DOM 5 DE MAYO DE 2024 - 13:55hs.
Marco Taurisano, fundador da Gestão Lotérica

“Criação da Caixa Loterias é o maior passo para o mercado chegar ao patamar merecido”

Marco Taurisano, formado em Matemática e especializado em estatística, se dedica às Loterias desde 2010 e ministra palestras principalmente para esse setor, onde também atua sua empresa, a Gestão Lotérica, orientando questões operacionais e financeiras. Em entrevista ao GMB, ele fala sobre as ações da Caixa contra a COVID-19, a venda da LOTEX, apostas esportivas e afirma que a criação da Caixa Loterias fará com que o mercado cresça numa velocidade mais aceitável e eficiente.

GMB - Fale um pouco sobre a sua trajetória como especialista em loterias?
Marco Taurisano -
A minha paixão pelos números e meu espírito empreendedor me trouxeram até o mercado de loterias em meados de 2010, data esta em que comecei a estudar o mercado no Brasil e no Mundo e pude descobrir o quanto este mercado é interessante e extremamente subexplorado. Simultaneamente um mercado repleto de oportunidades.
Perante este cenário, me aprofundei nas informações disponíveis. Estudei muito os produtos e os dados ano a ano. Montei gráficos, criei métricas e comparei resultados, mercados e aprendi muito!
Juntei conhecimentos de produto, processo e mercado nacional e internacional, desenvolvi muitos projetos, algumas startups e também ministro palestras sobre o mercado de loterias no Brasil e no mundo para lotéricos e interessados no assunto.

Sobre sua empresa, a Gestão Lotérica, qual o seu ramo de trabalho, quais clientes atendem e com quais os projetos trabalham atualmente? O que mudou pra vocês com a pandemia e a quarentena da COVID-19?
Ao contrario do que uma boa parcela da população pensa, o mercado de loterias é um mercado de pequenas margens; e embasado principalmente nesta característica, em 2015, surgiu a Gestão Lotérica.
Como o próprio nome já diz, a Gestão Lotérica tem como produto principal aquele que realmente ajuda o lotérico a fazer 100% da gestão operacional e financeira da lotérica que, em linhas gerais é uma operação repleta de especificidades. Que me desculpem os adeptos ao caderninho, mas com muita informação posso afirmar que sem um sistema de gestão, a lotérica não consegue atingir sua eficiência e saúde financeira.
O COVID-19 impõe muitos desafios ao comércio e no mercado de loterias não é diferente. Mas, posso te afirmar que em loterias é um pouco piorado. Isso porque, historicamente a palavra inovação passa longe desse mercado.
Acredito muito que isso vai passar! Mas se o mercado de loterias não priorizar o fornecimento e entrega de facilidade e conveniência, principalmente nas mais de 13.000 lojas físicas espalhadas em mais de 5.000 municípios deste país, o impacto será significativo. Ficarão alguns bilhões de reais pelo caminho.
O COVID-19 não nos deixará de uma hora pra outra. Acredito muito que teremos uma nova realidade (nova economia) pra enfrentar que inevitavelmente passam pelo trem da inovação, facilidade e conveniência onde, quem não embarcar, pode não morrer, mas minimamente sofrerá muito.
E neste sentido nós da Gestão Lotérica, temos vários pequenos projetos que na verdade podemos juntá-los e chama-los de lotérica do futuro. Aguardem!

Aproveitando o embalo do assunto coronavírus, qual sua avaliação das medidas da Caixa para continuar a venda das loterias nesse período? O que poderia ter funcionado diferente?
Gostaria de começar esta resposta esclarecendo que, com base em algumas informações, reuniões e reestruturações, a alta cúpula da Caixa tem o meu crédito. Em outras palavras, vejo que desde que o Pedro Guimarães assumiu a presidência da CEF, vejo o profissionalismo em alta no banco. Uma realidade sem precedentes na história recente da instituição.
Na minha opinião, perante ao COVID-19 o banco tomou algumas atitudes importantes a favor da rede lotérica, como por exemplo, redução de taxa para empréstimos, suspensão dos sorteios da Loteria Federal e uma ajuda de custo de 15% da receita média por 90 dias. Por outro lado, entendo que ela fez pouco para manter a arrecadação/faturamento do mercado de loterias. A CEF poderia ter priorizado o jogo on-line (por dentro da rede física e não como é feito hoje), assim como, ter tratado a questão do Gateway de pagamento. Oportunidades estas que já estão dentro dela, precisam apenas de prioridade e envolvimento das pessoas certas, afinal estamos falando de alguns bilhões que anualmente ficam em cima da mesa.
Sei muito bem que nada se muda da noite para o dia, ainda mais se tratando de um mercado de R$17 Bilhões/ano (2019) e com potencial de ser 3x maior, ou seja, alcançar R$ 50 Bilhões/ano nos próximos 5 anos, e que ainda existe muito por fazer para usufruir de todo potencial deste mercado, mas a CEF precisa dar mais atenção para este mercado, como por exemplo, revitalizando de maneira eficiente seu portfólio de produtos, trabalhando por exemplo o quesito diversão dos seus produtos, fator este que é conduzido com excelência em mercados mais maduros mundo a fora.

