SÁB 11 DE MAYO DE 2024 - 18:22hs.
BgC Digital Experience – Painel sobre mercado local

Para entrar no Brasil, operadores devem considerar impostos, regulamentação e cultura

Para debater a adaptação do modelo de negócios de jogos ao mercado brasileiro, o BgC reuniu José Colagrossi, Diretor Executivo do Ibope Repucom, Jennifer Innes, Diretora Gerente da Bettingjobs.com, e Stuart Hunter, Diretor de Eventos da Clarion Gaming, que teve moderação de Thomas Carvalhaes, Gerente para o Brasil e América Latina da Hero Gaming. O painel analisou o crescimento dos eSports, a preocupação com a capacitação dos recursos humanos e a importância do networking, especialmente neste momento de afastamento social.

A primeira intervenção no painel foi de Jennifer Innes, Diretora Gerente da bettingjobs.com que afirmou que o núcleo de um negócio é ter a base de clientes no coração e que é extremamente importante para as empresas que buscam o mercado brasileiro entender a estratégica correta e produtos adequados. “Entrar em um mercado não é somente fazer uma avaliação financeira do investimento, que pode ser fácil, mas entender todo o processo e isso também envolve a questão de pessoal e dos produtos a serem ofertados”, avaliou.

 

 

José Colagrossi trouxe para o painel uma análise demográfica do jogador brasileiro. Para ele, atualmente os eSports é a vertical que mais tem crescido nos últimos dois anos no Brasil e que há muita energia nisso, com um grande número de patrocinadores, como bancos e companhias de seguros, que antes não se envolviam nesse segmento de mercado. "O perfil de fãs e jogadores é muito diverso com mais de 50% acima de 35 anos. E fazem isso pois foi como decidiram usar seu tempo livre”, afirmou. Segundo ele, entre 25% e 30% do público é composto por mulheres.

Essas pessoas possuem alta renda e educação, o que é ideal para os patrocinadores, que já destacaram o interesse por esse segmento por ser composto por pessoas que não assistem TV (aberta ou fechada) nem consumem mídias tradicionais. Os patrocinadores entendem que a melhor maneira de atingir essa parcela é por meio de apoio aos esportes eletrônicos”, explicou Colagrossi.

Questionado por Thomas Carvalhaes sobre o porquê de esse segmento da sociedade envolvida com esportes eletrônicos e apostas em eSports tem crescido tanto em comparação com esportes tradicionais, Colagrossi disse que a razão é porque a sociedade está caminhando em direção ao mundo digital. “Esta moda ganhou impulso após 2014, quando a sociedade passou a ser mais digital. Essas pessoas que estão sempre conectadas chamamos de onliners. Elas possuem três características principais que tornam os jogos de apostas e eletrônicos tão fascinantes para elas. Primeiro, porque elas gostam de estar na ação e quando você participa de um jogo de apostas ou quando está jogando um esporte eletrônico, você está na ação e não mais um espectador passivo”, disse.

 

 

Segundo ele a segunda característica é fazer o que se gosta quando e como quiser. “As pessoas digitais, a sociedade digital, gosta de estar no controle. Para elas, estar no controle é a chave. Elas não querem escutar o que fazer nem quando fazer. O esporte eletrônico é algo que você pode fazer quando tem vontade, ao contrário de ver um jogo que tem hora e dia para te parar. Esta sede pelo controle faz o esporte eletrônico ser muito atrativo porque você controla o que faz, quando faz e como está fazendo”, definiu Colagrossi. A terceira característica é estar conectado todo o tempo. “Quando você aposta, não o faz para ganhar dinheiro, mas para estar conectado com outras pessoas que estão apostando também”, explicou.

Carvalhaes questionou Stuart Hunter sobre como se pode alcançar desafios e crescer num momento de pandemia, tendo em vista que o mercado de jogos foi impactado pela Covid-19. O executivo da Clarion Gaming disse que o mundo dos eventos teve de pensar rapidamente uma nova maneira de oferecer encontros de qualidade e um dos exemplos é o BgC Digital Experience: “Realizamos um grande volume de eventos presenciais em todo o mundo e obviamente a ICE London é o mais importante deles e com a Covid-19 tivemos de pensar em como chegar aos clientes e como alcançar o público na ausência de eventos presenciais. Aqui neste encontro temos a oportunidade de oferecer aprendizado e networking e foi uma boa solução provisória até que voltemos a ter encontros presenciais”.

“Na Clarion Gaming temos inúmeras plataformas e marcas que cobrem toda a indústria de jogos e esta fonte de informações vem de um cenário ao vivo e não acho que existam muitas maneiras de replicar essa oportunidade presencial. Assim, estamos nos preparando para a próxima ICE London, que possui uma grande presença de profissionais da América Latina para retomar parte dessa oportunidade de contatos, visita aos estandes e interação. Mas enquanto isso não acontece, queremos focar em nossas opções digitais e oferecer conteúdo online aos nossos clientes. Tudo isso apoiará e reforçará nossas ações presenciais”, avaliou Hunter.

 

 

Voltando para Jennifer, Carvalhaes indagou-a sobre como tornar uma estratégia de negócios relevante, considerando a questão da tropicalização de um setor, avaliando talento e cultura locais e como devemos contratar manter ou até mesmo demitir profissionais. A executiva disse que é uma questão multifacetada e que tem testemunhado empresas se estabelecendo em diferentes lugares.

“Recentemente presenciamos empresas recuando e se voltando para o fato de que queriam pessoas baseadas no Brasil. Então, acho que é importante, quando recrutamos, não só considerar que você pode ter a melhor marca do mundo, mas é necessário ter o aspecto humano em conta. Ou seja, passar por um processo de recrutamento garantindo que você está cuidando do indivíduo é algo que temos de captar com cada cliente”, avaliou Innes. Segundo ela, com a regulamentação, haverá mais necessidade de talentos locais.

“Além disso, as regulamentações se expandiram por toda a Europa, com empresas de olho no mercado americano. Então como encontrar um talento? Através de empresas como a nossa atenta à visibilidade da marca e a um bom networking. Por meio de painéis emergentes, o acesso ao mercado e o acesso a talentos é o segredo do sucesso”, afirmou a executiva da bettingjobs.com.

 

 

Innes acredita que para entrar em um novo mercado, como o brasileiro, não basta traduzir um site. “Tenho visto muita pressa em alguns casos, por ações de investidores que são precipitados. Nossa meta é ajudar no recrutamento adequado de um talento com base na forma como o cliente se posiciona no mercado. Assim podemos articular uma oportunidade correta para os candidatos”, disse.

Colagrossi voltou a falar sobre questões de localização de um negócio, afirmando que “se você não personalizar seu plano de negócios, levando em consideração impostos, regulamentação e cultura, seu negócio irá fracassar. Vejo algumas empresas de eSports ou apostas entrando no Brasil com a visão de ‘vendedores’: como podemos gerar vendas? A atual falta de regulamentação faz com que tenham essa abordagem, mas isso é temporário. Se eles não entenderem a questão da própria regulamentação, impostos e a cultura, além do ambiente de negócios, suas chances de fracasso serão maiores do que as de sucesso”, definiu.

Fonte: Exclusivo GMB