VIE 26 DE ABRIL DE 2024 - 09:49hs.
Kelly Mattos, presidente da Loterj

“O governo deve permitir nossa existência quando for aprovada uma lei ampla para os jogos”

Nesta entrevista exclusiva ao Games Magazine Brasil, Kelly Mattos, presidente da Loterj, fala da necessidade de o país regulamentar as atividades de jogos e deixar com os estados a fiscalização local das modalidades. Para ela, o investimento no social deve continuar sendo uma atribuição dos estados, “que conhecem de perto os problemas sociais”. Segundo ela, os bingos devem vir antes dos cassinos e a concessão da Lotex já naufragou.

GMB - Como se encontra a Loterj hoje, diante de tantas idas e vindas do setor de loterias no Brasil?
Kelly Mattos -
Atualmente estamos operando a loteria instantânea e a Múltipla Chance, duas modalidades que têm sido um sucesso no Rio de Janeiro. Além disso, lançamos recentemente o Tripla Chance, outra loteria de números, porém destinada ao sul fluminense, região que abrange 13 importantes cidades do nosso estado e que também precisa do aporte de verbas da Loterj para entidades assistenciais. Com relação à situação institucional da Loterj, estamos às voltas com duas ADPF’s – Ações de Descumprimento de Preceito Fundamental, uma da própria Loteria do Estado do Ri ode Janeiro e outra da Able. O governo federal, por meio de ações administrativas via Ministério da Economia, está proibindo as loterias estaduais de operar seus produtos lotéricos e não podemos deixar que isso aconteça. Eles acham que devemos voltar aos produtos do final dos anos 60, o que demonstra um retrocesso e um prejuízo enorme à sociedade fluminense. Não operamos com bilhetes há muito tempo, pois hoje os tempos são outros e a população adora os jogos que oferecemos: a raspadinha, o Tripla Chance e o Rio de Prêmios, modalidades que nos permitem continuar investindo no social.

A Loterj é favorável à abertura de todas as modalides de jogos, como se discute em Brasília?
Claro que somos a favor. Na época dos bingos, a Loterj fiscalizava e regulava uma atividade que garantia muitos investimentos no social. Então quanto mais recursos vierem para o Rio de Janeiro, mais verbas teremos para atender à função social da Loteria. Estamos trabalhando para isso om o objetivo também de fortalecer as loterias estaduais em operação e trazer para a ativa aquelas que tiverem de parar. Antes existiam 17 loterias estaduais e hoje, pela pressão do governo federal, apenas quatro operam: Loterj, Loteria do Ceará, Loteria de Minas e Loteria da Paraíba.

A Loterj está, então, liderando o mercado de loterias no Brasil?
Lideramos, até pela característica da população do Rio de Janeiro, que adora jogar. Em 2018, arrecadamos R$ 20 milhões, sendo que 70% desse total foi investido no social. Fazemos muito trabalho bonito, como creches, abrigos para a mulher, APAE’s, Pestalozzi. E todos os trabalhos desenvolvidos com essas entidades são fiscalizados com rigor para que todas as verbas sejam bem aplicadas.

Como sobreviver lutando contra um enorme leão que é o governo federal?
É complicado, mas como temos uma arrecadação boa e o público gosta dos nossos jogos, temos toda a disposição de seguir lutando. O governo deve permitir nossa existência quando for aprovada uma lei ampla para os jogos, pois não terá condições de fiscalizar sozinho tantas atividades, como bingos, cassinos, apostas esportivas, jogo do bicho e outras modalidades que vierem. Dando essa autonomia, teremos condições de fiscalizar de maneira mais efetiva e com o direcionamento correto dos investimentos em ações sociais.

