VIE 26 DE ABRIL DE 2024 - 20:40hs.
Encontro virtual em defensa do banco estatal

Ex-presidentes da Caixa divulgam carta aberta contra a venda da área de loterias e outras

A importância da Caixa Econômica Federal e a defesa de sua função como banco público foram mais uma vez evidenciadas nesta terça-feira (26). Seis ex-presidentes da instituição, que estiveram à frente da Caixa entre as décadas de 1990 e 2010, participaram do encontro virtual que teve como pauta central o futuro e a defesa do banco centenário. Eles divulgaram uma carta aberta em que se opõem à MP 995 que habilita a venda de ativos das áreas de loterias, seguridade e outras.

Promovido pela gestão de Rita Serrano, representante dos empregados da instituição no Conselho de Administração da Caixa, o debate integrou a série O X da Questão, criado pela conselheira para abordar questões relativas ao banco e seus trabalhadores.

Os ex-presidentes da Caixa Danilo de Castro (1992/1994), Jorge Mattoso (2003/2006), Maria Fernanda Coelho (2006/2011), Jorge Hereda (2011/2015), Miriam Belchior (2015/2016) e Gilberto Occhi (2016/2018) falaram sobre a importância do banco público. Participaram da live em defesa da Caixa, representantes dos empregados, como Anna Claudia de Vasconcellos, pela Advocef (advogados da Caixa), e Sérgio Takemoto, presidente da Fenae.

Durante o encontro foi divulgada carta aberta assinada pelos seis ex-presidentes em defesa da instituição pública. Uma das mais longevas instituições do país, a Caixa completou 159 anos em janeiro passado.

Não à privatização

A carta aberta lembra ainda a atuação fundamental da Caixa nesses tempos de pandemia do novo coronavírus. O banco público está sendo responsável pelo atendimento a milhões de brasileiros que buscam recursos do auxílio emergencial, pagamento do FGTS e PIS. E quebrando paradigmas, já que, em tempo recorde, tornou-se “o maior banco digital do Brasil, com a abertura de mais de 90 milhões de contas digitais”, destaca a carta aberta.

Apesar de a Caixa estar entre as empresas que os brasileiros não querem ver privatizadas, de acordo com pesquisas de opinião, uma medida do governo de Jair Bolsonaro, a MP 995, tenta facilitar a venda do banco a partir da criação de subsidiárias.

 

 

Leia a íntegra da carta:

Carta aberta dos ex-presidentes em prol da Caixa pública, íntegra e sustentável
 
A Caixa é uma das instituições mais importantes do mundo, com destaque para a gestão de políticas públicas, e sua consolidação tem sido um processo inovador e ousado. A Caixa nasceu mexendo com o sonho dos brasileiros: o sonho de ser livre, com a poupança para a compra da alforria pelas pessoas escravizadas; o desejo dos pais em garantir um bom futuro para os filhos; o sonho da casa própria, com o crédito; a possibilidade de acesso a bens e serviços. Enfim, o sonho da melhoria de vida, da ascensão social, de um futuro melhor.
 
A instituição centenária passou por diversos governos. Em alguns, por pouco não sucumbiu à privatização, como na década de 1990, quando praticamente todos os bancos estaduais e diversas outras empresas públicas foram vendidos. E consolidou-se, nas últimas décadas, como maior gerenciadora de programas sociais do País.
 
Neste ano, quando estava em andamento processo para privatizar suas principais operações comerciais, surgiu a pandemia da covid-19 e, mais uma vez, a Caixa foi desafiada. Atendeu em tempo recorde metade da população brasileira, algo em torno de 121 milhões; ou seja, 8 entre 10 adultos passaram pelo banco para receber benefícios emergenciais, criados para minimizar os efeitos da crise sanitária e econômica, além do PIS e FGTS. Quebrou paradigmas e se tornou o maior banco digital do Brasil, com a abertura de mais de 90 milhões de contas digitais.
 
Contra a MP 995
 
Muito embora a instituição tenha fortalecido sua imagem e atuação – fato comprovado por diversas pesquisas de opinião que mostram o reconhecimento da população à marca e a rejeição à privatização – o projeto de venda de seus ativos está mantido, tendo sido anunciado o IPO da Caixa Seguridade. A pretensão do governo é fazer o mesmo nas áreas de cartões, loterias, títulos e valores imobiliários e banco digital. E para legalizar e agilizar esse processo enviou ao Congresso a Medida Provisória 995.
 
Como ex-presidentes da Caixa e atentos à atual crise sanitária, econômica e política pela qual passa o Brasil, entendemos que o papel do Estado nesse cenário é central na administração de políticas nacionais eficazes e na supervisão dos mercados financeiros e, para cumprir tal função, a atuação de bancos públicos é fundamental. Os investimentos estatais são fatores de estabilização econômica, do nível de emprego e da renda, na medida em que, por não obedecerem apenas à lógica de mercado, asseguram um mínimo de expansão da demanda agregada, atuando como instrumento de políticas anticíclicas.
 
Portanto, uma Caixa pública, íntegra e sustentável deve ser premissa para qualquer ação governamental que vise superar o atual momento do País. Seu fortalecimento garantirá às futuras gerações a segurança de continuar contando com uma empresa pública presente em todo território nacional, participando de políticas sociais de combate à pobreza e à desigualdade e capaz de contribuir para a superação da grave crise que ora vivemos no Brasil.
 
Com essa convicção, firmamos o presente documento.
 
25 de agosto de 2020
 
Assinam os ex-presidentes da Caixa

Danilo de Castro (1992/1994)
Jorge Mattoso (2003/2006)
Maria Fernanda Coelho (2006/2011)
Jorge Hereda (2011/2015)
Miriam Belchior (2015/2016)
Gilberto Occhi (2016/2018)

Fonte: GMB