MIÉ 17 DE DICIEMBRE DE 2025 - 20:58hs.
Omissão do número 24 na seleção

Jogo do bicho deságua em conflito entre LGBTQIA+ e Seleção brasileira que chega até a FIFA

Grupo LGBTQIA+ vai à FIFA para questionar a omissão do número 24 na seleção. A entidade afirma que há uma violação das normas de direitos humanos e não-discriminação na escolha da seleção brasileira. No Brasil, o número 24 é usado como ofensa aos homossexuais por ser o número referente ao veado no jogo do bicho. O animal é associado pejorativamente aos homens gays. A CBF desmentiu que essa seja a razão da ausência do número e até o presidente Bolsonaro opinou sobre o tema.

O Brasil é a única seleção das 12 presentes na Copa América 2021 que não possui nenhum jogador com o número 24. Reportagem do UOL mostrou que a seleção brasileira é a única equipe da Copa América que não tem nenhum jogador inscrito com o número 24.

O documento afirma ainda que o preconceito está presente no futebol brasileiro e pede investigação por parte da FIFA:

“A seleção brasileira pula o número 24 em sua escalação, passando do número 23 (Ederson) para o número 25 (Douglas Luiz)”.

A princípio, o grupo solicitou um parecer por parte da CBF. A entidade, por sua vez, informou que a não utilização do número foi por opção dos atletas:

“…em razão de sua posição (meio campo) e por mera liberalidade, optou-se pelo número 25. Como poderia ter sido 24, 26, 27 ou 28, a depender da posição.”

Toda a questão com o número 24 se remete ao popular “jogo do bicho”, um jogo de azar bastante comum no país. Nele, 25 bichos são representados por números. O 24 é o veado, animal que é relacionado ao homem homossexual de forma pejorativa. 

Para o grupo LGBTQIA+, esse tipo de termo é considerado ofensivo. Este é o principal motivo pelo qual o grupo faz a reclamação. Pois acredita que a não utilização do número nos uniformes é devido a conotação histórica e cultural.

Inclusive o presidente Jair Bolsonaro criticou a determinação da Justiça para que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) explique a ausência do número 24 nas camisas usadas pelos jogadores da seleção brasileira nos jogos da Copa América.

“Olha, eu não uso o número 13. Estou aguardando ação da justiça. Tudo o que eu posso interferir na minha casa, no serviço não tem número 13. Vão querer me investigar?”, disse o presidente em live semanal, transmitida em suas páginas oficiais nas redes sociais.

A ação foi movida pelo Grupo Arco Íris de Cidadania LGBT. Além da questão envolvendo a camisa 24, a CBF terá que responder:

  • se a não inclusão do número 24 nos uniformes é uma política deliberada;
  • qual departamento da instituição é responsável pela deliberação dos números;
  • quais as pessoas e funcionários são responsáveis pela definição da numeração;
  • se existe alguma orientação da Fifa ou da Conmebol sobre o registro de atletas com a camisa 24.

No processo, o grupo afirma que “o fato da numeração da seleção brasileira pular o número 24, considerando a conotação histórico cultural que envolta esse número de associação aos gays, deve ser entendido como uma clara ofensa a comunidade LGBTI+ e como uma atitude homofóbica”. 

O juiz escreveu que a adoção da medida é importante dado a popularidade do futebol, “esporte que ainda se insere nessa tradição masculina”. 

“Da mesma forma, tem se mostrado cada vez com maior clareza o importante papel que a adoção de medidas afirmativas no âmbito das práticas esportivas exercem para o incremento dessa luta, com ênfase para aqueles esportes tradicionalmente considerados no universo masculino”, afirmou.

O magistrado também escreveu que a luta da comunidade LGBTQIA+ pelo fim da discriminação e com o reconhecimento do seu direito a uma convivência plena na sociedade é “amplamente conhecida”.

Fonte: GMB