VIE 3 DE MAYO DE 2024 - 05:36hs.
Ricardo Magri, diretor de Desenvolvimento de Negócios-Sportradar

“Objetivo da audiência é fazer uma troca e evitar o risco de uma lei que não dê benefícios”

Em conversa exclusiva com o GMB, o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Sportradar na América Latina, Ricardo Magri, fala da importância do debate sobre apostas esportivas na Conafut, as expectativas para a audiência pública na Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados e se mostra otimista quanto à celeridade do processo de legalização dos jogos no Brasil. “Acho que existe chance de alguma modalidade sair em menos de um ano ou mesmo  dentro deste ano porque vejo a vontade política para isso acontecer”.

GMB - Qual a sua avaliação da Conafut? Acredita que o evento também se tornou um espaço relevante para o mercado de jogos do Brasil?
Ricardo Magri -
A Conafut está consolidada e me sinto feliz em estar envolvido com um evento que alcançou maturidade. Há duas edições a Sportradar apoia de alguma maneira a conferência, que atingiu um tamanho espetacular neste ano. É importante perceber que todas as áreas envolvidas com o futebol estão se interessando cada vez mais pelo tema e pelas possibilidades que esta indústria pode oferecer. Além de clubes e federações, estiveram presentes prestadores de serviços, pessoal de TV’s digitais, mercado de dados esportivos, empresas fortíssimas como Futstats e Nsports, representantes de direitos de imagem, ESPN, que é uma referência no mundo esportivo e apoiadora do evento. Estou há seis anos nesse segmento e encontrei com absolutamente todas as pessoas relevantes do meio.

Com relação ao painel sobre o Impacto das Apostas Esportivas no futebol brasileiro, o que você tem a dizer, já que foi um dos participantes?
Esse é um tema muito importante neste setor e sempre nos deparamos com ele até mesmo em outros painéis. No ano passado, por exemplo, o tema foi abordado num painel que participei sobre consumo digital da audiência, em que falei um pouco sobre o assunto, mesclando também com jogos de fantasy. Todos eles estão correlacionados e se complementam, já que a atividade é muito dinâmica. Neste ano foi mais importante ainda por ser um painel específico sobre isso e é muito saudável, pois o momento é de regulamentação. Ela está próxima e todos precisam entender os mecanismos que envolvem as apostas esportivas e como ela pode ser conduzida. O timing foi perfeito e abordado com muita competência neste painel. Foi mediado por Ari Aguiar, da ESPN, que mostrou entender bem do tema, que contou comigo, com um operador e um clube que já se beneficia desse ecossistema.

Durante a palestra você citou a importância de uma legislação absorver o jogo ilegal. Qual a importância disso e como fazer com que o Brasil consiga esse objetivo?
Apenas uma legislação que atraia os jogadores para as apostas legais será benéfica em um mercado regulamentado e fará com que o jogo ilegal seja absorvido pelo ambiente legalizado. Se você pesquisar as razões para o insucesso em alguns países, verá que não foi a atividade em si que não teve sucesso, mas a forma como foi conduzida. Muitos podem dizer que em Portugal não deu certo. Mas por que não deu certo? Uma das razões foram as alíquotas altas e a forma como o balanço financeiro com os sites de apostas foi tratado. Eles acabaram tendo de colocar preços mais altos em seus produtos para manter a lucratividade, muitas vezes comprometendo a própria competitividade no mercado.  Nos Estados Unidos em algumas jurisdições o processo está fluindo bem enquanto em outros, nem tanto, já que lá as legislações são estaduais. A Colômbia adotou um formato bastante interessante para todos os envolvidos. Por isso, sou firme ao dizer que a grande virtude da legalização é prestar atenção em todos os elos da corrente.

Você participará da audiência pública de amanhã na Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados, que discutirá as melhores práticas para a regulamentação das apostas esportivas. Qual a sua expectativa e o que pretende apresentar aos parlamentares?
Essa audiência é uma troca de conhecimento e uma forma de contribuir positivamente para o debate com os legisladores. É obvio que eles possuem em suas equipes pessoas que conhecem o jogo e a situação do setor em outros países, mas será uma audiência para a soma de experiências. Vou levar com muita propriedade a posição privilegiada da Sportradar, a principal fornecedora do mercado de jogos em todo o mundo Vamos falar sobre o funcionou e o que não funcionou para nossos clientes e onde tivemos de corrigir rumos. Estarei com mais três colaboradores que têm profundo conhecimento do mercado global de apostas. O pacote de informações que estamos levando, junto com outros players que foram convidados, é o principal. O motivo principal é esse: trocar informações para garantir que diversos pontos que já falamos em outros painéis menores ou encontros, sejam mais bem documentados e explicitados para que os envolvidos trabalhem em prol de uma lei que leve benefícios a todos os envolvidos.