Ainda falando sobre a Caixa e seus projetos, qual a sua avaliação da desvinculação das Loterias Caixa do banco, criando assim uma empresa voltada apenas para loterias? Esse é o passo correto?
Sim. Acho correto. Não acredito que o monopólio e/ou oligopólio de governo ou privados façam bem a nenhuma economia no mundo, independente do mercado em que ele atue. Partindo dessa premissa, acho que esta desvinculação talvez seja o fator mais importante para se chegar no patamar que o mercado de loterias merece e seja fundamental para absorver toda a demanda reprimida existente neste setor. Pois a Caixa Loterias terá foco de atuação. Em outras palavras e, somente como exemplo, as necessidades do mercado de loterias, sejam elas dos setores de TI, marketing, manutenção e gestão como um todo, não concorrerão com as demandas oriundas das agências, financiamento, seguros, etc.

Uma das conquistas da SECAP, a reguladora das loterias para o mercado, foi a quebra do monopólio do mercado com a venda da LOTEX. Qual a sua opinião sobre essa ação e o que ela pode trazer para o crescimento do mercado brasileiro?
Para o mercado é bom e certamente trará crescimento. Como já dito na resposta acima, sou contra a ideia de monopólio e acho que o consórcio adquirente da LOTEX sem dúvida é o que apresenta as melhores credenciais para exploração deste mercado. Sem dúvida foi vendido para os melhores do mundo. Afinal os atuais donos da LOTEX detêm 80% do mercado mundial desta modalidade.
Agora, considerando que a modalidade de Loterias Instantâneas representam 25% do mercado mundial de loterias, não posso dizer o mesmo quanto ao valor negociado e recebido pela CEF. Em números absolutos e num primeiro momento, US$1 Bilhão (parcelado) pode até ser significativo para alguns, mas acho que esta negociação tem grandes chances de ser vista como péssima num futuro próximo.

Sobre a regulamentação das apostas esportivas, que serão uma loteria de quota fixa, qual a sua avaliação como especialista?
Desconheço detalhes dessa mudança com cota fixa. Mas repito que sou super a favor de revitalização de produtos. Posso afirmar também que as loterias de prognósticos esportivos são injustificavelmente pouquíssimo exploradas no Brasil. Talvez as apostas de prognósticos esportivos sejam o meio que apresente o maior potencial de crescimento neste mercado. Para ter uma ideia, o Brasil foi o único país do mundo que sediou os 2 principais eventos esportivos do mundo, Copa 2014 e Olimpíadas 2016, cujo mercado de loterias não usufruiu nada.
Ainda falando sobre revitalização de produtos, gostaria de citar dois cases, na verdade os grandes players deste setor, ou seja, Euromillions e PowerBall, referências mundiais que nasceram em 2004 e 1992 respectivamente, já sofreram muitas revitalizações até chegarem no que são atualmente. E ainda digo mais, não tenho dúvida alguma que só se tornaram fenômenos mundiais por conta dessas reformulações.

Abrindo o leque para outros modais de jogos, qual a sua posição quanto a legalização dos cassinos, bingos, jogo do bicho que está em discussão no Congresso? No que um mercado de jogo completo e legalizado pode ajudar as loterias a crescerem ainda mais no Brasil?
Não vejo como algo ruim. Sou especialista no mercado de loterias e não me sinto confortável em te dizer tamanho e/ou potencial deles por aqui, mas, na minha visão, conceitualmente a legalização por si só traz benefícios à economia que incluem governantes e sociedade. Da maneira certa pode ser muito bom para o Brasil.
Apesar de grande parte da sociedade não entender ou não saber, loterias e cassinos são mercados distintos (Lottery e Gambling). O mercado de loterias não concorre com o de cassino ou bingos. Se fossem legalizados hoje, não acredito em grandes impactos na atividade.

Finalizando e levando em consideração os pontos levantados, qual o seu panorama final sobre o mercado de loterias e quais expectativas tem para o futuro em um curto prazo?
De forma resumida posso dizer que acredito muito no crescimento do mercado de loterias no Brasil. A curto prazo, acho que retomar o mesmo patamar de arrecadação antes do COVID-19, é possível, mas será bem difícil e se ocorrer terá que ser comemorado como crescimento de 2 dígitos percentuais.
Muito do meu crédito está relacionado ao grande potencial existente neste mercado, aliado a credibilidade que atribuo ao notório profissionalismo que vejo no comando da CEF, mais especificamente diretores, superintendentes, vice-presidentes e presidente.
Vejo as coisas indo pelo caminho certo, mais lento do que o mercado precisa, é verdade, mas temos que reconhecer que comandar uma empresa da envergadura da CEF é como manobrar um transatlântico, ou seja, não dá para dar um "cavalo de pau".
Torço muito para que a independência da Caixa Loterias seja declarada logo, pois tenho certeza que o foco fará com que as respostas para o mercado, assim como, o crescimento ocorram numa velocidade mais aceitável e mais eficiente.

Fonte: Exclusivo GMB