Em Portugal são sete os operadores de jogos de apostas online licenciados no mercado nacional, além da alternativa Placard, propriedade dos Jogos Santa Casa. E, em todas elas, a resposta é a mesma: as apostas caíram a pique, acompanhando a suspensão, a conta-gotas, de todos os campeonatos e modalidades possíveis de serem aposta, e se nas primeiras semanas o decréscimo chegou aos 70%, o mês de abril está a trazer um impacto avassalador: 100%.
“A previsão das perdas será mesmo de 100% nos próximos meses. Investidores e operadores de outros países divulgaram já projeções semelhantes, como é o caso da Brokerage sueco Redeye. O que é lógico, se olharmos para o enorme número de eventos já cancelados ou adiados”, revela Alexandre Barata, da Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online (APAJO), entidade fundada em 2018, que representa os sete operadores de jogos de apostas online em Portugal e que tem como principal objetivo acompanhar o mercado regulado, avaliando o seu funcionamento, apoiando o regulador nas alterações legislativas e trabalhando constantemente em instrumentos de proteção do consumidor ao nível das boas práticas.
Ainda em março, no dia em que foi decretado o Estado de Emergência em Portugal, o presidente da APAJO, Gabino Oliveira, avançava com as primeiras previsões: “No presente mês de março os nossos associados estimam uma perda de receitas em apostas esportivas na ordem dos 70 a 75% e, a partir do próximo mês, antecipam que se agrave para perto de 100%, devido à ausência de ofertas de desportos e competições”.
Números que são confirmados pela Betclic, a líder de mercado nas apostas esportivas online em Portugal. “É difícil fazer, para já, uma primeira contabilidade da perda em termos financeiros, sem sabermos se e quando as competições esportivas vão voltar, porque é aí que está o grosso da nossa atividade. Não obstante, em março podemos afirmar que verificámos um decréscimo nas apostas esportivas na ordem dos 70 a 75%. Em abril prevemos que o impacto deva ser entre os 90, porque ainda existem competições que não foram canceladas, ou mesmo os 100%”, explica para A BOLA Miguel Domingues, communication manager da Betclic.
Também Rui Trombinhas, da Betano, uma das casas de apostas mais recentes, principal patrocinadora do SC Braga, revela que a “situação está a evoluir muito rapidamente” e que a Betano vai reagindo. Contudo, “ainda é muito cedo para avaliar um impacto” para aquela casa de apostas online.
“Acabamos por não sentir um aumento significativo do número de utilizadores porque, entendendo que a conjuntura iria ser complicada para as famílias, reduzimos o investimento na aquisição de novos clientes”, explica Miguel Domingues, descartando que a vertente de cassino seja uma solução em termos financeiros para as casas de apostas: “O cassino é um produto com peso inferior nas nossas receitas. Para já não sentimos grande impacto nas receitas de cassino e antecipamos que possa mesmo haver uma contração devido à alteração da situação econômica das famílias e a incerteza já espelhada no indicador de confiança dos consumidores”.
Esperando o apoio do Estado, encerramento de portas está em cima da mesa
Face aos números atuais em termos de perdas, é elementar colocar em causa, neste momento, a sobrevivência das casas de apostas esportivas online que operam em Portugal. ”Assegurar a viabilidade econômica e a manutenção dos postos de trabalho das empresas deste novo setor em Portugal, que tem menos de quatro anos de existência, vai depender da proatividade de todos os envolvidos, desde o Governo ao regulador e aos operadores, para encontrarmos soluções adequadas neste momento difícil”, refere Gabino Oliveira, presidente da APAJO, recordando que Portugal já aprovou um pacote de três mil milhões de euros para sustentar a economia portuguesa, incluindo o turismo.
“Como é sabido, o setor do jogo é parte integrante do setor do turismo e emprega muitas centenas de pessoas, pelo que é indispensável clarificar que medidas excepcionais e estruturais podem ser tomadas para minimizar os impactos nesta atividade”, acrescenta o presidente da APAJO.
A Betclic, principal casa de apostas, salienta que já “foi solicitado ao regulador que abrisse apostas em competições” que ainda não existiam em Portugal, e agradece “que os pedidos tenham tido deferimento”, acrescentando que “durante esta fase, sendo sensível à conjuntura das famílias, irá reduzir o investimento publicitário”.
O cenário da Betdic fechar portas em Portugal está, para já, posto de parte. “Neste momento estamos na expectativa que a normalidade seja reposta dentro de alguns meses. Caso a conjuntura atual se mantenha durante o segundo semestre de 2020, então nessa altura teremos de reavaliar e ajustar a nossa estrutura de custos”, assume a líder do mercado.
“Não há manuais que nos ensinem a lidar com este tipo de conjuntura. Estamos serenamente a avaliar a situação, semana a semana, e faremos ajustes sempre que acharmos necessário. Resta-nos esperar que a vida no mundo volte à sua normalidade, com o menos número de fatalidades possível”, explica Miguel Domingues, da Betclic.
Fonte: A Bola