O presidente da República já sinalizou que por ele deixaria a questão de os cassinos serem resolvidas pelos estados. Seria um alento para vocês, no Rio de Janeiro?
Para nós seria o melhor dos mundos. O jogo existe e continua na clandestinidade. Temos bingos em vários pontos do Rio de Janeiro e eles não são fiscalizados nem aportam recursos de impostos para serem aplicados no social. Com a regulamentação dos jogos e a fiscalização a cargo dos estados, poderemos ter uma atuação muito mais efetiva para garantir o cumprimento da lei com muito mais eficiência.

Deve ser muito ruim pra a Loterj, que sempre teve uma atuação marcante em parceria com os bingos na época em que a atividade era permitida ter de ficar, hoje, correndo atrás de salas ilegais, enxugando gelo, já que uma atividade não regulamentada vai continuar fazendo com que essas casas continuem operando na clandestinidade.
Muito ruim. Na época que os bingos existiam, chegamos a arrecadar mais de R$ 67 milhões num período de cinco anos. Imagine o quanto o social foi beneficiado no Rio de Janeiro. Não havia nada de irregular e a fiscalização era muito rigorosa, permitindo que realizássemos muito mais investimentos em obras sociais. O jogo deve ser voltado para esse tipo de destino.

Você defende a estadualização do jogo?
Sim... os estados têm muito mais condições de fiscalizar as atividades de jogos, por estarem muito mais próximos das suas comunidades e teria uma ação mais efetiva de destinação de recursos dos jogos em ações voltadas para as parcelas mais necessitadas da população.

Como o Rio de Janeiro está se posicionando em relação à abertura de cassinos no Brasil? Que regiões vocês pretendem que sejam destinadas a esse tipo de empreendimento?
Acredito que dê para fazer da mesma forma que foi na época dos bingos. Acho que demandaria muito tempo a implantação de um cassino dentro de um resort integrado. Já abrindo bingos o setor de jogos poderia a começar a se estruturar. É mais fácil partir do micro para o macro. Após os bingos serem abertos, dentro de regras claras, poderiam ser abertos cassinos urbanos, com mesas e máquinas e alguns mega-resorts, não só no Rio de Janeiro, mas também em outros estados brasileiros. Estes, iriam se integrar com a própria rede hoteleira. Os grandes resorts com cassinos seriam um atrativo a mais e não a maneira principal para a regulamentação dos cassinos no Brasil.

O jogo do bicho também deveria ser regulamentado?
Sou totalmente favorável a isso. O jogo do bicho existe desde 1892, ou seja, muito antes de existirem as loterias, ele já operava e sempre foi muito respeitado. Ninguém conhece uma pessoa que não tenha recebido o prêmio a partir de um papelzinho que serviu de apontamento da aposta. É muito melhor trazer para a legalidade, pois o jogo do bicho vai continuar existindo. Minha avó tem 94 anos e joga até hoje. Assim, é melhor legalizar pois será bom também para o Estado, que poderá aplicar o resultado do imposto do bicho no social.

Que avaliação você faz da concessão da Lotex?
Acho que esse processo já naufragou. Já fizeram tudo que poderiam ter feito para a concessão e nada aconteceu. Não houve o poder de convencimento adequado para que interessados entrassem na disputa. Operamos com a loteria instantânea e nosso produto sempre foi muito bom, com vendas excelentes e ótimo payout, o que não vejo com a Caixa Econômica Federal. Ela sempre deixou algo a desejar, apesar de ter uma excelente rede de vendas. Quando fomos proibidos de vender nossos produtos na rede deles, tivemos uma redução de 65% no nosso resultado. Mas ao mesmo tempo, nos abriu a possibilidade de abrir novos canais de distribuição, o que fez com que dobrássemos nossos pontos de vendas. Mas até hoje muitos lotéricos demonstram descontentamento com essa proibição, pois sabiam o quanto nossos jogos atraiam seus clientes. Se a Caixa não tem condições de fornecer a loteria instantânea, deveria permitir que as loterias estaduais o fizessem.

Fonte: Exclusivo Games Magazine Brasil