MAR 23 DE ABRIL DE 2024 - 22:29hs.
OPINIÃO - ANGELO ALBERONI, FUNDADOR DO BETZILIAN.COM.BR

Cinco coisas sobre apostas esportivas no Brasil para os “novos” aventureiros

Angelo Alberoni, fundador da Betzilian e sócio e chefe de operações da VX Comunicação Portugal, visitou a iGB Lisboa, que terminou a semana passada. Nela teve painéis dedicados ao Brasil com especialistas do mercado local. Mas o que mais assustou e ao mesmo tempo empolgou Alberoni foi a falta de conhecimento sobre o verdadeiro Brasil por parte dos visitantes. Nesta coluna, ele pretende ajudar esses novos aventureiros com 5 coisas sobre apostas esportivas no Brasil.

Na última sexta-feira se encerrou iGB Lisboa, com a presença das maiores Operadoras mundiais e Painéis muito interessantes sobre o universo das apostas esportivas e afiliação. Para nós brasileiros, dois Painéis exclusivos, com especialistas sobre nosso mercado e que conhecem, de fato, nosso universo.

Até aí tudo bem.

Porém, o que me deixou um pouco assustado, mas ao mesmo tempo entusiasmado, foi a ausência de conhecimento sobre o verdadeiro Brasil por parte dos visitantes do iGB Lisboa. Assustado pelo fato de muitos ali terem o Brasil como próximo target e, mesmo assim, desconhecerem as peculiaridades brasileiras, tais como nosso famoso Boleto Bancário e as famosas Casas de Apostas físicas espalhadas pelo interior do país.

Entusiasmado do ponto de vista das oportunidades para os brasileiros que conhecem bastante do cenário nacional e terão um novo mercado de trabalho imenso nos próximos anos. Para ajudar um pouco esses novos aventureiros que tem o Novo Mundo como foco, vou atualizar nosso post 5 Coisas sobre Apostas Esportivas no Brasil.

Vamos lá!

01 – Regulamentação

Na última vez que publiquei o post sobre as 5 Coisas sobre Apostas Esportivas no Brasil, sequer existia a possibilidade de uma Lei que contivesse um artigo trazendo para a legalidade essa modalidade de jogo.

Pois bem, a Lei nº 13.756/18 trouxe não só para a legalidade em seu artigo 29 e seguintes, como também delegou o Poder de Regulamentar as apostas de quota fixa ao Ministério da Fazenda, o qual iniciou o trabalho pela sua Secretaria de Planejamento, Energia e Loteria.

Após a publicação de uma Consulta Pública e milhares de respostas, a Secretaria lançou uma Minuta de Decreto muito confusa, com artigos contrariando a Lei e novos tipos penais, sem falar em uma redistribuição dos valores arrecadados totalmente diverso do texto legal.

Diante desta confusão e após o apelo do Secretário para que nosso Poder Legislativo revisite não só a Lei n. 13.756/18, mas também outros diplomas legais que influenciam diretamente na regulamentação das apostas no Brasil.

Assim, em Opinião já lançada aqui e corroborada pelo meu amigo Pedro Trengrouse, parece que o Regulamento ficará para além da data previamente estipulada, qual seja, dezembro de 2019.

02 – Mercado paralelo

É verdade que o Brasil, ainda hoje, é um gray market. É verdade também que podemos classificá-lo como um mercado cinza claro, uma vez que já existem por aqui um sem número de Operadores a expor suas marcas de forma agressiva e que dificilmente serão obrigados a cessar suas atividades após a regulamentação.

Só que o Brasil tem um lado que não é tão claro assim. Esse é um dos pontos que mais causa espanto aos futuros investidores do Brasil: a existência de pontos físicos onde é possível realizar uma aposta e receber um recibo da transação. Simples assim, quase como comprar um pão na padaria da esquina. Parece piada, mas não é.

De fato, no interior do país e nos subúrbios dos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, é possível encontrar pequenas lojas onde é fácil apostar na Premier League ou no Brasileirão, com odds reais e em dinheiro vivo.

Isso vai acabar com a regulamentação? Deveria, mas não acredito que o Governo terá força suficiente para fiscalizar e bloquear este tipo de atividade.

Cabe aos Operadores, que deverão seguir as regras do jogo, cobrar do Estado a implementação de uma fiscalização severa e, com odds atrativas, plataformas intuitivas e muita educação, converter esses clientes para a legalidade.

