucrativos. Grosso modo, trata-se de uma rede de informações das próprias casas. Seus relatórios são emitidos e, depois, investigados pelas autoridades competentes. Outras companhias que prestam serviço semelhante, como as empresas que trabalham para federações e confederações, são privadas, colhendo dados diferentes, de outras fontes.
O rastreio da IBIA se dá a partir de movimentações estranhas em sites. Apostas acima do valor ou alto volume de palpites disparam um gatilho no algoritmo de monitoramento. Como o trabalho é direto com as casas, eles têm acesso aos IPs de onde partiram as apostas e também a identificação de cada usuário, o que facilita a busca e pode agilizar a investigação.
"Essa é uma diferença para os sistemas comerciais de monitoramento, que costumam ser mais direcionados em movimentos simples de probabilidades", explica Khalid Ali.
O serviço de monitoramento é considerado fundamental para a regulação das apostas esportivas do Brasil, um dos principais debates do momento em Brasília. Já houve conversas, e Khalid deverá retornar ao país para discutir o tema com o Congresso.
"Falamos bastante na questão das taxas, mas é fundamental abordar a integridade. Criar sistemas de educação para os agentes esportivos, como atletas e técnicos, especialmente ainda quando jovens. E também combater desinformações, como pessoas que prometem riqueza em um mês no mercado de apostas. Isso não existe", finaliza Khalid.
Estima-se que, por ano, as casas de apostas sejam lesadas em US$ 25 milhões (cerca de R$ 120 milhões) em manipulação de resultados.
Fonte: GZH