SÁB 18 DE MAYO DE 2024 - 16:19hs.
Caída dos sites já supera o 70%

As casas de apostas esportivas em Portugal vivem horas dramáticas e pedem apoio do Estado

A pandemia de COVID-19 parou o mundo, com ele o esporte e, por consequência, o mercado das apostas esportivas. Em Portugal, onde a segmentação passou a ser regulada, se nas primeiras semanas o decréscimo dos sites chegou aos 70%, o mês de abril está trazendo um impacto avassalador: 100%. Betclic avança perda de 90% de receitas e Betano está avaliando as consequências. Esperando o apoio do Estado, o encerramento de portas pode estar em cima da mesa.

Em Portugal são sete os operadores de jogos de apostas online licenciados no mercado nacional, além da alternativa Placard, propriedade dos Jogos Santa Casa. E, em todas elas, a resposta é a mesma: as apostas caíram a pique, acompanhando a suspensão, a conta-gotas, de todos os campeonatos e modalidades possíveis de serem aposta, e se nas primeiras semanas o decréscimo chegou aos 70%, o mês de abril está a trazer um impacto avassalador: 100%.

“A previsão das perdas será mesmo de 100% nos próximos meses. Investidores e operadores de outros países divulgaram já projeções semelhantes, como é o caso da Brokerage sueco Redeye. O que é lógico, se olharmos para o enorme número de eventos já cancelados ou adiados”, revela Alexandre Barata, da Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online (APAJO), entidade fundada em 2018, que representa os sete operadores de jogos de apostas online em Portugal e que tem como principal objetivo acompanhar o mercado regulado, avaliando o seu funcionamento, apoiando o regulador nas alterações legislativas e trabalhando constantemente em instrumentos de proteção do consumidor ao nível das boas práticas.

Ainda em março, no dia em que foi decretado o Estado de Emergência em Portugal, o presidente da APAJO, Gabino Oliveira, avançava com as primeiras previsões: “No presente mês de março os nossos associados estimam uma perda de receitas em apostas esportivas na ordem dos 70 a 75% e, a partir do próximo mês, antecipam que se agrave para perto de 100%, devido à ausência de ofertas de desportos e competições”.

Números que são confirmados pela Betclic, a líder de mercado nas apostas esportivas online em Portugal. “É difícil fazer, para já, uma primeira contabilidade da perda em termos financeiros, sem sabermos se e quando as competições esportivas vão voltar, porque é aí que está o grosso da nossa atividade. Não obstante, em março podemos afirmar que verificámos um decréscimo nas apostas esportivas na ordem dos 70 a 75%. Em abril prevemos que o impacto deva ser entre os 90, porque ainda existem competições que não foram canceladas, ou mesmo os 100%”, explica para A BOLA Miguel Domingues, communication manager da Betclic.

Também Rui Trombinhas, da Betano, uma das casas de apostas mais recentes, principal patrocinadora do SC Braga, revela que a “situação está a evoluir muito rapidamente” e que a Betano vai reagindo. Contudo, “ainda é muito cedo para avaliar um impacto” para aquela casa de apostas online.

“Acabamos por não sentir um aumento significativo do número de utilizadores porque, entendendo que a conjuntura iria ser complicada para as famílias, reduzimos o investimento na aquisição de novos clientes”, explica Miguel Domingues, descartando que a vertente de cassino seja uma solução em termos financeiros para as casas de apostas: “O cassino é um produto com peso inferior nas nossas receitas. Para já não sentimos grande impacto nas receitas de cassino e antecipamos que possa mesmo haver uma contração devido à alteração da situação econômica das famílias e a incerteza já espelhada no indicador de confiança dos consumidores”.

Esperando o apoio do Estado, encerramento de portas está em cima da mesa

Face aos números atuais em termos de perdas, é elementar colocar em causa, neste momento, a sobrevivência das casas de apostas esportivas online que operam em Portugal. ”Assegurar a viabilidade econômica e a manutenção dos postos de trabalho das empresas deste novo setor em Portugal, que tem menos de quatro anos de existência, vai depender da proatividade de todos os envolvidos, desde o Governo ao regulador e aos operadores, para encontrarmos soluções adequadas neste momento difícil”, refere Gabino Oliveira, presidente da APAJO, recordando que Portugal já aprovou um pacote de três mil milhões de euros para sustentar a economia portuguesa, incluindo o turismo.

“Como é sabido, o setor do jogo é parte integrante do setor do turismo e emprega muitas centenas de pessoas, pelo que é indispensável clarificar que medidas excepcionais e estruturais podem ser tomadas para minimizar os impactos nesta atividade”, acrescenta o presidente da APAJO.

A Betclic, principal casa de apostas, salienta que já “foi solicitado ao regulador que abrisse apostas em competições” que ainda não existiam em Portugal, e agradece “que os pedidos tenham tido deferimento”, acrescentando que “durante esta fase, sendo sensível à conjuntura das famílias, irá reduzir o investimento publicitário”.

O cenário da Betdic fechar portas em Portugal está, para já, posto de parte. “Neste momento estamos na expectativa que a normalidade seja reposta dentro de alguns meses. Caso a conjuntura atual se mantenha durante o segundo semestre de 2020, então nessa altura teremos de reavaliar e ajustar a nossa estrutura de custos”, assume a líder do mercado.

“Não há manuais que nos ensinem a lidar com este tipo de conjuntura. Estamos serenamente a avaliar a situação, semana a semana, e faremos ajustes sempre que acharmos necessário. Resta-nos esperar que a vida no mundo volte à sua normalidade, com o menos número de fatalidades possível”, explica Miguel Domingues, da Betclic.

Fonte: A Bola