JUE 18 DE ABRIL DE 2024 - 02:30hs.
Patrocínio

Caixa atrasa pagamento de pelo menos 20 clubes brasileiros e entidades olímpicas

A Caixa Econômica Federal não pagou as últimas parcelas, de 2019, dos contratos de patrocínio com dezenas de clubes pelo Brasil, entre eles Flamengo, Cruzeiro e Atlético-MG. Da mesma forma, também não quitou, até agora, a parcela de janeiro de ao menos parte dos patrocínios vigentes até 2020 com entidades como ligas e confederações de esportes olímpicos e paraolímpicos. O banco preferiu não se pronunciar publicamente sobre o assunto.

Nos primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Economia Paulo Guedes anunciou que a Caixa abandonaria a estratégia comercial de patrocinar clubes de futebol. Vigente desde 2012, o modelo patrocinou 25 clubes em 2018, a um custo de R$ 127 milhões. Outros R$ 48 milhões foram investidos em esportes olímpicos, o que corresponde a cerca de 25% da verba publicitária da Caixa.

Além disso, em dezembro, o TCU colocou uma série de dificuldades na renovação de patrocínios estatais e proibiu renovações por mais de cinco anos. A Caixa então passou a informar os clubes de que nem abriria conversas para novos contratos. Hoje, apenas Botafogo (até este mês) e Sport (até maio) têm acordos vigentes.

"Eles estão fazendo um pente-fino nos contratos, buscando pequenas cláusulas que nunca foram utilizadas, para arrastar o pagamento", explicou um dirigente, que não quer ser identificado. "Eles colocaram todas as dificuldades contratuais possíveis. Falta isso, falta aqui", comentou outro. As reclamações são praticamente as mesmas entre todos os clubes.

Ainda segundo dirigentes, Caixa admitiu informalmente para alguns clubes, ao ter seus argumentos rebatidos, que está segurando os pagamentos por uma "política de governo". Outros clubes foram informados pelo banco estatal de que não receberão o valor previsto em contrato. A Caixa até topa vir a pagar no futuro, mas um valor inferior, alegando não cumprimento de cláusulas contratuais.

Os contratos de patrocínio da Caixa têm modelo de prestação de serviço. A estatal paga um montante e em troca os clubes oferecem exposição, que precisa atingir um patamar mínimo. Essa exposição é auferida por pesquisa feita pela Ibope/Repucom. Há clubes que apresentaram relatório com exposição de mídia que equivale a 10 vezes o valor do contrato, ou mais.

Quem não recebeu

O não pagamento da última parcela do contrato foi revelada inicialmente pelo deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT), conselheiro do América-MG, que disse ao jornal mineiro O Tempo que os três grandes clubes de Minas estavam sem receber da Caixa. A reportagem do UOL Esporte conversou com dirigentes de todos os clubes que foram patrocinados pela estatal até dezembro e a maior parte deles confirmou os atrasos. O Santos diz que o pagamento está em dia, Bahia e Ponte Preta consideram que não há atraso (ainda que não tenham recebido) e o Botafogo não se encaixa. Só o Paraná não quis comentar.

Em Minas Gerais, o Atlético-MG tem a receber cerca R$ 3,3 milhões. O Cruzeiro, cerca de R$ 4 milhões (os dois clubes têm contratos idênticos, de R$ 10 milhões, mas o Cruzeiro teve uma bonificação de R$ 800 mil pelo título da Copa do Brasil). Dos R$ 4 milhões do contrato, o América-MG ainda é credor de R$ 1,2 milhão.

No Rio, o Vasco ainda precisa receber R$ 5 milhões da Caixa, relativos a 2017, mas o clube cruzmaltino tem uma situação peculiar: por ter ficado meses sem a Certidão Negativa de Débito (CND), passou meses sem receber recursos federais. O Flamengo também não recebeu cerca de R$ 5 milhões, 20% do contrato total.

Presidente do Fortaleza, Marcelo Paz diz que o clube já apresentou todas as contrapartidas previstas em contrato, mas que não recebeu o pagamento final. Avaí, Londrina, Criciúma, Paysandu, Sampaio Corrêa, CRB, Coritiba, Vitória, Sport, Atlético-GO, Vila Nova, Athletico, Avaí, Criciúma e Goiás também afirmam que não receberam, enquanto que o Bahia e Ponte Preta dizem que têm até o fim de fevereiro para receber e não consideram a situação atípica. O Santos diz que recebeu uma parte, uma "parcela fixa", enquanto o Botafogo, por ter contrato vigente, só receberá essa última parcela em março.

Entidades

Diferentemente dos clubes, que já encerraram a relação com a Caixa, entidades esportivas como as ligas de basquete masculino e feminino e as confederações de atletismo e ginástica, além do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) seguem com contratos vigentes até 2020. Alegando confidencialidade contratual, eles não comentam publicamente, mas ao menos parte deles também não recebeu a parcela prevista para janeiro.

Considerada "boa pagadora", a Caixa nunca havia atrasado o pagamento, confidenciou um dirigente à reportagem. Mas, em janeiro, o banco estatal reforçou os procedimentos burocráticos, de forma a justificar, juridicamente, o atraso no pagamento. O real motivo pelos atrasos, de acordo com duas fontes, porém, é uma determinação vinda da diretoria de marketing.

"Ele estão esperando a nomeação da nova diretora de marketing. O atual sabe que vai sair e não está autorizando nenhum pagamento. A nova diretora deve ter seu nome publicado agora, já era para ter sido semana passada, a gente acredita que assim que ela entrar e dar pé, ela pague tudo", comentou um dirigente.

Em nota, a Caixa não quis comentar o caso. "A Caixa informa que assuntos relativos aos patrocínios e seus desdobramentos são tratados diretamente com proponentes ou patrocinados", respondeu, sucintamente, o banco, ao ser procurado pela reportagem.

Fonte: GMB / Blog Olhar Olímpico