03 – Os Bancos serão seus amigos

Boleto Bancário. Não tem carteira virtual, banco digital ou cartão de crédito. O brasileiro gosta mesmo é do bom e velho Boleto Bancário.

Com a ausência de regras para as apostas esportivas online no Brasil, muitas empresas de integração de pagamentos tiveram que cortar um dobrado para viabilizar os depósitos dos brasileiros às suas contas nas principais casas de apostas que atuam no país.

O Boleto Bancário já era utilizado em diversos mercados no Brasil. Daí sua adaptação para integralizar os depósitos nas operadoras de apostas foi algo natural para os brasileiros, mas um pouco irreal para os bookies em termos de Brasil. Para os novos entrantes é ainda uma novidade, quando não uma surpresa.

Com essa dificuldade em realizar um pagamento ou depósito em contas de apostas de brasileiros, o custo para utilização de uma empresa de integração de pagamento não é algo tão atrativo nos dias atuais, o que deverá mudar drasticamente quando tivermos o Regulamento publicado.

Os Bancos, poucos no Brasil, mas com uma influência gigantesca em todos os setores, deverão entrar nesta brincadeira, o que fará as taxas atualmente cobradas por empresas de integração de pagamentos caírem mais que pela metade. Vamos ver, mas os Bancos terão um papel importantíssimo em um futuro próximo em nosso mercado.

04 – Cachorro.bet

O Jogo do Bicho é algo cultural. Seja no Rio de Janeiro, Cidade de sua origem, em São Paulo ou na Bahia, o jogo do bicho é algo culturalmente aceito pelo brasileiro. Durante a década de 1980, o jogo do bicho era o grande financiador do futebol carioca, com times como Botafogo e Bangu sendo suas principais vitrines.

O Bangu, inclusive, chegou a ser vice-campeão brasileiro de 1985, quando Emil Pinheiro, seu Patrono e Presidente, transformou o tradicional clube da zona oeste do Rio de Janeiro em um timaço. Tudo com dinheiro do jogo do bicho.

O jogo do bicho irá acabar? Não. Será legalizado? Não sei.

Essa é outra variável que precisa ser muito bem trabalhada pelas novas Operadoras que pretendem entrar no Brasil, não só pela continuidade do jogo do bicho em si, mas pela possibilidade de seus “investidores” migrarem parte de suas atividades para as apostas esportivas, ao aproveitar a capilaridade de seus negócios e sua enorme clientela.

05 – Sem Cassinos ou Roletas

Muitas perguntas surgiram na iGB Lisboa sobre a possibilidade em ter os jogos de cassino tradicionais nos sites das apostas esportivas após a regulamentação. E a resposta para todas essas perguntas é: não. Pelo menos do jeito que se encontra a Lei.

Atualmente nas Casas Legislativas brasileiras existem várias discussões sobre a legalização ampla dos jogos de azar no país. Porém, a única modalidade, a exceção daquelas onde a Caixa Econômica Federal é monopolista e o turfe, que foi legalizada, mas ainda não regulamentada, é a aposta esportiva de quota fixa.

Assim, mesmo para aqueles que já possuem operações em curso no país, tão logo seja regulamentada a aposta esportiva de quota fixa, seus sites deverão sofrer algumas alterações e retirar de seus portfólios os chamados jogos tradicionais ou de cassinos, como roleta, dados e tantos outros.

Para aqueles que são os novos entrantes no país, se até a publicação do Regulamento não tivermos uma alteração na Lei que permita a inclusão dos jogos de cassino em sites de apostas esportivas, tenha em mente que o Brasil terá apenas as apostas esportivas de quota fixa como única modalidade de jogo online permitida no país.

Repito: a exceção de todos aqueles produtos oferecidos pela Caixa Econômica Federal e desconsideramos o pôquer neste contexto.

Claro, até lá tudo pode mudar.

– Em Roma, seja romano. Melhor, no Brasil, seja brasileiro e não sul-americano.

Além destes pontos, uma última dica muito importante: o brasileiro é brasileiro e ponto!

Não queira chamar o brasileiro de sul-americano ou latino-americano, pois por aqui nós temos identidade própria, um idioma completamente diferente de argentinos, uruguaios e colombianos. Sem falar que somos mais de 220 milhões de pessoas, com quase um aparelho de celular para cada habitante!!

Então, quando for montar uma operação para a LATAM, pense no Brasil como Brasil e não queira comparar, de forma simplória, com Colômbia, Porto Rico, Peru e muito menos Argentina.

Fica a dica.

Fonte: GMB / Angelo Alberoni – Betzilian.br