Além da audiência, qual a sua opinião sobre os outros movimentos políticos para a legalização dos jogos no Brasil? Acredita que teremos a aprovação de algum projeto ainda no mandato desse governo?
Essa não é exatamente a minha especialidade, mas como estou acompanhando de perto alguns movimentos posso dizer que estou impressionado com a celeridade. Existem várias travas políticas e burocráticas no legislativo, por exemplo. Alguns projetos acabam não sendo vistos como prioritários e acabam ficando para depois e isso ocorre com os jogos e com as apostas esportivas. O legislativo irá priorizar, claro, temas como a previdência, mas acredito que depois que esse assunto siga seu rito, outros passarão a ser tratados com a atenção que merecem. O setor de jogos tem trabalhado bastante para mostrar sua importância para a economia e a indústria do turismo, por exemplo, já abraçou a causa dos cassinos por ser um forte gerador de riquezas para o Brasil.

O setor vê com bons olhos a forma como o mercado americano, por exemplo, adotou as apostas esportivas no âmbito dos cassinos. Hoje, um site de apostas estrangeiro não pode simplesmente chegar no mercado americano e se instalar. Deve se associar aos grandes cassinos para isso. No Brasil, as grandes corporações, como MGM e Caesars, por exemplo, ainda não estão presentes, mas estão trabalhando com afinco junto à indústria do turismo, para mostrar a importância da atividade. Acho bom que eles façam isso e que o Brasil tenha essa atividade regulamentada. Só não acredito que o legislativo irá tratar de todos os temas ao mesmo tempo. Acredito que primeiro deverá sair o que já está mais bem encaminhado, como as apostas online. Depois, as outras modalidades de jogos. Assim, acho que existe a chance de algo ser aprovado em menos de um ano ou até mesmo ainda neste ano, dependendo do ritmo dos temas tidos como prioritários.

Voltando a falar das apostas esportivas, qual seria o seu modelo preferido para a regulamentação da atividade? Na forma de concessões ou um modelo de monopólio?
O modelo tem de ser livre. Nós temos um mercado gigantesco e o Brasil, um enorme potencial. O país tem uma audiência incrível e uma vez que estivermos bem estruturados financeiramente e em infraestrutura – como todos com acesso a internet, por exemplo – dividiremos o pódio com países como Estados Unidos e China. Não podemos perder esse timing, essa prerrogativa para a indústria do jogo. O que eu quero dizer com isso é que, se fizermos tudo certo, teremos o número adequado de players, sem monopólio. Quem vai regularizar isso vai ser a vontade ou a capacidade de se trabalhar bem as licenças. Ou seja, em vez de restringir a 15 players, colocar uma barreira de entrada em que talvez quinze consigam superar e permitir que outros tenham de melhorar para ser o décimo sexto e daí em diante. Isso não quer dizer que você direcionou, você usou a régua para fazer naturalmente um filtro; porque não se pode correr o risco de deixar que depois de alguns anos de regulamentação, estejam aprovados cinco ou seis sites regulamentados. A Colômbia já chegou a 17 em um ano, o que é algo expressivo para um país de suas dimensões, com jogo regulamentado.

Acredita que o Ministério da Economia vai usar o tempo que lhe foi determinado para fazer a regulamentação das apostas esportivas ou vai precisar de mais um período para concluir o trabalho?
Acho que eles vão usar um conceito que a turma da nova geração digital conhece bem. Acho que vão liberar não um sistema beta, mas vão usar uma prerrogativa que Portugal usou e precisou, que foi ter dois anos para fazer os ajustes e consertos. Deu errado lá, mas, eles usaram esses dois anos para ajustes e tudo está melhorando. Vão lançar, provavelmente ainda neste ano ou início do próximo, como te falei, para irem ajustando e integrando mais coisas, como cassinos, bingos e outros tipos de jogos online. Acho que isso pode acontecer rapidamente e todos os envolvidos irão usar o período de dois anos para os ajustes e as correções de rumo. Esse é o tempo de praxe que mercados que regulamentam a atividade levam para consolidar a legislação.

Fonte: Exclusivo GMB